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sexta-feira, 20 de maio de 2022

JERÔNIMO DIX-HUIT ROSADO MAIA

Bruno Steinbach. Retrato de Jerônimo Dix-Huit Rosado Maia.- Acrílica/tela, 100 x 80 cm, 1995, Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil. - Acervo do Museu Municipal de Mossoró.

O governo da República Popular da China teve a infelicidade de retribuir a visita da missão brasileira àquele país, em 1963, para estreitar as relações comerciais entre o Brasil e a China, durante o governo João Goulart, e quando a missão aqui chegou, eclodiu o golpe militar de 31.03.1964, que depôs o presidente da República. 

A missão brasileira à China tinha a presença do senador potiguar Dix-huit Rosado que, em nome da delegação, foi quem fez a saudação ao primeiro ministro Mao-Tsê-Tung e ele tinha o maior orgulho desse fato histórico. Participavam ainda da missão empresários, deputados e senadores, além do consultor geral da República, Evandro Lins e Silva. 

Dona Nayde e Trezième

O novo regime prendeu os chineses, deixando-os incomunicáveis depois de tê-los acusados “de agentes do comunismo internacional que vieram ao Brasil para treinar guerrilheiros”. O jurista Evandro Lins e Silva, que os conheceu em Pequim, foi defendê-los perante o Superior Tribunal Militar(STM). Convidou alguns integrantes que foram àquele país para defender os chineses de descabidas acusações, mas nenhum deles aceitou o convite, com exceção do senador Dix-huit Rosado. 

Com sua memória excepcional, o senador potiguar desmontou a farsa concebida pelo golpe. Identificou todos os chineses pelo nome, cargo e função que cada um exercia no governo do premier chinês. Os ministros do TSM ficaram impressionados com a descrição de Dix-huit, e a única solução que encontraram foi a expulsão dos chineses do Brasil, já que a acusação era totalmente improcedente. 

Este fato deve ter contribuído decisivamente para impedir, por três vezes consecutivas, que o ex-senador chegasse ao governo do Estado pela via indireta, durante o regime militar, apesar do apadrinhamento do senador Dinarte Mariz que tinha livre trânsito junto à cúpula militar que assumiu o poder, mas, mesmo assim, não conseguiu superar os vetos ao seu nome. 

Ex-senador da República, deputado federal, deputado estadual constituinte em 1947, três vezes prefeito de Mossoró, ex-presidente do INDA (Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário), o médico Jerônimo Dixhuit Rosado Maia morreu com a frustração de nunca ter sido governador do Rio Grande do Norte, cargo para o qual se preparou ao longo de sua vida pública. 

Dix-huit não queria apenas exercer o cargo por questão de vaidade. Queria, sobretudo, para completar o mandato que seu irmão Dix-sept Rosado exerceu por escassos cinco meses de governo, até o desastre do rio do Sal, em Sergipe, no dia 12 de julho de 1951. A morte prematura do então governador foi a maior frustração da vida pública do Rio Grande do Norte. 

Capitão-médico da Polícia Militar, Dix-huit Rosado elegeu-se pela UDN, em 1947, deputado estadual constituinte, numa assembléia que tinha a presença de Djalma Marinho, Odorico Ferreira de Souza, Mário Negócio, José Xavier, José Gonçalves de Medeiros, Moacir Duarte, José Fernandes de Melo, entre outros. Dixhuit participou ativamente dos trabalhos daquela Assembléia que renascia após a redemocratização do país. Em 1950, elegeu-se deputado federal (1951-1954) e, em seguida, numa coligação do seu partido, o PR (Partido Republicano), com a UDN do governador Dinarte Mariz, foi eleito senador em 1958/1966, derrotando os ex-governadores José Varela e Sylvio Pedroza, candidatos pela legenda do Partido Social Democrático (PSD) ao Senado da República. 

Preocupado com os rumos da sua sucessão, o então governador Dinarte Mariz chegou a pensar no nome do senador Dix-huit Rosado para seu sucessor, mas os pré-candidatos, deputados Djalma Marinho e Aluízio Alves, se uniram num movimento partidário, defendendo a tese de que o candidato ao Governo do Estado teria que sair dos quadros da UDN, já que em 1958 o partido apoiara o candidato do PR ao Senado. 

