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quinta-feira, 10 de abril de 2025

VINGANÇA NÃO !

 Por Francisco Frassales Cartaxo

Chico Pereira

Em crônica anterior, falei do padre Francisco Pereira Nóbrega e hoje escrevo sobre o livro “Vingança, não - Depoimento sobre Chico Pereira e cangaceiros do Nordeste”. Não se trata de livro de história nem de memória. Tampouco é romance ou novela, embora o autor tenha lançado mão de recursos ficcionais, a exemplo de recriação de monólogos para imprimir lógica ao fluxo narrativo e torná-lo verossímil.

O foco do livro é conhecido.  Chico Pereira entra no crime para vingar a morte do pai, João Pereira, comerciante, proprietário rural e político em Sousa, com atuação no distrito de Nazaré e em São Gonçalo.  O filho prendeu e entregou à polícia o executor da morte do pai, mas com pouco tempo o viu impune, andando livre pelas ruas, em feiras e festas. Um acinte. Depois de muita tocaia, “Zé Dias foi achado morto no meio da estrada. Estendido no chão. Só ele e a morte. E ninguém mais por testemunha”, escreve padre Pereira.

Francisco Frassales Cartaxo

A partir daí, desencadeia-se o processo de formação de bando de cangaceiros. Chico Pereira planeja assaltar Sousa, ajudado por Lampião, que manda dois irmãos, Antonio e Livino Ferreira, dividir o comando das operações. Em 27 de julho de 1924, à frente de 84 homens, o grupo invade Sousa. Houve saques, cenas de humilhação do juiz de direito e outros fatos narrados com sutileza para não reabrir feridas, penso. O livro repassa, também, episódios que envolvem padre Cícero Romão Batista, políticos paraibanos e o advogado Café Filho; fugas, esconderijos, a morte vestida de cobra venenosa; o descumprimento de acordos com autoridades, a prisão sem resistência em Cajazeiras, em plena Festa da Padroeira, e levado para a cadeia de Pombal. A viagem para a morte na estrada de Currais Novos, nas mãos da polícia, na madrugada de 28 de outubro de 1928. Tudo isso Francisco Pereira Nóbrega narra em 20 capítulos, afora nota explicativa, uma foto e um croquis das andanças do pai em terras da Paraíba, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Quarenta e cinco anos depois de publicada, a obra virou peça de teatro e já poderia ter-se tornado filme. É livro perene, um depoimento original, nascido de dentro para fora. Explico. Centenas de livros versam acerca do cangaço, escritos por sociólogos, memorialistas, historiadores, jornalistas, enfim, estudiosos, mas poucos existem como “Vingança, não”. O autor não vivenciou a maioria dos fatos narrados. Ouviu-os da boca de parentes e amigos. Cresceu a escutar as versões familiares. Não se contentou com isso, porém, e durante dois anos checou datas, nomes, lugares e episódios em consultas a processos judiciais, testemunhas e jornais da época.

Local da morte de Chico Pereira

O livro encerra aspectos relevantes para as pesquisas históricas, sociológicas e políticas da fase final da República Velha, auge do coronelismo, o intricado sistema de relações de poder que nascia no interior dos municípios, propagava-se pelas capitais dos estados e chegava ao centro das decisões políticas e administrativas do País. Essa teia de relações de poder aparece despida no livro, envolta em simplicidade narrativa de fazer inveja. Como se forma um bando de facínoras? Lá está, passo a passo, sob o influxo das injunções políticas interferindo nas atividades comerciais, envolvendo o judiciário, o aparelho policial, as autoridades do executivo estadual, numa promiscuidade que era a própria essência do poder na Primeira República. 

Nem a religião escapava dessa urdidura. O autor descreve a esperança que era ir a Juazeiro em busca das bençãos do padre Cícero. Pereira Nóbrega produz uma síntese quase perfeita do messianismo e a exploração política que o cerca, ao referir-se ao mandachuva, deputado Floro Bartolomeu: “Sem ser beato nem cangaceiro, será o ângulo onde se encontram ambos. Sobre essa dupla força se firmará para atingir alturas que jamais suspeitou.” Para quem nada era e nada tinha, isso foi tudo. Enfeite de ficcionista? Que nada, realidade pura. 


