* Por Antônio
Neto
Em 20 julho de
1935, o grupo de Lampião assaltou, matou, feriu, espancou, estuprou e saqueou
no distrito de Serrinha, no município de Garanhuns.
A investida de
Lampião e seu grupo ao referido distrito foi muito bem planejado, sobretudo por
não conhecer bem aquela localidade. De princípio arranjou um guia, de nome João
Constantino da Silva, conhecido por João Baixó, que além de bandido era
conhecedor daquela comunidade, sabia quem eram as pessoas que possuíam dinheiro
e objetos de valor.
O assalto à
Serrinha foi mais uma das ações perversas de Lampião, praticada na calada da
noite, conforme portaria do comissário de polícia, João Antônio da Silva, do
distrito de Serrinha, município de Garanhuns, que passo a expor: por volta da
meia noite, mais ou menos, do dia 19 para 20 de julho de 1935, Virgolino
Ferreira da Silva, vulgo Lampião, chefiando um grupo de assaltantes, em torno
de oito indivíduos, saqueou a residência do agricultor Francisco Basílio da
Silva no lugar Azevém do mencionado distrito e estupraram Josepha Avelina da Conceição
e Antônia Avelina da Conceição, filhas menores do infortunado agricultor.
Prosseguindo a
sua infeliz jornada, Lampião e seu grupo pousaram na casa de José Salgado, um
velho conhecido de João Baixó. Enquanto o dono da casa preparava café para
Lampião e seus cabras, o filho desse, de nome Antônio Salgado, conduzia três
bandidos para à casa de Manoel Antônio de Araújo, de cognome Manoel Pajeú. O
mesmo encontrava-se próximo à sua residência e, ao perceber que os visitantes
eram cangaceiros ficou escondido nas proximidades. Os bandidos bateram em sua
porta e, como ninguém respondeu, botaram a mesma abaixo e invadiram aquela
moradia. Não encontrando o dono da casa espancaram a sua mulher, obrigando-a a
entregar-lhes o dinheiro que tinha em seu poder. Além de Joias e ouro, levaram
uma sela, arreios, esporas, chibatas e um capote.
De volta à
casa do senhor José Salgado, os três bandoleiros juntaram-se ao resto do grupo.
Virgolino Ferreira e seu bando, guiados por João Baixô, foram à Fazenda
Imbuzeiro, onde saquearam e trucidaram o agricultor João Bezerra da Silva,
proprietário da respectiva fazenda e, ainda, feriram o seu genro, Francisco
Pereira de Barros, conhecido por Chiquito.
Em seguida,
Lampião atacou a Vila de Serrinha, antigo distrito de Garanhuns, hoje, cidade
de Paranatama. Os moradores daquele vilarejo reagiram a tiros e as duas
mulheres do grupo de assaltantes saíram baleadas. Maria Dea, mulher de Lampião,
vulgo Maria Bonita, saiu gravemente ferida na barriga, enquanto que, Maria
Lima, vulgo Vacinha, sofreu ferimentos leves.
O bando não
suportando o arrojo do tiroteio fugiu levando as mulheres feridas. Segundo
depoimentos de testemunhas, Maria Bonita teve que ser carregada em uma rede,
até um abrigo seguro, onde foi tratada do ferimento.
De acordo com
o inquérito policial datado de 30/07/1935, por esses crimes bárbaros, foram
indiciados os indivíduos: Virgolino Ferreira, vulgo Lampião, João Constantino
da Silva, vulgo João Baixó, Medalha, Moita Braba, Gato, Cabo Velho, Jurity,
Maria Dea, Maria Lima, vulgo Vacinha. No entanto, o promotor público de
Garanhuns no exercício pleno de seu cargo e, embasado no inquérito policial,
ofereceu ao juiz de direito de Garanhuns, denúncia contra Virgolino Ferreira,
vulgo Lampião, Medalha, Natalício de Tal, vulgo Fortaleza ou Cabo velho,
Maçarico ou Jurity, Gatto e Moita Braba pelos atos delituosos por esses
praticados na circunscrição da Comarca de Garanhuns. Maria Dea e Maria Lima não
foram citadas na denúncia do promotor, apenas indiciadas pelo comissário de
polícia.
Conforme disse
o depoente, Euclides José dos Santos, Virgolino Ferreira, vulgo Lampião e seu
grupo, na noite de vinte de julho de 1935, roubaram as casa de Matildes
Olímpia, José Basílio de Miranda, Manoel Antonio de Araujo (Manoel Pajeú), Pedro
Damião, José Braz e de Francisco Pereira de Barros, conhecido por Chiquito.
Pelo que se sabe o Rei do Cangaço não possuía inimigos naquele lugar. Foi ali
apenas para roubar e praticar atrocidade. Esse era o seu jeito de agir.
Este texto foi
escrito em conformidade com os autos do processo-crime, nº 85, registrado no 3º
cartório da Comarca de Garanhuns, portanto, uma análise à luz da Lei da
brasileira.
Fonte:
Memorial da Justiça de Pernambuco. Pasta – Garanhuns, 1935-CR. A: Justiça
Pública. R. Virgolino Ferreira e ouros.
* Antônio Neto
é escritor, pesquisador, dicionarista e poeta.
Processo 2
Processo 1
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