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terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

ZÉ DE BELA, COSTUREIRO, SAPATEIRO E COITEIRO DE LAMPIÃO.

Por Rangel Alves da Costa

Os de boa memória em Poço Redondo ainda recordam de Zé de Bela, o modista, o homem da tesoura milagrosa e que transformava peças de pano e pedaços de couro em verdadeiras obras de arte. Contudo, poucos conhecem suas relações com o Cangaço.

Sertanejo de porte alto, de gestos ligeiros, cabelos lisos e rosto encovado. Originário das beiradas do São Francisco, sempre lembrado como nascido em Curralinho, mas seu outro apelido indica que pode ter nascido do outro lado do rio, na Ilha do Ferro, pois também conhecido como Zé da Ilha.

De qualquer modo, em Curralinho fixou residência até tomar outros destinos. Algum tempo morou no sul do país, para depois retornar e fixar residência na cidade de Poço Redondo, no mesmo endereço do amigo Ercílio, igualmente exímio artista do couro.

Suas peças, tanto de couro como de tecido, tornaram-se famosas do sertão ao sul. As encomendas eram muitas, o que quase o deixava sem tempo para outras ocupações. Mas de repente lhe apareceu um cliente mais que inesperado: Lampião.

Em meados da década de 30, quando o cangaço teve forte presença no sertão sergipano, então começaram a chegar, por indicação de Delfina Fernandes da Pedra D’água (em Canindé) as encomendas do Capitão. A partir daí aprimorou sua maestria. Embornais cuidadosamente trabalhados, com frisos coloridos, vistosos, com flores bordadas, botões dourados e da melhor qualidade. Costurava também camisas, vestidos e calças, e passava alongados dias aprontando calçados.

Tal relação entre o rei cangaceiro e o costureiro acabou em grande amizade e em exercício da mútua confiança, o que tornou Zé de Bela também numa espécie de coiteiro, fiel mensageiro e auxiliar do mundo cangaceiro em suas necessidades. Nos anos 30, enquanto a cangaceirama estava acoitada na região de Poço Redondo e Zé de Bela seguiu até o local para entregar encomendas, então Lampião o chamou num canto e pediu para que o amigo fosse mensageiro de uma importante mensagem.

Solicitou que o amigo, conhecedor de toda aquela região, fosse levar um recado à cangaceira Rosinha, que havia ido passar uns dias na casa dos pais e ainda não havia retornado. Zé de Bela seguiu até o local, vigiou, certificou-se da presença da viúva de Mariano, e então bateu à porta para dizer que Lampião aguardava seu retorno sem demora, sob pena de ser forçada a ir de qualquer jeito.

Ainda assim, Rosinha não atendeu o chamado. Dias após, soube da tragédia ocorrida com a ex-cangaceira, pois morta por outros cangaceiros (Zé Sereno, Juriti, Balão e Vila Nova) a mando de Lampião. Acaso tivesse ouvido e atendido o recado dado por Zé de Bela, certamente Rosinha não teria tido um fim tão trágico.

Ao sentir que a cangaceira não atenderia a ordem para retornar, entre as matas, no caminho de volta, o coiteiro e costureiro parecia ter seu coração ferido por todos os espinhos daquele impiedoso mundo. Mas nada podia fazer. Havia apenas cumprido ordem do rei cangaceiro.

Depois que soube da morte da cangaceira, Zé de Bela se entregou ao pranto e com semblante entristecido permaneceu por muito tempo. Evitava falar em cangaço e bordou para si mesmo uma toalha repleta de flores negras. Lágrimas de dores e de tristezas foram ali enxugadas.

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