Seguidores

domingo, 25 de setembro de 2016

A VISTA ESQUERDA DE LAMPIÃO


Virgolino Ferreira da Silva teve um problema sério nas vistas. Desde muito novo que uma doença denominada Leucoma afetou, cronicamente, uma das vistas dele, à direita, terminando em uma total cegueira da mesma com a “ajuda” de um pequeno espinho, pêlo, de um cacto da flora catingueira, cactácea, pequena ‘palma’, sertaneja chamada por alguns de ‘Palmatória’, o Quipá, Opuntia Inamoema ou Tacinga Inamoema.


O Leucoma é uma opacidade corneana quando a córnea toma aspecto branco em toda sua extensão ou em parte. O mesmo pode ser congênito ou se desenvolver após doenças infecciosas, principalmente herpes ocular ou traumas, o que achamos que ocorreu com o futuro “Rei dos Cangaceiros” por ter se tornado tangerino, almocreve e vaqueiro desde tenra idade, e tenha sofrido alguma pancada ocorrendo o trauma, já que não encontramos a doença em nenhum dos irmãos e/ou irmãs dele. Além disso, o leucoma é uma opacidade que pode se localizar centralmente e também provocar alterações na curvatura corneana, diminuindo a visão.

Perder uma das vistas, para Lampião, não foi um problema que o impediu de dar prosseguimento ao ‘reinado’. Pelo contrário. Ajuda-o no manejo e mira das armas longas como rifles, fuzis e mosquetões. Porém, sem elas, ficando totalmente cego das duas, não tinha como continuar.


Em determinada ocasião, segundo historiadores, o ‘Rei Vesgo’ ver-se acometido de uma doença em sua vista esquerda. Não sabemos relatar aos amigos se foi uma infecção contraída, ou mesmo transmitida da que acometeu sua vista direita, tão pouco, se devido a algum ‘novo’ trauma sofrido.

Passando, o chefe mor do cangaço, a sentir “queimor intenso e fortes dores no olho esquerdo, além de lacrimejamento, prurido intenso e diminuição da acuidade visual”, começa a sentir temor pela ‘escuridão’ total. Resolve pedir ajuda aos amigos, coiteiros, na tentativa de curar aquele mau.

O ‘coronel’, em sua pessoa de ‘autoridade’ dominante regional, não foi amigo de cangaceiros simplesmente por ser. Pelo contrário, suas amizades baseavam-se em troca de ‘favores’ e negociatas.

Em todos os sete Estados nordestinos por onde seu ‘reinado’ se estendeu, Lampião lançou sua ‘rede’ capturando adeptos de todas as partes sociais que existiam na época. Na ocasião da doença em sua vista esquerda, ele procura ajuda com o ‘amigo’ coronel Manoel Maranhão, no Estado das Alagoas. Esse, não podendo fazer muito, se junta ao amigo cangaceiro, e envia um emissário, que transpõem a divisa de Estado e vai levar o pedido de ajuda a um dos maiores coiteiros de Lampião em terras pernambucanas, que se encontrava na ocasião na fazenda Formosa, o coronel Audálio Tenório de Albuquerque, grande latifundiário nos Estados de Pernambuco e Alagoas.


No momento em que é sabedor da ocorrência, o coronel Audálio não se faz de rogado, parte imediatamente para fazenda do amigo fazendeiro, coronel Manoel Maranhão, a fim de socorrer seu protegido.

Inteirando-se do que acometeu a vista ‘boa’ do Capitão, o coronel Audálio Tenório parte para Capital pernambucana para falar com um, na ocasião, dos mais afamados oftalmologistas do Nordeste, o Dr. Isaac Salazar.


“(...) Nesta época o capitão já se encontrava em decadência, não tinha a mesma força, o clímax do cangaceiro é aos 25 anos, as volantes tinham ordem de matar para depois conversar, era lei qualquer cidadão ficar com os bens do cangaceiro caso o matasse, todo mundo queria ficar rico, os jornais noticiavam diariamente as estripulias e as maldades do cangaço, as estradas que cortavam os sertões permitiam o envio de caminhões de soldados e munições, as mulheres e os filhos passaram a ser uma das preocupações dos cangaceiros, os coiteiros sumiram, o cangaço perdia a força, a lei era matar(...).” (Iderval Reginaldo Tenório)

Iderval Reginaldo Tenório

Sem poder levar o ‘paciente’, o coronel Audálio segue sozinho e, lá chegando, faz um relato pormenorizado de todos os sintomas da doença, sempre referindo ao médico que se trata de um dos seus vaqueiros de uma das suas fazendas.

“(...) o médico prescreveu alguns medicamentos, injeções, pomadas, colírios e bandagens, dias depois chegava na sua fazenda o Coronel com todos os medicamentos e o capitão inicia o milagroso tratamento, a vista foi melhorando, aos poucos foi clareando, como trunfo, cheio de alegria e de vida(...).” (Iderval Reginaldo Tenório).


O Coronel Audálio Tenório de Albuquerque foi muito ligado, também, a altas autoridades militares nas Alagoas. Eleito deputado Estadual por Pernambuco em 1966, teve seu mandato cassado pelo regime militar implantado no País. Em sete de dezembro de 2012, o jornal Diário de Pernambuco publica que, passados 50 anos, o Governo ‘devolve’ seu mandato, mesmo o coronel já tendo morrido... Nas quebradas do Sertão.


Foto lampiãoaceso.com
cariricangaço.com
Benjamin Abrahão


blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário