Por Ronaldo Braga
Severino Garcia Santos - o cangaceiro Relâmpago
Quando o
cangaceiro Severino Garcia Santos o Relâmpago, chegou ao Rio de Janeiro na década
de 40 sabia que suas aventuras na caatinga, ao lado de Lampião e seu bando,
haviam terminado. Mas o companheiro de Virgulino Ferreira da Silva não
imaginava que, depois de lutar e ser perseguido pelos macacos (Polícia) durante
vários anos morreria, aos 84 anos, longe de sua peixeira de estimação, e de uma
maneira tão inglória: no INSS, tentando receber sua pensão de 15.100.
Um mês atrás,
por estar muito doente Relâmpago pedira a um amigo, o pastor Feliciano Teixeira
Filho, da “Igreja Pentecostal Cristo é a Resposta”, que passasse a receber a
pensão do INSS em seu lugar.
Aposentado como ferreiro do “Estaleiro
Caneco”, ele havia sido internado recentemente na “Casa de Saúde de Irajá”, e
tinha dificuldades para se locomover.
O pastor Feliciano Teixeira, na porta da sala onde morreu Severino
Às 8 horas de
ontem, o pastor Feliciano chegou ao prédio do INSS na Avenida Presidente
Vargas, 418, a fim de receber uma autorização para sacar a pensão do amigo.
Após passar por vários departamentos, foi informado de que era preciso
apresentar o carnê de benefício e os documentos de Relâmpago. Embora
tenha explicado que o ex-cangaceiro estava doente em sua casa, no bairro as
Saúde, aguardando que o amigo levasse alguns remédios que compraria com o
dinheiro da aposentadoria, o pastor não conseguiu a autorização.
Ao tomar
conhecimento das exigências do INSS “– que qualificava como uma casa de
ladrões”..., Relâmpago levantou-se da cama e disse a Feliciano:
- Eles querem
ficar com o meu dinheiro. Vamos lá para resolver essa parada.
O pastou ainda
tentou fazê-lo desistir, argumentando que o dinheiro de que dispunham, Cr$ 700,
mil dava para o táxi. Relâmpago insistiu, afirmando que iria de qualquer
maneira, a pé ou de carona. Acabaram se decidindo pelo táxi e restaram apenas
Cr$ 30 de troco. Ao chegar ao prédio do INSS, os dois amigos percorreram
diversas salas, subindo e descendo as escadas entre a sobreloja e o segundo
andar. Eram 12h30m.
De repente
ele começou a sentir falta de ar. Então, decidimos subir até o décimo-terceiro
andar, onde funciona a Unidade de Assistência de Recursos Sociais, na esperança
de resolvermos o problema. O Severino (o ex-cangaceiro Relâmpago) disse que
provaria de qualquer maneira, que ele era uma pessoa de confiança e que podia
receber o benefício em nome dele. "- Quando, finalmente, estávamos sentados em
frente à assistente social, ele deu o suspiro e morreu" – contou o pastor
Feliciano.
Embora
aparentemente o ex-cangaceiro tenha sido vítima de uma parada cardíaca, o
Delegado da 1ª DP (Praça Mauá), Plácido Moreira, registrou o caso como morte
suspeita, e ouvirá Feliciano e as pessoas que atenderam Severino nos próximos
dias.
Apesar de sua
idade, há um ano Relâmpago fora preso por esfaquear o agente de trânsito do
Detran Jorge de Oliveira Ribas, de 66 anos, após uma discussão sobre o preço de
uma cabeça de peixe num bar na Praça Tiradentes. Na época, o ex-cangaceiro se
vangloriara dizendo que, quando vivia no sertão, tivera 12 mulheres e matara
mais de 20 pessoas com Lampião.
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