Floro Bartolomeu e Padre Cícero

Tudo isso está escrito com singeleza, sem rebuscadas técnicas literárias, de permeio com o desenrolar de laço amoroso nascido entre “manso e pacato contratante de cal” e uma menina-moça de 12 anos, órfã de pai, assassinado, que casa por procuração aos 14, e enviúva aos 17 anos, com a herança de três filhos e o estigma de mulher de cangaceiro. “Vingança, não” transpira amor em meio à tragédia sertaneja. 

Esta crônica, publicada no jornal Gazeta do Alto Piranhas, Cajazeiras, nº 325, de 04 a 10/03/2005, foi revisada e ampliada para divulgação no www.cariricangaco.com

P S – Francisco Pereira Nóbrega deixou a batina, casou-se, teve filhos. Fez-se professor, escritor, cronista. Afastou-se do ministério, mas continuou a obra de evangelização. Sua última missão foi dedicar-se ao Catecumenato. Morreu em João Pessoa, em 22 de janeiro de 2007.

Francisco Frassales Cartaxo
Recife - Pernambuco

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RUA DA PRAIA

 Clerisvaldo B. Chagas, 8 de abril de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.223


Mais ou menos na década de 60, havia um enorme areal à margem esquerda do rio, em Santana do Ipanema, mais ou menos do tamanho de um estádio. Ficava exatamente entre o leito propriamente dito e um caminho ladeado com aveloz que ia do prédio da Perfuratriz – final da Rua São Paulo – ao beco de Seu Ermírio à jusante. O terreno repleto de areia grossa, trazida outrora pelas enchentes do rio, pertencia ao considerado “Torcedor Número Um” do time Ipanema, Otávio Marchante. Como há décadas o rio não botava cheia que invadisse o areal da margem, um cidadão chamado Seu Euclides, comprou o terreno a Otávio Marchante saiu construindo casitas pelo caminho citado ao longo do terreno. A fileira de casitas de um lado e do outro para alugar à pobreza, recebeu o nome do próprio dono de RUA DA PRAIA.

Com o tempo ali foi fundada uma associação de moradores, erguida uma igreja e, no lugar da Perfuratriz demolida, uma sede da associação com primeiro andar. No final da Rua da Praia, o filho do Senhor Euclides, Luiz, construiu um pequeno estádio dotando-o do que era possível para o lazer da comunidade. E assim, cerca de sete décadas depois, o rio Ipanema, abusado com tantas construções em seu Leito e no seu afluente, riacho Camoxinga, resolveu tomar o que era seu e saiu fazendo arrasos pelas suas margens urbanas, pintando o sete, mas sem matar ninguém. Agora as ruínas das casas da cheia estão sendo demolidas. Isso evita acidente com desmoronamento, cobras, ratos, baratas, escorpiões e outras mazelas.

E o que nós vimos, através da Internet, é de cortar coração. Uma comunidade inteira teve que se mudar para casas novas em região mais alta. Desde início eu já sabia que o terreno arenoso era do rio. Assim também houve vários desse erro em diversas partes da cidade. A propósito, essa região da margem do Ipanema, faz parte do quase epicentro do meu novo romance AREIA GROSSA, dramas sociais dos anos 60-70, drama social do século XXI. Por esses dias estarei convidando alguns escritores e autoridade para conhecermos o cenário completo inspirador de AREIA GROSSA.



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ESTADUAL.

 Clerisvaldo B. Chagas, 7 de abril de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.222


Poderíamos ter dito no início: “O Colégio Estadual Deraldo Campos, estar localizado além do Aterro. E para quem não sabe, ainda hoje o trecho da antiga rodagem Maceió – Delmiro Gouveia, que passava pela periferia de Santana, foi aterrado, passando a ser sua via-expressa. Do centro para o Colégio era preciso um rodeio grande. Sem rodeio, somente a pé enfrentando uma pinguela sobre o riacho Camoxinga, vizinho ao Estadual. Os tempos mudaram, a região além do Aterro, encheu-se de ruas e mais ruas e, após uma laje colocada no riacho substituindo a pinguela de coqueiro, na gestão Genival Tenório, eis que o saudoso prefeito Isnaldo Bulhões, construiu uma ponte de verdade. Com o complemento do viaduto no Aterro, construído pelo gestor Paulo Ferreira, o Comércio foi ligado dignamente ao Colégio Estadual já com o nome de Prof. Mileno Ferreira da Silva.

