Existem
palavras que se perdem no tempo por falta de uso. Outras continuam ativas,
porém ninguém lembra mais o significado. Foi assim quando nós viajávamos numa
Van e uma passageira pediu para deixá-la no Guari. Isso na região de
Cacimbinhas, Alagoas. Fiquei curioso com a palavra que jamais ouvira
falar. E se perguntasse a qualquer um, a resposta seria um lugarejo na
periferia da cidade. Sim, mas o que significa Guari ninguém sabe,
nem eu sei. Mas que o termo ficou martelando a minha curiosidade, ficou. Tempos
depois fui às pesquisas e, tudo que encontrei foi “uma espécie de palmeira” ou
“um tipo de ave”. E no Poço das Trincheiras, o seu maior povoado é o Quandu,
mas o que é Quandu? Outro desafio.
CACIMBINHA (FOTO DIVULGAÇÃO)
Quandu
significa porco-espinho e não se pode confundir com Guandu que é uma espécie de
feijão. Mas eu duvido que a maioria dos habitantes do povoado Quandu, saiba
sobre a origem do nome. Porém, a palavra mais difícil de encontrar até hoje,
foi “Minuino”, antiga travessia no rio Ipanema citado em artigos da década de
30. Nada. Nada a seu respeito consegui até agora. E se algum leitor curioso
achar essa fonte, peço a gentileza de repassar para nós, o povo
santanense. É claro que a busca de palavras estranhas para nós
traz conhecimentos, mas não deixa de ser uma forma proveitosa de lazer. Essa
mistura da linguagem indígena, africana, portuguesa e outras estrangeiras,
enriquece os dicionários e endoidam a cabeça dos pesquisadores.
Bonito é o
nome Araçá e Santana do Ipanema Possui três sítios rurais com essa denominação.
Mas será que ainda existe araçá naqueles sítios? Nunca vi um araçá de verdade,
mas dizem que é uma fruta parecida com a goiaba que pode ser consumida in
natura e ser transformada em geleia, sorvete, sucos... Mas não aparece um só
estudioso no Sertão para resgatar esse fruto, inclusive para a indústria. Onde
estão nossos professores biólogos que só se movimentam entre quatro paredes da
escola. E a falta de iniciativa de gente estudiosa já fez perder muita riqueza
do nosso bioma, tanto do reino animal quanto do vegetal. Muitas denominações
estão apenas na nomenclatura do lugar. Pense no assunto.
Quero
agradecer a ao @marcos_batista_souza, a @lemuelrodriguess e @maiadonascimentogeraldo por terem enviado esta obra
magnífica. Tô muito feliz por ter sido citado em mais um trabalho. Parece que
um documentário sobre o tema está chegando, estou nele também né @ivanaldofer ?
Abraço!
Há cerca de 10
anos, o médico psiquiatra Epitácio de Andrade Filho substituiu uma colega
durante um semestre no Centro de Atenção Psicossocial de Parelhas, no Seridó
Oriental.
No
CAPS/PARELHAS, além de atividades assistenciais, foi realizado um encontro com
o ambientalista Tertuliano Pinheiro sobre a temática “Desertificação e Saúde
Mental”. No mesmo período, como parte da programação do serviço, ocorreu o
lançamento do livro “A Saga dos Limões- Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno
Brilhante”, de autoria do médico, na comunidade rural quilombola Boa Vista dos
Negros.
Uma figura importante que foi em Mossoró, Francisco Celeste Guimarães. Um grande e respeitado sindicalista. Por alguns anos, foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Mossoró. Um homem que tinha consideração aos seus amigos.
Por duas vezes, ele e eu, fomos ao sítio São francisco que pertence ao meu pai Pedro Nél Pereira, na intenção de rever seu velho amigo Nilton Mendes (meu irmão), que por alguns anos, haviam trabalhados juntos, na mesma empresa.
Depois de onze anos de pesquisas e mais de trinta viagens por sete Estados do Nordeste, entrego afinal aos meus amigos e estudiosos do fenômeno do cangaço o resultado desta árdua porém prazerosa tarefa: Lampião – a Raposa das Caatingas.
Lamento que meu dileto amigo Alcino Costa não se encontre mais entre nós para ver e avaliar este livro, ele que foi meu maior incentivador, meu companheiro de inesquecíveis e aventurosas andanças pelas caatingas de Poço Redondo e Canindé.