Dix-huit Rosado perdia a primeira chance de ser candidato ao governo do Rio Grande do Norte. A UDN, mesmo dividida, elegeu Aluízio Alves governador do Estado. Ele conclui seu mandato de senador e depois foi nomeado presidente do INDA, no Governo Costa e Silva, por indicação do senador Dinarte Mariz, seu amigo e correligionário. Com a implantação dos pleitos indiretos para governador a partir de 1970, Dix-huit vê surgir a nova chance de disputar o governo do Estado, com o apoio ostensivo do velho amigo Dinarte Mariz, o homem forte do regime militar no Rio Grande do Norte. 

Dois candidatos praticamente disputam pela Arena a candidatura ao governo: Dix-huit Rosado e Cortez Pereira, este correndo em faixa própria. Apesar do apoio político que obtinha em torno do seu nome, o mossoroense foi atropelado na reta final pelo advogado Cortez Pereira, que tinha recebido o apoio decisivo da oficialidade do IV Exército, que teve influência na decisão do Palácio do Planalto. 

Resignado, mas magoado com o veto militar, Dix-huit buscou um mandato dois anos depois, em 1972, elegendo-se pela primeira vez prefeito de sua terra, onde, como presidente do INDA, anteriormente havia implantado a Escola Superior de Agronomia de Mossoró (ESAM), em pleno semi-árido do Nordeste. Aos que o criticaram pela iniciativa, disse a frase que ficou famosa: “Quem não é capaz de fazer por sua terra, não será capaz de fazer pela terra de ninguém”. O sonho de Dix-huit tornou-se realidade quando muitos não acreditavam na sua iniciativa pioneira. É a mesma ESAM, criada por Dix-huit, que acaba de ser transformada pelo MEC na Universidade do Semi-Árido 

Em 1974, o ex-senador Dix-huit Rosado era novamente candidato, com o apoio do senador Dinarte Mariz. Desta feita, foi surpreendido pela escolha do primo Tarcísio Maia, que nem constava na relação inicial dos postulantes ao Governo. Dois anos depois, elege-se novamente prefeito de Mossoró. Dix-huit começa hesitante seu relacionamento com o governador Tarcísio Maia, mas, depois, refaz-se a convivência entre os dois, ao mesmo tempo em que seu irmão, o deputado Vingt Rosado, mantinha um certo distanciamento do Palácio Potengi. 

Mesmo assim, Dix-huit começava a alimentar a esperança de ser o sucessor de Tarcísio Maia. Outro desfecho frustrante. O escolhido foi Lavoisier Maia, primo de Tarcísio e de Dix-huit. A família Rosado rompe com Tarcísio Maia, apontando-o como o causador do veto ao prefeito de Mossoró, porém o ex-governador creditava-o ao Palácio do Planalto. 

Com o final do ciclo indireto, o então prefeito de Natal, José Agripino Maia, é indicado pela maioria expressiva do PDS (Partido Democrático Social) como candidato ao governo do Estado às eleições de 1982, em pleito direto. Mas recebeu o troco do deputado Vingt Rosado que, não podendo votar no candidato da oposição, Aluízio Alves (PMDB), pela vinculação partidária, prega o voto em branco para governador, que ficou conhecido no folclore político do RN como o “voto camarão”. O eleitor votava no corpo, mas decepava a cabeça da chapa. E assim foi feito em Mossoró. 

O velho “burgo mestre”, como gostava de ser chamado, elege-se pela terceira vez prefeito de Mossoró. Não lhe resta mais nenhuma esperança em alcançar o Governo do Estado. Essa frustração marcaria definitivamente sua passagem pela vida pública na busca incansável do seu objetivo. 

Alto, tipo grandalhão, bom orador, gostava de citar frases de autores estrangeiros e nacionais em seus discursos eloqüentes, respaldado por seu vozeirão privilegiado. Levava seus admiradores ao delírio nas praças públicas de Mossoró. Orgulhava-se de ter evitado as grandes cheias da cidade com a dicotomização do rio Mossoró, causador de catástrofes no passado. 

