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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

UMA RUA E SEUS RAMALHETES (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

UMA RUA E SEUS RAMALHETES

Faço um buquê de primavera, escolho as mais belas poesias, trago o canto mais belo que exista, chamo um pouco de sol e um tanto de lua, além de uma porção de brisa e de entardecer, e mando tudo para a sua rua. Mas nem precisava ser assim...

Na timidez da janela que ainda não foi aberta e no silêncio entristecido que deve existir lá dentro, a mais bela flor se olha no espelho e nem sabe que a vida, e principalmente as pessoas da vida, a refletem de um jeito completamente diferente do que imagina ser.

Nem precisava se olhar tanto em busca de beleza no seu corpo, no seu sorriso, na sua roupa, nos seus cabelos, no seu jeito de ser. Se ouvisse sua voz interior já teria encontrado todas as respostas e saberia do seu meigo encanto, da sua simplicidade atraente, da sua importância na graça da vida e na graciosidade que transmite perante todos ao redor.

Bela, linda mulher, juvenil jardim, esperança em pétala sublime, nem precisaria te enviar um buquê senão fazer reconhecer-se na flor que já é. Digo-te, de coração, que nenhum diário, nenhum caderno com as mais belas poesias, nenhuma palavra colhida no dicionário das preciosidades poderia definir o seu ser.

Nessa rua, nessa rua onde mora, nessas pedras por onde pisa até entrar na sua porta, nesse umbral de janela onde se apóia para se entristecer com as paisagens, nesse seu quarto iluminado e tão escurecido, não haverá mais nada assim qualquer dia. Será uma rua sim, porém uma rua com seus ramalhetes. E quem sabe com pedrinhas de brilhantes para nelas caminhar.

Minha doce menina, por um momento feche esse diário tomado por palavras de desalento e escritos de sonhos não acontecidos; rasgue mesmo essas poesias que falam de um amor docemente inexistente e até impossível de acontecer; coloque seus porta-retratos em cima da penteadeira, limpe o espelho embaçado, abra bem a janela, abra mais ainda a janela, e depois vá ver sua rua com seus ramalhetes.

Ramalhetes são objetos cuidadosamente escolhidos e de imenso valor sentimental, tanto para quem os oferece como para quem os recebe; são feixes de flores reunidos pelas hastes, quase pedaços do próprio jardim; são ramos dourados de sentimentos, palavras e atitudes que permitem reconhecer a importância daquela a quem são ofertados.

Mas desta feita diria que ramalhetes são as qualidades que possui e que, pelo encanto de cada pétala que formam o seu ser, não só enche de contentamento e felicidade a rua aonde mora, como aquele que vai dobrando a esquina em busca de sua janela, em busca de um sorriso, em busca de uma esperança amorosa, ou mesmo pelo simples gesto de estar pertinho de sua sublime e meiga presença.

Que rua feliz é a sua, quantos brilhantes nas pedrinhas de sua rua, quanto aroma perfumado exala no vento que passa e volta, quanto encanto na atmosfera que se faz ao seu redor. Por isso menina, por tudo isso, pule essa janela e venha alegrar o mundo, venha dar prazer à vida, venha dar significado à existência de quem não enxerga outra flor senão no seu ramalhete.

Ao andar descalça pelas calçadas e chão, logo surgirão flamboyants, avencas e bromélias pelos canteiros, pássaros voarão sobre sua janela e farão rasantes pelos seu quarto, os ninhos estarão lá no alto esperando a vida, e as borboletas farão festas de cores por todo lugar. E será uma rua primavera, uma rua jardim, uma rua flora, uma rua aroma. Uma rua você e com o seu nome.

Por tudo isso menina, porque diante de ti um buquê não é nada, um livro de poesia não é nada, uma sonata ou suave canto ainda assim será nada, é que me contento em saber ao menos o seu endereço. E nem precisa de nome nem número, pois basta pensar em felicidade, em esperança de amar mesmo sem beijo e abraço, que também me faço de passarinho e acompanho a brisa que faz moradia na sua janela. Pois é lá ao seu lado que a beleza da vida mostra os seus ramalhetes.


Rangel Alves da Costa* 
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com

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