O autor José Bezerra Lima Irmão
Este livro – 740 páginas – tem como fio condutor a vida do cangaceiro Lampião, o maior guerrilheiro das Américas.
Analisa as causas históricas, políticas, sociais e econômicas do cangaceirismo no Nordeste brasileiro, numa época em que cangaceiro era a profissão da moda.
Os fatos são narrados na sequência natural do tempo, muitas vezes dia a dia, semana a semana, mês a mês.
Destaca os principais precursores de Lampião. Conta a infância e juventude de um típico garoto do sertão chamado Virgulino, filho de almocreve, que as circunstâncias do tempo e do meio empurraram para o cangaço.
Lampião iniciou sua vida de cangaceiro por motivos de vingança, mas com o tempo se tornou um cangaceiro profissional – raposa matreira que durante quase vinte anos, por méritos próprios ou por incompetência dos governos, percorreu as veredas poeirentas das caatingas do Nordeste, ludibriando caçadores de sete Estados. O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:
Água Branca é
uma pequena localidade do Estado de Alagoas, situada perto do rio Moxotó. A
principal moradora do município, no ano de 1922, era a Dona Joana Vieira Sandes
de Siqueira Torres, a Baronesa de Água Branca. Virgulino Lampião há tempos
vivia pedindo dinheiro à Baronesa, e esta de pronto respondia: "Tenho
vinte contos, mas é para comprar de munição para o couro dele!".
Diante da
negativa da Baronesa, Lampião planejou um assalto à cidade de Água Branca.
Claro, ele esperou um ano depois da resposta da Baronesa, pois ela havia
enchido as ruas de policiais, temendo alguma ação do cangaceiro. Desfeita a
tensão, Virgulino enviou um espião à feira de Água Branca, a fim de verificar
as forças policiais. Enquanto isso, Lampião esperava as notícias em Bom
Conselho de Papacaça. Depois de ficar informado sobre a situação de Água Branca,
Lampião rumou em direção ao município. Foram quatro noites de viagem, sendo que
os dias serviam para o descanso de Lampião. Na tarde do dia 27 de junho de
1922, o cangaceiro tomou um sítio não muito longe de Água Branca e obrigou o
dono a fazer compras na cidade.
Deu-lhe
dinheiro e uma lista, que continha cigarros, fósforos, esteiras de pipiri, duas
redes brancas e uma lata de tinta vermelha. Para ter certeza que o dono do
sítio ficasse em silêncio, Lampião manteve a família dele como refém. Caso
abrisse o bico, Lampião prometeu judiar e até mesmo matar todos os familiares.
Lampião
dividiu seu bando estrategicamente. Quatro duplas se formaram para fazer o
bloqueio das entradas da cidade e ali ficarem até o término do assalto. Os
outros dez cangaceiros encheram as duas redes compradas no comércio com armas e
munições.
A lata de
tinta vermelha serviu para pintar as redes, dando assim a impressão de sangue
de morto. Ao amanhecer do dia 28, os dez cangaceiros entraram em Água Branca,
carregando as redes com os dois 'defuntos'. Estacionaram em frente ao quartel
da cidade e avisaram ao soldado de vigia: "isto foi dois que nós achou
morto e truxemo para fazer o corpo delito".
O vigia os
convidou para entrar e esperar, enquanto ele iria acordar um outro soldado numa
casa vizinha. Quando o vigia saiu atrás de ajuda, os cangaceiros trataram de
pegar as armas escondidas dentro das redes e esperam a volta para dar o bote.
Quando os
guardas voltaram, Lampião mostrou as armas e disse: "o defunto é esse,
visse?". Lampião soltou vinte presos e no lugar deles prendeu todos os
guardas. Obrigou ainda ao corneteiro dar toque de reunir. Ao todo, Lampião
enjaulou mais de trinta soldados e roubou todas as armas e munições, que logo
foram distribuídas entre os ex-prisioneiros.
Agora Lampião
contava com trinta homens armados prontos para o assalto. Os cangaceiros
tomaram as ruas e acordaram os moradores com tiros. As casas e as lojas dos
mais ricos foram sendo saqueadas uma por uma. A Baronesa foi a que sofreu o
maior prejuízo: trinta contos de réis em dinheiro, ouro, jóias, roupas e vinte
e cinco cabras leiteiras. Após o saque, a Baronesa ainda seria humilhada a
passear de braço dado com Lampião pelo meio das ruas da cidade. Água Branca foi
a primeira vez em que os cangaceiros, vibrantes e entusiasmados pela vitória,
cantaram o hino de guerra "Mulher Rendeira", um xaxado ritmado pela
batida forte dos rifles batendo no chão: "Olê mulé rendeira/ olê mulé
rendá/ tu me ensina a fazer renda/ que eu te ensino a namorar".