Foi um dos primeiros políticos do Ocidente a visitar Pequim em missão do governo brasileiro e costumava dizer, com certa vaidade, que “esta mão apertou a de Mao-Tsé-Tung antes do presidente Richard Nixon”. Este fato está testemunhado em “O salão dos Passos Perdidos”, livro de memórias do advogado Evandro Lins e Silva, que também integrava a delegação. 

Na biografia política do ex-senador Dix-huit Rosado Maia faltou apenas o mandato de governador, que ele perseguiu com toda obstinação, mas sempre foi atropelado na reta final por outros pretendentes, durante o regime militar implantado no país, a partir de 31 de março de 1964. Foram três tentativas frustradas, que Dixhuit Rosado conseguiu superar elegendo-se três vezes, pelo voto popular, prefeito de Mossoró, sua pátria emocional. (1912-1996) 

Extraído do livro “Resgate da Memória Política”, de autoria de João Batista Machado, Natal-RN, Departamento Estadual de Imprensa, 2006, 452 os. 

Centenário De Dix-Huit Rosado 

Por Lúcia Rocha 

No dia 21 de maio de 1912, há cem anos, nascia em Mossoró, Rio Grande do Norte, Jerônimo Dix-huit Rosado Maia, filho do paraibano de Pombal, Jerônimo Ribeiro Rosado, casado em segundas núpcias com a conterrânea, Isaura Rosado Maia, irmã da primeira esposa, Maria Amélia Henriques Maia, de quem enviuvara. Jerônimo era filho de um português de Coimbra, Jerônimo Ribeiro Rosado, que residia há muito tempo em Pombal. Formado em Farmácia, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, o Jerônimo Rosado, ou seu Rosado, como era tratado em Mossoró, migrou para esta cidade, em 1890, à convite de um médico, com quem se associara para abrir a Farmácia Rosado. Seu Rosado registrou seus filhos e filhas com nomes esquisitos, o que já rendeu a participação de alguns de seus descendentes no Domingão do Faustão. Seu biógrafo, Luís da Câmara Cascudo conta no livro lançado em 1967, Jerônimo Rosado – Uma Ação Brasileira na Província que, seguindo a tradição portuguesa de registrar o primeiro filho com o nome do pai, o primogênito chamava-se Jerônimo Rosado Filho, o Rosadinho. O segundo filho, Laurentino, herdou o nome do avô materno, viveu apenas onze meses, porém com o nascimento do terceiro filho, Tércio Rosado Maia, seu Rosado iniciaria a numeração dos filhos. “Daí em diante, com surpresa admirada e permanente, a série obedece a assinalação numérica, única no Brasil no plano da onomástica”, registra Cascudo. 

Portanto, nosso homenageado, Dix-huit, em francês significa dezoito, era o décimo oitavo filho de seu Rosado, mas havia outros filhos registrados em latim. Conheci, por exemplo, Oitava, Treizième, Dix-huit, Dixneuf, Vingt e Vingt-un. O primeiro filho, Rosadinho, médico, faleceu jovem, aos trinta anos de idade, deixando três filhos, um deles, Lahyre Rosado, formado em Farmácia, primeiro neto e criado por seu Rosado. Doutor Lahyre, conheci bem, pai da amiga e colega na faculdade de jornalismo, Ilná Rosado. Seu Rosado era bastante envolvido com o desenvolvimento de Mossoró, lutou especialmente pela água e transporte ferroviário, chegou a intendente do município e faleceu em 1930, deixando o caçula, Vingt-un, com apenas nove anos de idade. Câmara Cascudo conta que as primeiras pessoas do sexo feminino a trabalhar no comércio da cidade foram as filhas de seu Rosado, atendendo no balcão da farmácia, como Sétima e Onzième. Os homens cuidavam especialmente de uma pedreira que ele havia adquirido numa localidade próximo a Mossoró, em São Sebastião, hoje município de Governador Dix-sept Rosado, em homenagem ao décimo sétimo filho, que assumiu o cargo de governador do Rio Grande do Norte, em 1951. Conta Cascudo, que a extração de gesso inspirou os filhos de seu Rosado, ao ponto em que “...Dix-huit, ainda menino procurou o pai para informá-lo que não mais pretendia estudar. Ao que seu Rosado indagou: “E você, o que vai ser?”. “Tirador de gesso”, respondeu, convencidíssimo da vocação. O pai mandou fazer um macacão, vestimenta azul, folgada e confortável, com o dístico nas costas, Tirador de Gesso, anunciando que na próxima semana o jovem operário estaria de picareta e pá às margens do riacho do Tapuio, escavando gipsita. Dix-huit desistiu. Seria médico eminente, duas vezes deputado federal, senador da república”, registra Cascudo na biografia de seu Rosado. Dix-huit ficou órfão do pai aos dezoito anos de idade, estudara em Recife, formando-se na Faculdade de Medicina da Bahia, turma de 1935, aos 23 anos de idade. Ainda sobre Dix-huit, dona Marieta Lima, artista plástica da cidade, que em janeiro de 2012 comemorou cem anos de idade, contou no programa Mossoró de Todos os Tempos que teve um breve romance com Dix-huit, quando meninotes. Ambos tinham menos de quinze anos de idade e que ele, Dix-huit, ainda andava de calças curtas, morava na Rua 30 de Setembro, e se encontravam às escondidas, na Praça da Redenção. 