O Colégio Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva e o seu entorno, estão situados sobre a foz entulhada do riacho Camoxinga que depois do entulhamento, procurou um desvio para chegar ao seu coletor, o rio Ipanema. A rua do Estadual e a rua, imediatamente por trás do Estadual, limitam o aterramento da antiga foz do riacho Camoxinga. (Tese geográfica, nossa). Os primeiros conhecimentos que tivemos da região foi como antiga estrada para a serra do Poço por ande trafegavam com animais de cargas, os primeiros habitantes da serra. Havia no centro do entulhamento que formou uma pequena planície de aluvião, a casa de fazenda do senhor Frederico Rocha que foi interventor municipal em Santana no ano de 1930 e que construiu a segunda praça de Santana, defronte a Matriz de Senhora Santa Ana e que levou o título de Praça Coronel Manoel Rodrigues da Rocha.

Na frente da casa branca de fazenda do senhor Frederico, chamava atenção um belíssimo “pé de príncipe” e que enfeitava a entrada da casa. O Exército comprou a fazenda, demoliu tudo e construiu o quartel que logo ficou ocioso e foi ocupado pela escola do estado. Nos bastidores se dizia que o lugar da construção, estava estrategicamente errado. Mas graças a Deus no lugar errado, o Colégio Estadual foi a primeira escola pública de Santana a funcionar com os falados primeiro e segundo graus. (Quinta série em diante).

PONTE DO ETADUAL GESTÃO ISNALDO BULHÕES. LIVRO 230. ANTES, LAJE À GUISA DE PONTE, GESTÃO GENIVAL TENÓRIO. LIVRO 230. ALUNOS VÃO VISITAR O ABRIGO SÃO VICENTE. GESTÃO ESTADUAL B. CHAGAS.



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INACINHO E EU.

Por Geraldo Júnior

É sempre um grande prazer encontrar-se com os velhos e queridos amigos de longa data. Faz alguns anos que não nos víamos pessoalmente, mas a nossa amizade sempre permaneceu viva mesmo à distância. Recentemente tive a honra de participar junto com ele de uma matéria do Jornal O Globo que foi produzida pelo amigo jornalista Élcio Braga, onde foi abordada parte de sua biografia, assim como a história de seus pais, os ex-cangaceiros Moreno e Durvinha, que fizeram parte do bando de Lampião. A história do meu amigo Inácio Carvalho de Oliveira "Inacinho" é simplesmente uma das mais ricas e emocionantes ao que diz respeito aos "filhos do cangaço".

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ANILDOMÁ WILLIANS E EU.

Por Geraldo Júnior

Um reencontro com o amigo Anildomá Willians, diretor do museu do cangaço de Serra Talhada, Pernambuco. O maior e mais completo museu referente ao cangaço de toda a região Nordeste e sem contar que fica situado na cidade natal de Lampião. Indo ao Nordeste... visite o museu. História pura.

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PAULO VIEIRA E EU.

Por Geraldo Júnior

Em companhia do apresentador Paulo Vieira durante as gravações do quadro do Programa AVISA LÁ QUE EU VOU da TV Globo.

Agradeço ao Paulo Vieira pela atenção, receptividade e por toda a sua simplicidade no trato com os seus convidados e auxiliares, assim como à toda a sua equipe de produção e à direção da TV Globo.
Momentos inesquecíveis que ficarão para sempre em minhas lembranças e que muito contribuirão para a divulgação e preservação da história cangaceira nordestina.
Meus agradecimentos.
Atenciosamente:
Geraldo Antônio de Souza Júnior.

