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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O FRATRICÍDIO DO GELO.

Por João Filho de Paula Pessoa

Virgulino e seus irmãos tinham um irmão de criação, Antônio Rosa, que foi entregue à seus pais quando criança por retirantes de Alagoas à caminho de Juazeiro do Norte/Ce, foi criado como filho adotivo, estudou, trabalhou e cresceu com os demais irmãos ferreiras, inclusive participando dos primeiros conflitos de seus irmãos com os Saturninos, e os acompanhando no cangaço. Era do tipo valente, disposto, astuto e frio, o que lhe rendeu o apelido de Toinho do Gelo. Em 1924, num vilarejo de Pernambuco, perto de Serra Talhada, ele tentou comprar a arma de um senhor chamado Constantino, que era bastante respeitado naquela região, mas este não lhe vendeu por apreço à sua arma e Antônio Rosa simplesmente o matou, lhe roubou a arma e fugiu para junto do bando de Lampião que estava na Paraíba. Este crime revoltou muito a população local e a família do falecido que formou um grupo de familiares e amigos para vingar aquela morte. A morte de Constantino irritou bastante Lampião, pois este era seu conhecido antigo, tinham uma boa relação e se respeitavam mutuamente, e soube dos planos de vingança de seus familiares. Ele então reclamou com Antônio Rosa que não acatou suas reclamações, ameaçando se vingar das pessoas daquela região, inclusive de uma senhora, comadre de Lampião, a quem ele tinha muita consideração, o que o irritou ainda mais. Após este debate, chegou ao coito um representante do vilarejo que esclareceu à Lampião que não tinham nada contra ele e sim contra Antônio Rosa pelo o que ele fizera. Livino, irmão de Lampião, ouviu toda a conversa e disse ao emissário que a família de Constantino nunca mais viria ou ouviria falar de Antônio Rosa e que não precisaria de luta, mas ao final isso custaria à família do vingado dez mil réis. Ao retornarem à Pernambuco, o bando parou para descansar numa fazenda próxima de onde ocorreu o crime, e quando Toinho do Gelo tentava armar uma rede levou dois tiros nas costas, disparados por Livino e outro cangaceiro, tombando morto ali mesmo. Familiares de Constantino foram chamados para ver o corpo, que logo depois foi enterrado na caatinga em cova rasa e o problema deu-se por resolvido. João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 20/01/2020.

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