Os de boa
memória em Poço Redondo ainda recordam de Zé de Bela, o modista, o homem da
tesoura milagrosa e que transformava peças de pano e pedaços de couro em
verdadeiras obras de arte. Contudo, poucos conhecem suas relações com o
Cangaço.
Sertanejo de
porte alto, de gestos ligeiros, cabelos lisos e rosto encovado. Originário das
beiradas do São Francisco, sempre lembrado como nascido em Curralinho, mas seu
outro apelido indica que pode ter nascido do outro lado do rio, na Ilha do
Ferro, pois também conhecido como Zé da Ilha.
De qualquer
modo, em Curralinho fixou residência até tomar outros destinos. Algum tempo
morou no sul do país, para depois retornar e fixar residência na cidade de Poço
Redondo, no mesmo endereço do amigo Ercílio, igualmente exímio artista do
couro.
Suas peças,
tanto de couro como de tecido, tornaram-se famosas do sertão ao sul. As
encomendas eram muitas, o que quase o deixava sem tempo para outras ocupações.
Mas de repente lhe apareceu um cliente mais que inesperado: Lampião.
Em meados da
década de 30, quando o cangaço teve forte presença no sertão sergipano, então
começaram a chegar, por indicação de Delfina Fernandes da Pedra D’água (em
Canindé) as encomendas do Capitão. A partir daí aprimorou sua maestria.
Embornais cuidadosamente trabalhados, com frisos coloridos, vistosos, com
flores bordadas, botões dourados e da melhor qualidade. Costurava também
camisas, vestidos e calças, e passava alongados dias aprontando calçados.
Tal relação
entre o rei cangaceiro e o costureiro acabou em grande amizade e em exercício
da mútua confiança, o que tornou Zé de Bela também numa espécie de coiteiro,
fiel mensageiro e auxiliar do mundo cangaceiro em suas necessidades. Nos anos
30, enquanto a cangaceirama estava acoitada na região de Poço Redondo e Zé de
Bela seguiu até o local para entregar encomendas, então Lampião o chamou num
canto e pediu para que o amigo fosse mensageiro de uma importante mensagem.
Solicitou que
o amigo, conhecedor de toda aquela região, fosse levar um recado à cangaceira
Rosinha, que havia ido passar uns dias na casa dos pais e ainda não havia
retornado. Zé de Bela seguiu até o local, vigiou, certificou-se da presença da
viúva de Mariano, e então bateu à porta para dizer que Lampião aguardava seu
retorno sem demora, sob pena de ser forçada a ir de qualquer jeito.
Ainda assim,
Rosinha não atendeu o chamado. Dias após, soube da tragédia ocorrida com a
ex-cangaceira, pois morta por outros cangaceiros (Zé Sereno, Juriti, Balão e
Vila Nova) a mando de Lampião. Acaso tivesse ouvido e atendido o recado dado
por Zé de Bela, certamente Rosinha não teria tido um fim tão trágico.
Ao sentir que
a cangaceira não atenderia a ordem para retornar, entre as matas, no caminho de
volta, o coiteiro e costureiro parecia ter seu coração ferido por todos os
espinhos daquele impiedoso mundo. Mas nada podia fazer. Havia apenas cumprido
ordem do rei cangaceiro.
Depois que
soube da morte da cangaceira, Zé de Bela se entregou ao pranto e com semblante
entristecido permaneceu por muito tempo. Evitava falar em cangaço e bordou para
si mesmo uma toalha repleta de flores negras. Lágrimas de dores e de tristezas
foram ali enxugadas.
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