Maria dos Anjos, uma mocinha
com pouco mais de 16 anos. Moreno claro, de olhos negros, cabelos longos e pretos. Era uma verdadeira "Iracema". Ninguém resistia
ao seu olhar atraente, já imaginava coisas imorais. Além do mais,
tinha umas lindas coxas. Coisa de menina bonita. Nem parecia ser filha de um
homem feioso, magro, cabeça de coco, poucos dentes naturais, e alguns havia
adquirido no protético prático do bairro. Totalmente desajeitado, como era
o seu pai, o Elesbão.
https://br.pinterest.com/pin/388013324151918479/
Certo dia, chegou do Rio de Janeiro um militar, o João Prado, todo enfiado
num uniforme do exército brasileiro. Era cearense da gema, mas desde menino que
veio para Mossoró, em companhia dos pais. Aqui cresceu, e daqui foi servir o
exército no Rio de Janeiro. Ao ver a linda mocinha, que não havia presenciado a
rápida mudança em seu corpo, a desejou de corpo e alma.
Os pais do João Prado eram vizinhos dos pais da Maria dos Anjos,
mas as amizades entre eles eram restritas, apenas algumas vezes faziam
reuniões nas calçadas.
Nesse dia, o João Prado chegou a prosear com dona Isabel, a mãe da Maria
dos Anjos, sobre a beleza da sua filha, chegando
a mandar-lhe um recado, que fosse se arrumando que iria levá-la para
Copacabana.
Nos anos setenta, em Mossoró, existiam várias casas de prostituição no chamado "Alto do Louvor" como: Coimbra, Brasília, Pernambucana, Casablanca, Ideal, Las Vegas, Brahma, Arpege e Diacuí – todos nomes com referências a lugares, filmes, bebidas, sinônimos, na época, de atualidade e sofisticação, e uma das boates mais faladas em Mossoró, era Copacabana com o seu sofisticado aparato à clientela.
Alto do Louvor - https://www.omossoroense.com.br/alto-do-louvor-em-mossoro-para-uma-historiografia-da-zona-mossoroense/
Assim que dona Isabel chegou em casa, participou a Elesbão, a brincadeira
que o João Prado dissera com sua filha, que fosse se arrumando, que iria
levá-la para "Copacabana", e lá, ambos, iriam viver um belo
romance.
Elesbão ao ouvir a brincadeira do João Prado, contada pela sua esposa, a Isabel,
não disse nada, ficou calado, apenas tentando engolir o ódio que
atravessava em sua garganta, sobre o desrespeito do João Prado com a sua
filha. Ficou a imaginar que aquele sujeito metido a
galã, estava pensando que iria passar a perna sobre sua mocinha. Ele estava
totalmente enganado. Sim Senhor! Aquela menina era criada com carinho, única e nada lhe faltava. Era pobre, mas filha de um senhor honrado e
trabalhador.
Várias e várias vezes saíra de casa ao clarear do dia para o seu sofrido emprego, lá na Avenida Alberto Maranhão, no Alto da Conceição, e se internar o dia inteiro na fábrica de óleo do Aderaldo, só para dar a sua filha o que ele não tivera quando em companhia do seu velho pai.
Aquele sujeito só porque estava de uniforme do afamado exército brasileiro, agora se sentia como se fosse um galã de cinema, o Jiuliano Gemma, um dos melhores artistas de cinema em décadas passadas.
Ou o velho Antonio Stefeni, com o seu maravilhoso filme "Um Homem Chamado Django", que fez bastante sucesso no passado do século XX, ou ainda um jovem querendo imitar o famoso Matt Damon, no seu romântico filme "Dio, Come Ti Amo". Mas ele se enganara por completo. Sua amada
filha tinha um pai para protegê-la.
Ao anoitecer, Elesbão foi até à bodega do Valentim, também próxima ao Alto do
Louvor; tomou umas quatro ou dez cachaças, não sei, e já meio tonto, foi em
casa, pegou uma faca, mais uma ponta de mangueira grossa, enviou-as na cintura, e foi ao encontro do João Prado, que no momento, palestrava em uma
das casas amigas.
