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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A origem do topônimo Favela na geografia urbana brasileira


(*) José Romero Araújo Cardoso

Forrageira nativa do semiárido nordestino, encontrada em todos os Estados da região, a favela (Cnidoscolus phyllacanthus (Muell. Arg.) Pax. Et K. Hoffman) é um arbusto de grande porte da família das Euphorbiaceae bastante consumido pelo animais, sobretudo quando das grandes secas.

Seus espinhos urticantes e o látex que exsudam quando os galhos são cortados, consistem nas características botânicas mais proeminentes apresentadas por esta planta das caatingas.

Quando da guerra de Canudos, tropas do Exército Brasileiro concentraram-se no Morro da Favela, o qual tinha essa denominação devido a profusão impressionante dessa espécie vegetal bastante comum na região onde se desenrolavam os conflitos no sertão baiano.

Diversos soldados do contingente carioca que regressara após concluído o massacre do aldeamento místico erguido sobre a ênfase das pregações carismáticas de Antônio “Conselheiro”, devido razões econômicas, pois deixaram de receber o soldo mensal e não puderam mais custear a permanência nas antigas habitações que ocupavam antes do conflito sertanejo, começaram a ocupar o Morro da Providencia, localizado atrás da Estação Ferroviária Central do  Brasil, no centro da cidade do Rio de Janeiro.

Alguns militares, veteranos da campanha de Canudos, trouxeram sementes da planta do semiárido nordestino, a qual foi introduzida com sucesso no solo árido existente nas adjacências do Morro da Providência.

Houve impressionante expansão das faveleiras pela encosta do morro, dando ênfase para que houvesse correlação com o acidente geográfico no qual se estabeleceram no sertão baiano, pois à semelhança com o morro da favela imperava no lugar a ausência de infraestrutura que permitisse mínima condição de existência para os moradores que se instalaram na Providência.

Discussões constantes, contendas por motivos fúteis e banais, integravam de forma indelével a paisagem no Morro da Providência, referendando ainda mais a decisão dos moradores em denominar de “Favela” o local onde construíram suas moradias insalubres.

Com a intensificação da campanha sanitarista levada avante pela equipe comandada pelo médico Oswaldo Cruz, cujo combate ao mosquito Aedes Aegypti, transmissor de doenças tropicais como a febre amarela e a dengue, as quais transformavam o Rio de Janeiro no calvário de estrangeiros e nativos, fomentou a vacinação obrigatória da população e o desalojamento dos habitantes dos cortiços, bem como a destruição destes, localizados em áreas atualmente hipervalorizadas, como a Avenida Vieira Souto.

A população de baixíssima renda, sem condições de ocupar outros espaços urbanos que não fossem os morros, começaram a seguir os passos dos militares cariocas que retornaram de Canudos.

Houve exponencial formação de aglomerados subnormais que passaram a ser denominados de “Favelas”, o que popularizou extraordinariamente o topônimo na geografia urbana brasileira.

Ainda marcadas pela ineficiência ou mesmo ausência da ação do Estado em prol da melhoria das condições de vida da população, as “Favelas” brasileiras revelam indicadores sociais e econômicos que atestam as diferenças interclasses que caracterizam a sociedade desde os primórdios da colonização, pois a preponderância de negros e mestiços instiga reflexão de que as mesmas constituem a reedição das antigas senzalas de outrora.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.

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