*Rangel Alves da Costa
Em determinados períodos do ano os bichos, principalmente insetos, costumam fazer seus festins. Há mosca o ano inteiro, há grilo o tempo inteiro, há inseto a cada instante, mas de vez em quando cada um resolve deixar a vida do ser humano insuportável.
As moscas aparecem aos montões nas proximidades da semana santa. Mesmo antes que os restos dos peixes sirvam como atrativos, o mosqueiro é tamanho que mais parece que o mundo humano vai se tornar em mundo de moscas. Igualmente nas proximidades dos tempos mais chuvosos, de trovoadas ou invernadas, quando insetos com asas passam a tomar conta de todos os espaços, principalmente ao redor de luzes acesas.
Os sapos, mesmo de outra espécie animal, também se avolumam depois das chuvas, ganham as ruas, entram nas residências, criam um enojamento terrível. As muriçocas também escolhem estações para surgirem em tropas, em batalhões, em imensas e ameaçadoras quantidades. E agora é a hora e a vez dos grilos.
Como bem postou o amigo Alisson Lucas no facebook, “esses grilos em Poço Redondo estão iguais à corrupção no Brasil, não têm limites. Se tirar as asas eles pulam, se tirar as pernas eles voam. Indestrutíveis”. A mais pura verdade. Estão por todos os lugares, muito mais à noite, porém avistados também a qualquer hora do dia, já prontos para alçar voo, dar rasantes, importunar a vida de todo mundo.
Os grilos, insetos da família dos gafanhotos, são comuns em todas as regiões brasileiras. Nas fazendas, matas e lugares mais afastados, é muito comum se ouvir o seu ruído escondido, constante. Aparecem também nas cidades, principalmente nas casas de paredes de barro. Mas agora estão em profusão por todo lugar.
Comumente se diz que mesmo tendo asas os grilos não voam. Ora, voam sim. Voam e dão rasantes, arremetem em fúria em direção às pessoas, entram pelos cabelos, pelas roupas, debaixo das saias, causam um problema danado. Outro dia, em Poço Redondo, eu conversava com uma mulher quando esta repentinamente pareceu possuída.
E estava possuída sim, mas de um grilo que de repente entrou por debaixo de suas saias e causou um rebuliço danado. De início, a mulher enrubesceu, tremeu, remexeu as pernas, quis dar pulinhos. Em seguida se apavorou, pulou, quis levantar a saia, e enfim correu em direção à primeira porta que encontrou.
Sem saber de nada, sem imaginar que se tratava de um grilo açoitando entre as pernas da mulher, apenas estranhei aquela situação. Quando ela correu desembestada, com as pernas meio abertas, até pensei que uma vontade incontrolável de urinar havia causado aquela cena toda. Fiquei esperando resposta para o ocorrido.
Não demorou e já voltou sorridente. Foi um grilo, disse. E ajuntou: Foi um grilo que não tinha o que fazer e entrou bem debaixo de minha saia. Dada a explicação, continuamos a conversa, o que não demorou muito, pois logo ela correu novamente, mas não sem antes dizer: Dois, agora são dois.
E não é raro que pelas ruas a gente imagine que as pessoas estão endoidando. Pessoas balançando a cabeça, desgrenhando os cabelos, só faltando arrancar tudo. Pessoas pulando, querendo tirar as roupas no meio da rua. Pessoas mantendo a boca fechada por medo de engolir grilos. E engole mesmo. Teve um que não só engoliu como teve de passar a noite toda ouvido o cricricri do grilo na barriga.
Assim a vida perante a presença desses grilos insuportáveis. A acreditar na crença dizendo que os grilos trazem boa sorte, não há lugar mais afortunado que Poço Redondo. Contudo, não parece ser essa a realidade. Ainda sábado encontrei aquela mesma mulher toda vestida de macacão e com touca envolvendo todo o cabelo. E com um pedaço de pau de mais de metro à mão. Nem perguntei o motivo daquilo tudo.
Escritor
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