A POLÍTICA 

Tenente-Coronel e Chefe de Saúde da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, Dix-huit foi o primeiro dos herdeiros de seu Rosado a ingressar na política, em 1945, como deputado estadual, período em que Dix-sept foi eleito prefeito de Mossoró. Dix-huit ainda exerceu dois mandatos de deputado federal, em 1950 e 1954. Eleito senador em 1958, exerceu o mandato de 1959 a 1966, oportunidade em que visitou alguns países de regime comunista, em missão oficial, incluindo a China, de Mao Tse Tung. Ainda na década de sessenta, Dixhuit foi nomeado pelo Presidente Costa e Silva para ocupar a presidência do INDA – Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário - período em que implantou em sua terra natal a ESAM – Escola Superior de Agronomia de Mossoró – com o curso de Engenharia Agronômica, hoje UFERSA – Universidade Federal Rural do Semi Árido - que oferece diversos cursos, além de Agronomia, Medicina Veterinária, Direito, Engenharia Civil, Engenharia de Pesca e tantos outros. Eleito prefeito de Mossoró em três mandatos – 1972, 1982 e 1992 – Dix-huit Rosado deixou a marca de ter sido o melhor prefeito de todos os tempos. 

Como empresário do ramo de comunicação e entretenimento, entregou a Mossoró em 1955, a Emissora de Rádio Tapuyo e o Cine Teatro Cid, um prédio imponente no centro da cidade, hoje Teatro Lauro Monte Filho, pertencente ao governo do estado. 

Sobrevivente de um acidente aéreo em 1947, no qual faleceu o piloto, Dix-huit teve a sorte que faltou ao irmão, então governador Dix-sept Rosado, morto em acidente aéreo quando se deslocava ao Rio de Janeiro, então capital federal, em 1951, aos quarenta anos de idade, com apenas seis meses de mandato. Dix-sept é pai do ex-deputado estadual, Carlos Augusto, marido da atual governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini Rosado. 

Na noite de 12 de maio de 2012, um sábado, a Prefeitura Municipal de Mossoró brindou a cidade com um grande evento em comemoração ao centenário de Dix-huit Rosado, no Memorial da Resistência, que contou com a presença de toda a família do homenageado, que veio do Rio de Janeiro, como os filhos Mário e Naide Rosado, além de convidados do estado. Na ocasião, foi distribuída a revista 100 Anos de Dix-huit Rosado, editada pelos jornalistas César Santos, Edilson Damasceno, Julierme Torres, José de Paiva Rebouças; diagramação de Augusto Paiva e revisão de Stella Sâmia, tendo como curador da homenagem, o ex-chefe de gabinete de Dix-huit Rosado, Sebastião Almeida. 

