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sábado, 3 de agosto de 2013

Só enquanto não vem cangaço - Casa de Menores Mário Negócio, uma Instituição extinta - Parte I

Por: José Mendes Pereira
Foto: JOSÉ MENDES PEREIRA

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Esta instituição foi criada pelo político Aluízio Alves, quando ainda não era governador do Estado do Rio Grande do Norte. Durante décadas ela acolheu muitos filhos de pessoas pobres para estudarem.

Raimundo e eu  fomos adeptos dela, e eu agradeço de coração aos que me encaminharam para ela, como dona

Dona Chiquinha Duarte
Dona Chiquinha Duarte - mulher que me fez professor

Chiquinha Duarte que adquiriu uma vaga, e nela, vivi durante oito anos estudando, e posteriormente consegui emprego e até mesmo, cursar uma faculdade, que na época eram poucos que tinham este privilégio. E ainda consegui ser professor da educação estadual, durante 25 anos.

Raimundo Feliciano - ex-interno da Casa de Memores Mário Negócio

Meu amigo e irmão Raimundo Feliciano, somente nós podemos falar  o que aconteceu de engraçado naquela escola. Tivemos todas as assistências necessárias, segundo os regulamentos que regiam àquela instituição.

Fomos assistidos desde a alimentação até mesmo roupas e calçados. Só não tínhamos direito a cigarros e bebidas, mas sempre nós dávamos o nosso jeito.

Não era necessário nenhum de nós dizer  que estava precisando de calças, camisas, sapatos ou outras coisas parecidas, nossas diretoras sabiam  e cuidavam da gente com especial carinho.

Você sabe muito bem que o interno mais peralta daquela escola, sem dúvida era você, que mexia com todos, até mesmo com os funcionários que cuidavam de nós. 

Lembro bem das bagunças que fazíamos, mas geralmente tudo era pago com preços altos.

Certa vez o Zé Fernandes que era filho de Pedro e Telina chegou das suas férias, trazendo consigo uma enorme rapadura, onde ela fora fabricada eu não sei,

Foto: Que coisa, hein!

Nos anos sessenta - Raimundo Feliciano e José Mendes Pereira 
Raimundo Feliciano e José Mendes Pereira

e Sebastião, o natalense, você e eu desejamos comê-la. A solução seria nós roubá-la. Feito o roubo, fomos lá para trás da escola. Com bolachas fizemos um bom lance, coisa que nós não sabíamos que iríamos pagar caro. 

No dia seguinte, assim que dona Severina Rocha, a vice-diretora chegou à escola, Zé Fernandes enredou-a do furto que haviam feito na sua mala.

Aquele maldito sino, para nós, sempre foi malvado. Sei que você ainda lembra que um toque era para nós, internos, dois toques eram para os funcionários. Quando o sino batia a primeira pancada, nós ficávamos esperando pela segunda, do contrário todos os internos estavam fritos. Alguém tinha feito algo errado.

Nesse dia, assim que o sino tocou uma batida, esperamos a segunda, mas não houve a segunda batida. Ali, nós três estávamos fritos. O roubo da rapadura tinha chegado à diretoria. 

Fomos todos para diretoria, todos ali amontoados,. Os outros não tinham feito nada de errado. Somente nós três éramos os responsáveis pelo furto da rapadura de Zé Fernandes. 

Um dizia que não tinha sido ele. outro também declarava que não sabia  de tal rapadura. outro pedia que quem tivesse furtado a rapadura que se entregasse. Como os outros não eram responsáveis pelo furto, fomos obrigados a declararmos o nosso feito, que nós três éramos os malfeitores da rapadura de Zé Fernandes. 

Ficamos uma semana sem sairmos para lugar nenhum, apenas sentados ao redor de uma mesa. 

Lembro bem que nós só almoçávamos depois que todos os internos faziam as suas refeições.

A Beatriz que sempre fazia o papel de mãe implorava a dona Severina, que nós deveríamos almoçar juntos com os outros, e que isso era uma humilhação, em alimentarmos separados como se fôssemos marginais.

Após as refeições dos outros internos, fazíamos as nossas refeições. E quando as empregadas traziam os nossos almoços, geralmente você dizia: "-Lá vem o comer dos três ladrões".

Foram tantas estripulias feitas por nós, principalmente por você, as quais  contarei na próxima publicação. 

Continua...
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