Ao
chegar, perguntou ao dono da casa, o Tiago das Oiticicas, como era chamado
no bairro:
- João Prado
está aí, seu Tiago?
- Está -
respondeu Tiago das Oiticicas.
- Chame ele
por favor!
- João Prado,
Elesbão quer falar com você! - Gritou seu Tiago lá pra dentro da
casa.
E lá se veio
inocentemente o João Prado.
- O que deseja,
Seu Elesbão?
- João Padro,
eu vim aqui porque você mandou um recado pela Isabel, para minha filha Maria dos Anjos, que fosse se arrumando que iria levá-la para o
Copacabana. Como ela não pode vir, então eu vim para ir junto
com você ao Copacabana.
E sem mais
pensar, tirou o pedaço de mangueira da cintura, mais a faca e enfiou-se atrás
do João Prado, descendo a ladeira do Alto do Louvor. E tome mangueira, e
tome peia, e tome peia. Na carreira, as passadas do João Prado atingiram
dois metros de distância, igualando as do seu agressor. Mas à frente,
depararam-se com um muro de dois metros. Mas o agredido não contou conversa,
saltando-o de uma vez só. Nem precisou colocar as mãos sobre ele
para se apoiar e facilitar o impulso. Foi aí que Elesbão
resolveu não arriscar pular o alto muro.
Enquanto o
Elesbão perseguia o João Prado, os amigos do Elesbão corriam atrás
dele, para que não realizasse o assassinato. E gritavam assustadoramente:
- Não faça
isso, Elesbão! Não faça isso..., pelo amor de Deus, homem de Deus!!!
Dias depois, o
João Prado retornou às pressas para o Rio de Janeiro, e nunca mais botou
os pés em Mossoró.
O Elesbão não
sabia que o Copacabana que o João Prado se referia é uma praia no Rio de
Janeiro. Ele pensava que o rapaz estava desconsiderando a sua
filha, querendo levá-la para o meio da prostituição, no cassino de
Mossoró, "Copacabana".
Minhas simples
histórias
Se você não gostou da minha historinha, não diga a ninguém, deixa-me pegar mais outro.
Foto 1: - Foto deixada pela minha Trisavó da mãe dela Joanna Ferreira, vemos uma Joanna mais velha.
Alguém conhece
mais de Joanna Ferreira? Ou "Dona Joaninha", Joana Lopes, Joana
Jacosa de Lima, entre outros nomes que ela teve, mas o nome de batismo foi
"Joana Vieira da Soledade.
Ela é filha de
Manoel Pedro Lopes e Jacosa Vieira da Purificação, ela é tia do Lampião.
Também, minha
tataravó!
Quero saber
mais da história dela, pois a filha dela, minha Trisavó, não contava muitas
histórias, se alguém puder me ajudar com mais informações, fotos, textos e etc,
agradeço!
Foto 2:
Segundo Adelsomota, esta não é Dona Jacosa. e sim esposa de João Ferreira irmão de Lampião. - J. Mendes Pereira.
Joanna e dois dos seus filhos(não identificado), essa foto foi encontrada no bolso do corpo de Lampião quando foi pego.
Leia o que o pesquisador Adelsomota comentou:
Adelsomota Mota nunca
disse que era Dona Jacosa. Joana
Jacosa de Lima é um dos nomes que ela usava, pois ela era filha da Jacosa. Joana
Vieira da Soledade(nome de batismo) Joanna
Ferreira (nome de casada) - Alternativos Joana
Jacosa de Lima. Joana
Lopes de Vieira.
Foto 3:
A grande foto
da família Ferreira em Juazeiro do Norte, Joanna é aquela bem no meio, acima,
João Ferreira, o irmão de Lampião que não entrou no cangaço.
O artista fez sucesso
com o irmão Márcio Augusto ao longo dos anos 1960. O enterro e o sepultamento
ocorrem neste domingo (23), no Cemitério da Consolação, em São Paulo.
O cantor
Ronald Antonucci, da dupla Os Vips, morreu na madrugada deste sábado (22), em
São Paulo. A notícia foi confirmada pela família por meio das redes
sociais. A causa da morte não foi divulgada.