Dix-huit Rosado pertencia a uma geração de políticos que chegava junto ao povo, no homem comum, ou seja, era acessível, não andava com assessores e secretários, apenas com o motorista. Ele mesmo visitava obras, acompanhando reformas, por exemplo. Por diversas vezes presenciei-o chegando na Cobal, hoje Conab, para acompanhar a sua construção. Eu, garota, pedalando bicicleta, parava para ver aquele homem de estatura gigantesca, sempre vestindo uma espécie de conjunto, a calça e camisa da mesma cor. Vaidoso, ao descer do carro, retirava do bolso um pequeno pente, que passava nos raros cabelos, guardava-o e caminhava em direção à obra, cumprimentando a todos que passavam pelo local, trocando ideias e batendo papo com quem dele se aproximasse. Há alguns anos ouvi depoimento de uma moradora da Rua Frei Miguelinho, dona Maura Medeiros. Ela disse que o então prefeito Dix-sept Rosado, não só acompanhava de perto a obra de calçamento a paralelepípedo naquela via, no final da década de quarenta, como sentava-se no meio fio e tomava café junto aos funcionários da obra. 

Nos finais de semana, Dix-huit dispensava o motorista e o carro oficial, dirigia ele mesmo sua camioneta, tipo S 10, ao lado de Tia Nayde, para a fazenda ou mesmo dar umas voltinhas na cidade, visitar amigos. Mas era outro tempo. Talvez Dix-huit pertencia a uma classe de prefeito que diariamente batia o ponto em seu local de trabalho, na prefeitura, para onde havia sido eleito. 

Para conhecer um pouco de Dix-huit e de sua esposa, que a cidade chamava na intimidade de Tia Nayde, reproduzo entrevista que fiz com o casal, ao final do segundo mandato dele, quando a saudosa Tia Nayde profetizou que retornariam a cidade para um terceiro mandato. Vejamos: 

Dix-huit e Nayde Entrevista ao jornal O MOSSOROENSE, em 1988. 

Tia Nayde, uma amiga de Mossoró 

Por Lúcia Rocha 

Nayde de Medeiros Rosado é uma pessoa de gestos e traços finos, que transmite aos que a rodeia uma paz e conduz para um mundo onde não há espaço para a maldade, o pessimismo e o ódio. Companheira durante mais de cinquenta anos de Dix-huit Rosado, prefeito de Mossoró, Nayde é aquela que ele escolheu em meio a um ato religioso, quando a viu pela primeira vez, em Natal. Pertencente a nata da sociedade natalense, filha de Manoel Clementino de Medeiros e Olindina Duarte de Medeiros, Nayde Rosado teve uma educação religiosa no Colégio Imaculada Conceição, tradicional na capital potiguar. Seu pai fora educado na Suíça, à exemplo dos seus irmãos. Esportista, Nayde Rosado praticou tênis até se casar. Depois aderiu ao Cooper, para manter o corpo em forma. Considerada uma das moças mais bonitas de Natal, foi por diversas vezes convidada a participar de concursos de beleza, não aceitando atendendo pedido da mãe, que desejava um futuro longe das passarelas para a filha. 

PARA A CIDADE ELA É UMA TIA, PARA DIX-HUIT, UMA PRINCESA 

Nayde Rosado conheceu Dix-huit durante uma procissão de Santos Reis, em Natal. Estava acompanhada da mãe e, Dix-huit atento a sua beleza, em meio a multidão, dirigiu-se a ela e, num ligeiro batepapo, pediu-lhe o endereço: “Fiquei encantada com Dix-huit, logo que o vi. Sua beleza me chamou a atenção. Senti uma grande emoção porque fez-me elogios, dizendo ser eu muito bonita”, conta Nayde Rosado, que quando passou a sair com Dix-huit percebia o assédio das mulheres que lhe dirigiam olhares a todo instante. Mesmo assim, não sentiu-se enciumada. Dix-huit confirma que realmente conheceram-se durante o ato religioso: “Desde então, ligamos nosso destino para alcançarmos depois de 51 anos o status conjugal no qual vivemos tranquilamente, quase que num ambiente isolado, afastados dos filhos e da família. Nossa convivência é a mais amena. Temos pouca reclamação a fazer um do outro”, enfatiza. Dizendo tratá-la com o carinho de quem paga uma dívida permanente, pela dedicação que ela lhe atribui, Dix-huit afirma ter sido Nayde, uma mãe carinhosa, que amamentou todos os filhos durante seis meses, como a medicina recomenda: “Comprovase com facilidade o resultado desse procedimento, com a aparência de todos os filhos. Os homens são atletas e as mulheres, no meu julgamento, são lindas. O pai tem o direito de assim proceder”, palavras de um pai coruja. Numa referência ao mandato de prefeito, Dix-huit lembra que está alcançando o fim do mandato com suas mãos: “Preparamos para voltarmos ao lar que largamos temporariamente para servir a Mossoró. Eu, com minha obsessão e Nayde, com a sua paixão. Podem até pensar que não vou sair com saudade da cidade. A brava urbe vive intrinsecamente ligada ao meu coração. Vou ter saudade de tudo e de todos. Nada reclamarei de ninguém, até mesmo aqueles que me feriram profundamente. As feridas cicatrizaram. Resta apenas um reliquat que desaparecerá com o tempo”, promete Dix-huit. 