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REENCONTRANDO AUTORIDADE DO CANGAÇO

Por Geraldo Júnior

Frederico Pernambucano de Melo

Reencontrando o mestre Frederico Pernambucano de Melo, nossa referência maior relacionada às pesquisas, estudos e documentação da história do cangaço. Autor de livros fantásticos à exemplo de "BENJAMIN ABRAHÃO: ENTRE ANJOS E CANGACEIROS", "A ESTÉTICA DO CANGAÇO", "GUERREIROS DO SOL", que serviu como referência para a produção da telenovela que está sendo produzida pela Rede Globo de Televisão e que leva o mesmo título do livro, entre tantos outros trabalhos que tratam sobre o tema em questão. Apesar de sua importância no meio em que atua, é um homem de extrema educação e simplicidade. Digno do meu mais profundo respeito e consideração.

Frederico Pernambucano de Melo e Geraldo Antônio de Souza Júnior

O encontro com o mestre Frederico Pernambucano de Melo ocorreu na cidade pernambucana de Recife no último dia 05 de abril de 2025, durante visita que fizemos à sua residência.
Resta-me agradecê-lo pela receptividade e atenção que foram à mim proporcionadas durante a visita.
Informando à todos que o professor Frederico Pernambucano de Melo está a frente do projeto que dará início à criação de um museu relacionado ao cangaço e ao Nordeste em Recife, Pernambuco, que contará com a exposição do seu gigantesco acervo de peças históricas que fizeram parte da história cangaceira, sendo muitas delas pertencentes ao famoso casal-cangaceiro Lampião e Maria Bonita. Em breve trarei maiores esclarecimentos sobre esse assunto.
Fica o registro!

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quarta-feira, 9 de abril de 2025

O FOGO DO COITÉ

 Por Geziel MouraIgreja do Coité e Padre Lacerda

A história do cangaço é muito fascinante, e nem sempre cangaceiros, volantes e civis, que foram às armas. Em janeiro de 1922, quem pegou nelas foi o representante da igreja, o Padre Lacerda. Esse acontecimento se deu, na época que Lampião e seus irmãos, eram simples cabras de Sinhô Pereira, e atuavam na região do Cariri Cearense, a história é mais ou menos assim:
Após a morte do Coronel Domingos Leite Furtado, poderoso chefe político em Milagres (CE), no ano de 1918, o seu braço armado, o Major José Inácio de Sousa, fazendeiro abastado no município do Barro (CE), conhecido como Zé Inácio do Barro, passou a assediar a família do falecido, reclamando que o Coronel Domingos Furtado devia certa quantia a ele, por serviços prestados, o que produziu inimizades entre as família Furtado e Zé Inácio do Barro.
Major Zé Inácio do Barro
Antonio Vilela, Sousa Neto, Dr Leandro Cardoso, Jorge Remígio, Manoel Severo e Ivanildo Silveira na visita do Cariri Cangaço a 
Fazenda Nazaré do cel. Domingos Leite Furtado

Cabe, neste momento, uma explicação: Zé Inácio era conhecido protetor de cangaceiros, assim como outros coronéis no Cariri cearense, inclusive, Sinhô Pereira e seu bando, estavam na folha de pagamento daquele Major, tendo, ainda, seu filho, Tiburtino Inácio de Souza, vulgo Gavião, no bando de Pereira, isto denuncia, que nem sempre a constituição de um cangaceiro, era por conta da pobreza.
Hilário Lucetti e Magérbio de Lucena nos conta, em sua obra "Lampião e o Estado Maior do Cangaço", que o Sítio Nazaré, da viúva do Coronel, D. Praxedes de Lacerda foi assaltado, em Janeiro de 1919, por grupo de cangaceiros, comandado por Gavião, filho do Major Zé Inácio do Barro.
Assim, após ser denunciado como mandante do assalto, Zé Inácio, não esconde o feito, mas diz que aquele dinheiro era dele, por anos de serviços prestados ao Coronel Domingos Furtado, e ainda o chamou de ladrão, pronto estava aberta a questão entre as famílias, principalmente na figura do Padre José Furtado de Lacerda, ou simplesmente, o Padre Lacerda, pároco da Vila de Coité, pertencente ao município de Mauriti (CE).