A dupla,
formada por Ronald e o irmão, Márcio Augusto Antonucci, fez sucesso durante a
época da Jovem Guarda, no auge dos anos 1960. Foram intérpretes da dupla
de ouro Roberto-Erasmo em Faça alguma coisa pelo nosso amor e A
Volta. Já o hit É Preciso Saber Viver foi cantado primeiro por
eles, em 1968 — Roberto Carlos só a gravaria em um disco em 1974.
Em meados dos
anos 1970, a dupla foi desativada após fazer gravações lançadas sem
repercussão. Mas voltou à cena musical na década de 1990, com shows e
discos motivados pela nostalgia da Jovem Guarda.
Quadrinha
colhida nos Guerreiros e Reisados alagoanos do passado. Folguedos que também se
apresentavam no São João, Natal e nos novenários da região sertaneja. Um brinde
para o leitor e entusiasta do nosso folclore.
O Dia de São
João, refere-se a João Batista, primo de Jesus e que o batizou no rio Jordão.
Filho de Isabel e Zacarias, João Batista tinha mais ou menos a mesma idade de
Jesus, recebeu missões importantíssima do alto, chegando a ser exaltado pelo
Mestre em dizer que filho de mulher ninguém fora maior do que João Batista.
Amadíssimo no Brasil e notadamente no Nordeste brasileiro, tem como um dos seus
fortes símbolos, a fogueira que significa luz, a luz de cristo e aquela
fogueira que Isabel fez para celebrar a gravidez de Maria. O dia de São João no
Nordeste brasileiro é esperado o ano inteiro, sendo nessa região a maior de
todas as festas. Celebra as chuvas no semiárido, a esperança, a fartura na
agricultura e na pecuária. É São João do carneirinho, abençoando o
mundo.
Em nosso
livro O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema, já
publicado, um dos boxes, “Memorial Vivo”, está descrito, modéstia à parte,
magnificamente o São João dos anos 60, na Rua Antônio Tavares e que representa
uma crônica abrangente para todo o nosso semiárido da época. Era a Rua da
Cadeia Velha, a Rua dos Artífices, realizando o grande espetáculo do ano com
sua fila quase infinita de fogueiras, bombas, diabinhos, rojões, chumbinhos,
traques, beijos-de-moça, peido-de-velha, foguetes e balões. José
Urbano era o primeiro a acender a fogueira e Manezinho Chagas, o último a tocar
fogo no monte de lenha. Nem vamos falar das comidas e bebidas típicas que
continuam as mesmas, porém a fogueira, símbolo maior, encontra-se em extinção
com a chegada do asfalto e a nova consciência ecológica.
No local onde
moro, no princípio foram construídas 18 casas (uma delas é a minha) receberam o
título de Conjunto São João. A Priore, diz assim a Maçonaria: “Louvemos a São
João, nosso padroeiro”.
CARRINHO DE CARNEIRO (FOTO DE AUTOR NÃO IDENTIFICADO).
O carrinho de
carneiro no Sertão de Alagoas, tendo iniciado por algum artesão amoroso, caiu
no gosto popular e se expandiu no semiárido. O que era apenas brincadeira
curiosa de um artífice, hoje já se mostra até como carros de carneiro
profissionais. Muitos carreiros aproveitam as festas de carros de boi de várias
cidades sertanejas para exibirem seus carros de carneiro que se apresentam cada
vez mais sofisticados. Todos os arreios usados tradicionalmente pelo boi de
carro, estão agora sendo usados também pelos carneiros de carro. É a testeira
desenhada, é o sininho, é a canga bem ornada, deixando os carneiros com
respeito de bicho grande. O carro não é mais tão simples, colocam até cargas
como se fossem um castelo e disputam em beleza e criação com os gigantes carros
de boi.
A brincadeira
inicial de carro de brinquedo, agora virou carro profissional na fazenda de que
o possui. Faz os mesmos serviços do carro de boi e já existe o aumento de
volume e de peso para essas pobres criaturas carregarem. Assim vimos transporte
de capim (figura abaixo) de palma forrageira, de madeira, de produtos da
roça... E tudo isso caiu na rotina sertaneja, na normalidade que precisa ser
acompanhada por autoridades responsáveis pelo bem-estar dos animais. Não
sabemos dizer se existe vara de ferrão, limite de peso e horas trabalhadas com
os carneiros, isto é, o que nos parece bonito e mimoso pode estar sendo usado
por mãos erradas, embora o dono de carro de carneiro, geralmente seja amoroso
com seus animais e grande zelador.