CASAMENTO E EDUCAÇÃO DOS FILHOS 

Até conhecer Dix-huit, Nayde não sabia da existência da família Rosado. “Namoramos pouco mais de um mês e nos casamos”, explica Nayde. O casamento foi num sábado de Carnaval, numa cerimônia simples. Nessa época, médico recém-formado, Dix-huit clinicava em Assu, onde o casal morou alguns dias, transferindo-se em seguida para Mossoró, depois alguns anos em Natal, onde nasceram todos os seis filhos: Liana Maria, Mário, Margarida, Maria Cristina, Nayde Maria e Carlos Antonio. Eleito Deputado Federal, Dix-huit transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, então capital federal e cidade que adotou por muitos anos e onde nasceram os netos e bisnetos. Na educação dos filhos teve preocupação em atividades, praticando esportes, línguas e balé. Liana Maria foi educada nos Estados Unidos. Longe do convívio com a família, Nayde Rosado fala quase que diariamente com os filhos e netos. “Hoje me sinto tão realizada, que a maturidade trouxe o conhecimento acerca de tudo e de todos”, comenta. Bastante amiga de todos os membros da família Rosado, Nayde reconhece que a cunhada Treizième Rosado, a quem considera matriarca da família, é sua maior amiga. “Treizième é gente muito fina, que admiro bastante”, disse. Nayde com a cunhada e amiga, Treizième 

MOSSORÓ TODA VIDA 

Seu filho, Mário Rosado, economista, diz que a mãe pensa que mora no Rio de Janeiro. “Mas ela é devota de Dix-huit. Temos o maior carinho por eles. Estendemos o carinho e a dedicação deles a Mossoró, por isso nos privamos durante anos, da companhia deles. Gostaria que servisse de exemplo a outras mulheres”, entrega Mário, que confessa que se existisse santa na terra, sua mãe seria uma. “Ela é essa candura de pessoa que você está vendo. Nunca a ouvi falar com ódio, vingança ou algo parecido”, conta. Mário também explica que, à exemplo dos seus irmãos, é entusiasmado por Mossoró. “Nossos filhos têm tido oportunidade de ir a Mossoró e sempre temos dificuldade em voltar para o Rio ou São Paulo. Eles querem ficar em Mossoró, pois são encantados com a cidade”, afirma. Numa referencia a Mossoró, Mário, que também é poeta, autor do livro Poemas do Amor Constante, esclarece que a força do desempenho da cidade é reconhecida hoje no Brasil inteiro e é exemplo para o Nordeste. “Dix-huit é o nosso ídolo. Mostra-nos que o homem vale mais pelas obras que faz. Ele desprezou a roupa fina para viver na cidade que tanto ama. Somos muito entusiasmados por Mossoró”, repete Mário, que fala também em nome dos irmãos. Sobre Dix-huit, Nayde Rosado conta que não tem palavras que possam traduzir a admiração que sente por ele: “Nunca desejou mal a ninguém, é uma pessoa que ama sua terra e que nunca deixou de demonstrar isso. Gostamos muito do slogan Mossoró Toda Vida. Ele bem traduziu o afeto que temos pela cidade”, resume. Mas Nayde Rosado, que não gosta de ser rotulada de primeira-dama, dispensa esse tratamento por achar que não possui nenhum significado: “Não tenho vaidade de coisa nenhuma, não vivo à sombra disso”, descarta. Nayde é muito querida, principalmente pelas pessoas mais humildes, a quem tem tido a oportunidade de conhecer e servir, independente de partidarismo. “Quando faço uma bondade, um gesto, que mereça um elogio de alguém, faço com a melhor das intenções. Gosto de servir e de estar em contato com o povo, seja pobre ou rico”, esclarece. Dizendo ter em Mossoró amigos verdadeiros, apesar de ter passado maior parte da vida no Rio de Janeiro, Nayde diz: “Todos me tratam com carinho, todos são amigos. Vou levando as melhores recordações”, registra. Com certeza são os mais humildes que demonstram mais amizade e afeto. Nunca pedem nada, mas Tia Nayde oferece e procura servi-los. “Uma coisa que me choca é que muitas vezes não gravo a fisionomia das pessoas. Não sou boa fisionomista e tenho tido problemas, porque acho que muitas vezes possa parecer antipática, quando na realidade, deixo de falar com as pessoas por não gravá-las na mente. Algumas vezes é o nome que foge na hora de cumprimentá-los”, enfatiza. 

