Por Liduíno de Brito
Meus senhores e minhas senhoras, presentes nessa sessão solene em comemoração aos trinta anos da primeira publicação do livro IMPÉRIO DO BACAMARTE, do escritor, historiador e professor Joaryvar Macedo, por iniciativa da Fundação Sintaf, permitam-me duas observações: A primeira – apresentar nossa Fundação Sintaf: A Fundação Sintaf de Ensino, Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, Científico e Cultural é uma instituição de ensino e pesquisa constituída pelo Sindicato dos Fazendários do Ceará (Sintaf). A instituição desenvolve ações estratégicas de cunho técnico, científico e cultural junto ao setor privado, a outras organizações do terceiro setor e à administração pública, no intuito de promover o aperfeiçoamento profissional dos diversos agentes sociais, assim como aprimorar, na plenitude, o desenvolvimento intelectual e humano. Uma Fundação se caracteriza pela destinação de seu patrimônio, e seu maior legado é poder transferir esse patrimônio em benefício da sociedade, o que significa assegurar, às gerações futuras, o seu conhecimento intelectual. A Fundação Sintaf busca possibilitar que a cultura da atual geração de servidores da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará esteja a serviço da população cearense.
A segunda – porque dessa homenagem ao professor Joaryvar de Macedo: A História do Brasil passa pela História do Ceará e a História do Ceará passa inexoravelmente pela História do Cariri. Quem desconhece a Revolução de 1817, a Confederação do Equador de 1824, desconhece o protagonismo dos filhos do Cariri; não conhece a historiografia cearense e, consequentemente, a brasileira.
Conforme acentua nosso insigne homenageado “no território cearense, as lutas e revoluções libertárias e independentistas de 1817 a 1824 partiram do extremo sul. Uma efêmera república deveu-se aos Alencares, tendo à frente a figura de dona Bárbara Pereira de Alencar. ” E como a concordar com a nossa assertiva, arremata brilhantemente: “O Cariri, berço da liberdade em terra cearenses, influiu, decisivamente, nos destinos não apenas do Ceará. Dali partiu o bravo José Pereira Filgueiras, rumo à Capital, solidificando-se nossa independência. Posteriormente, a marcha guerreira e os feitos heroicos de sua expedição conquistaram a emancipação do Maranhão e a consolidação da independência no Piauí. ”
Assim como “Capítulos da História Colonial”, de João Capistrano Honório de Abreu, lhe confirma a superioridade como historiador, “Império do Bacamarte – uma abordagem sobre o coronelismo no Cariri cearense” desponta como a obra prima da historiografia cearense pelo seu poder de síntese, consagrando Joaquim Lobo de Macedo, o mestre Joaryvar Macedo(como ele gostava de ser chamado)!
José Murilo de Carvalho, no prefácio à sétima edição do livro de Victor Nunes Leal – “Coronelismo, Enxada e Voto – o município e o regime representativo no Brasil” (1948) – afirma que, a maior preocupação desse autor, ao publicar na revista do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) o artigo “O coronelismo e o coronelismo de cada um” era fazer com que seu conceito de coronelismo fosse compreendido.
“De fato, a maioria dos autores que empregaram o conceito usado por ele, sem distinção entre críticos e admiradores, identificava coronelismo com mandonismo local. Era o caso do crítico Eul-Soo Pang e do admirador Barbosa Lima Sobrinho, que por insistência do autor escreveu o prefácio à segunda edição do livro feita pela Alpha Ômega em 1975. ”
Para Victor Nunes, o conceito de coronelismo incorporava, sim, traços de mandonismo local, mas era mais que isso: fazia parte de um sistema, de uma trama que ligava coronéis (mandões), governadores e presidente da República. Para ele (Victor Nunes) o coronel entrou em sua análise por ser parte desse sistema, dessa estrutura e suas relações de poder desenvolvidas na Primeira República, a partir do município. A partir da publicação de IMPÉRIO DO BACAMARTE, em 1990, esse conceito torna-se cristalino. Segundo Joaryvar Macedo “no Cariri, a autocracia, base da autoridade sociopolítica dos coronéis, atingiu todas as esferas de poder. Agiam eles quais árbitros supremos sobre tudo e sobre todos. Indicavam nomes ao governo para o preenchimento dos cargos e exigiam demissão de juiz, promotor e delegado, sendo prontamente atendidos. ”
Por sua abordagem, pela análise sistêmica empreendida sobre o coronelismo no centro sul do Ceará, “onde se narram fatos mais expressivos ou mais característicos daquela tumultuada quadra da História do Cariri”, conforme afirma Melquíades Pinto Paiva, no livro Uma Matriarca do Sertão: Fideralina Augusto Lima (1832/1919), Joaryvar Macedo é o “maior escritor de todos que voltaram suas vistas para o passado de nossa terra comum, a cidade/município de Lavras da Mangabeira!”
Por fim, aproveitamos o ensejo para agradecer ao Deputado Evandro Leitão a possibilidade dessa sessão solene; ao Sindicato dos Fazendários do Ceará, através de seus diretores Remo César Moura, Carlos Brasil Gouveia, Luiz Carlos Diógenes e Nilson Fernandes o apoio integral a essa iniciativa; aos jornalistas Patrícia Guabiraba e Tarcísio Matos pelas palavras de incentivos; a Família de Joaryvar Macedo, através da Sra. Rosalba Saraiva de Macedo e José Hélio dos Santos por acreditar nos esforços da Fundação Sintaf na concretização dessa justa homenagem.
Muito obrigado!
Liduino de Brito, diretor da Fundação Sintaf - Discurso representando os homenageados em Sessão Solene na Assembleia Legislativa do Ceará, em 19 de maio de 2022.
NOTA
Sessão Solene da Assembleia Legislativa do Estado do Ceara, presidida pelo primeiro-secretário deputado Antônio Granja , celebrando os 30 anos de lançamento de o Império do Bacamarte de Joaryvar Macedo, a sessão homenageou Rosalba Macedo, viúva do autor; Remo Moura, diretor de Relações Intersindicais do Sindicato dos Fazendários do Ceará (Sintaf); Liduíno de Brito, diretor-geral da Fundação Sintaf; Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço; José Hélio dos Santos, editor da edição recém-lançada do livro.
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