Difícil é você
comprar um carrinho de carneiro, porque o dono se apega ao conjunto. Os
carneiros que ele treinou desde novinhos quase como borregos, o amor crescente
com o tempo e a lida e ainda com a arte do mestre artesão que fez o carrinho.
Também não temos hoje uma avaliação de venda nem de um carro de boi e nem de um
carrinho de carneiro, com os animais e sem os animais. Você pode apreciá-los
melhor nas festas que envolvem carro de boi em Inhapi, Poço das Trincheiras e
São José da Tapera, onde os carrinhos desfilam causando admiração e carinho de
todos.
Dos maiores protetores de Virgolino nas regiões de Sergipe, destacam-se duas famílias: Família Carvalho, de Eronildes, e seu pai Antônio Caixeiro; e a Família Britto, de Francisco Porfírio e seus filhos.
Enquanto trabalhava como almocreve e com couro, Virgolino mantivera contato com a família Britto por muitos anos, cerca de doze ou mais; onde, não só conseguiu um bom dinheiro como também uma grande amizade e um grande futuro protetor das regiões de Sergipe e Alagoas.
Delphina de Lima Britto, Dona Fina, e Francisco Porfírio de Britto, o Chico Porfírio, eram os pais de Hercílio Britto e Antônio de Lima Britto, o Totoinho Britto, os seus principais coiteiros do cangaceiro Lampião. O clã era espalhado por toda a região de Sergipe e Alagoas, eram donos de inúmeras fazendas e terras, como, por exemplo, as fazendas Cuiabá, Canindé, Telha, Patos, Félix Deserto, Pedra D'água, Planta Milho, e tantas outras.
João Ferreira, quando se instalou em Propriá/SE, teve contato com Hercílio e sua família, ficando amigos por muito tempo. Em outubro de 1930, da passagem do bando para o estado de Sergipe, Lampião ficou hospedado na fazenda Jundiaí, de Hercílio Britto, onde, à noite, foi levado para a morada do seu irmão (de Lampião), conseguindo ainda assistir a passagem da tropa revolucionária de Juarez Távora, no momento sendo comandada pelo Tenente Juracy Magalhães.
Além da proteção garantida, O Cego recebia também armamentos e munições da família do Baixo São Francisco. Desde a prisão de Volta Seca e sua entrevista para os jornais que o jovem bandoleiro afirmava como sendo os Britto's principais fornecedores de armas para o bando; inclusive, entre esse ano, ocorreu uma varredura nas fazendas do Clã, conseguindo encontrar cerca de oito rifles e fartas caixas de munições.
Fato interessante de citar é de João Bezerra ser um "aparentado" dessa família. João acaba se casando com Crya Gomes de Britto, filha de Francisco Correa de Britto e de Emiliana Gomes de Britto, neta do Coronel Antônio Britto, o Antônio Menino (filho de Porfírio Romão de Britto Chaves) - Antônio Menino era irmão de Chico Porfírio -.
Crya nasceu no interior de Alagoas, no município de Piranhas, em 12 de março de 1915, e brincou entre a fazenda Gerimum e sua casa, juntamente com seus 14 irmãos. Casou-se com João em 1935, prometida por seu avô. Aos 21 anos de idade, incentivou as campanhas de seu marido contra os cangaceiros. Quando chegava seu esposo com sua volante, transformava a sua casa em uma improvisada enfermaria e hospedaria, ajudando quem quer que fosse.
Na morte de Virgolino, pelas forças volantes comandadas por Bezerra e demais, a fazenda Cuiabá, de Chico Porfírio, foi a principal que abriu as portas para os sub-grupos decidirem se continuariam ou iriam se entregar para as forças policiais. E, através desse contato do Tenente com os Britto, além também de Joca se safar da morte, o vaqueiro Domingos Ventura, da fazenda Patos, de Antônio Menino, acaba sendo cruelmente morto junto com seis membros de sua família, em uma falhada vingança do Diabo Loiro.
Nesse breve resumo, podemos ver as influências que essa família teve com o cangaço, principalmente com o reinado Lampiõnico, favorecendo ou desfavorecendo o afamado Capitão. Com as palavras de Archimedes: “pelos Britto ele sobreviveu, mas pelos Britto ele também morreu."