Rosalba Ciarlini Rosado, Nayde, Dix-huit e o amigo, Sebastião Mendonça

A música do casal diz: “Em você tudo é encantamento/Em você tudo é deslumbramento/Você traduz sonhos de luz/anjo divino/Qual uma dádiva do céu no meu destino/Em você eu encontrei, querida/A realização de toda minha vida/É você minha expressão da verdade/A minha apoteose de felicidade”. A música bem traduz a felicidade que reina ao casal Dix-huit-Nayde Rosado. A felicidade muito comum em um casal que se ama, acima de tudo. No ano passado, o casal reuniu o clã para a comemoração das Bodas de Ouro, no Rio de Janeiro. “Foi tudo muito bonito, não sei como segurei tanta emoção”, recorda Nayde. Perguntada por qual momento sente-se mais feliz em Mossoró, ela diz que tanto em Mossoró, como em qualquer lugar é quando o prefeito retorna a casa. Nayde gosta de passear pelo comércio de Mossoró. “Aprecio as butiques e admiro a facilidade que as mulheres daqui têm em andar na moda. A mesma moda que vemos no Rio, ser lançada aqui, simultaneamente. Nunca trago novidades, porque encontro aqui em Mossoró”, comemora. Adriano da Silva Pinto tem nove anos de idade e é um dos inúmeros amigos de Nayde, ele confessa que tia Nayde é uma pessoa boa. “É como se fosse minha irmã”, disse. Adriano acompanha a tia, segundo ele, para jantar fora, batizados e quase todo final de semana vai lhe visitar. O sobrinho Laíre Rosado Filho, diz que tia Nayde é uma pessoa que conquistou Mossoró com sua bondade e simpatia. “À exemplo de tio Dix-huit, ela deixou de pertencer a sua família para se dedicar a Mossoró”, comenta. Sobre o retorno ao convívio com a família no Rio de Janeiro, que está próximo, Nayde Rosado afirma que sai com a certeza da volta. “Essa minha demonstração é maior, não pelo sentimento, mas já manifestei a Dix-huit que devemos manter uma residência aqui, para voltarmos sempre. E até pensando na possibilidade de vê-lo novamente na prefeitura, como diz o provérbio, o bom filho à casa retorna”, profetiza. 

Nota: em 1992, quatro anos após essa entrevista, Dix-huit Rosado candidata-se a prefeito de Mossoró, aos 80 anos de idade e, eleito, cumpre o terceiro mandato até 22 de outubro de 1996, falecendo aos 84 anos, deixando como titular, a sobrinha, vice-prefeita Sandra Rosado, filha de Vingt Rosado e primeira mulher, descendente de seu Rosado, a ocupar a cadeira de prefeito do município. Sandra Rosado atualmente cumpre segundo mandato de deputada federal. 

http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/secretaria_extraordinaria_de_cultura/DOC/DOC000000000110855.PDF

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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