 Caravana Cariri Cangaço e a visita ao Coité de Padre Lacerda em Setembro de 2013
Manoel Severo, Sousa Neto, Antônio Amaury e Dr Leandro em conferência sobre o Fogo do Coité na própria igreja local
Luitgarde Barros, Daniel Apolinário e Dr Lamartine Lima na 
Conferencia do Cariri Cangaço no Coité
Insultos vão, insultos veem, entre o Padre Lacerda e o Major Inácio do Barro e o certo é que no dia 20 de janeiro de 1922, a pequena Coité é invadida pelo grupo de Sinhô Pereira, à frente com setenta cangaceiros. Entretanto, o Padre Lacerda, não usava somente a Bíblia e terços em seus ofícios, era possuidor de rifle e um bom contingente de homens, bem armados e municiados.
Segundo, o escritor Sousa Neto, que biografou o major Zé Inácio do Barro a resistência vinha da casa do Padre Lacerda, e sustentou o fogo por seis horas, forçando uma retirada dos cangaceiro, ao chegar soldados da policia de Mauriti e Milagres.
Ainda, segundo aquele autor, o bando de Sinhô Pereira fora atacado no dia seguinte, na Fazenda Queimadas, por aquelas volantes, sendo necessário dividir o grupo em três, um grupo com Lampião, outro com Baliza e o resto com o chefe Sinhô Pereira, desta forma conseguiram furar o cerco, e seguir para o coito, no Barro. O saldo do Fogo do Coité, foram três homens do Major, e diversos cangaceiros feridos, inclusive Antônio Ferreira. Padre Lacerda não era fácil.
Geziel Moura , Pesquisador
24 de novembro de 2017
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LAMPIÃO: A RAPOSA DAS CAATINGAS – IMPRESCINDÍVEL E INDISPENSÁVEL PARA QUEM ESTUDA O NORDESTE BRASILEIRO

 Pelo o saudoso José Romero de Araújo Cardoso


Finalmente atrevi-me terminar de ler o extraordinário livro de autoria do renomado escritor e pesquisador José Bezerra Lima Irmão, intitulado Lampião: A Raposa das Caatingas, pois denso, riquíssimo em informações e bem estruturado em suas abordagens sobre o personagem principal e sobre o nordeste de uma época, perfazendo mais de setecentas páginas bem escritas, setecentas e trinta e seis, para ser mais preciso, consiste-se em verdadeiro desafio concluir sua leitura, tendo em vista a forma envolvente como prende o leitor às minúcias de uma pesquisa séria e compenetrada que levou onze anos para ser concluída, a qual, utilizando metodologia eclética e bem selecionada, tem garantido lugar de destaque entre os grandes clássicos escritos sobre o Lampião, o cangaço e o Nordeste em todos os tempos. 

Concordo, em parte, com o autor quando este defende que a história do nordeste brasileiro resume-se basicamente às figuras de Lampião, Padre Cícero e Antônio Conselheiro. Na minha humilde opinião, creio que faltou inserir o nome do grande evangelizador dos sertões nordestinos – “Coronel” Delmiro Augusto Gouveia Farias da Cruz, para quem trabalharam, exercendo o ofício de almocreve, Lampião e familiares, transportando, assim como diversos anônimos, algodão e outros produtos regionais a fim de contribuir para movimentar a produção da sofisticada fábrica de linhas Estrela da Villa da Pedra, em Alagoas. Esses personagens destacaram-se, no espaço e no tempo, fomentando expressivos momentos da história nacional nos quais suas atuações notabilizaram-se pela atenção despertada além divisas regionais e fronteiras pátrias. 
Manoel Severo e José Bezerra Lima Irmão

A objetividade que embasa o trabalho de fôlego de José Bezerra Lima Irmão é um dos pontos altos da imensa contribuição efetivada pelo responsável escritor e pesquisador, pois conclama que os leitores tirem suas conclusões sobre os assuntos abordados, tornando-os figuras de destaque na leitura da obra. A estrutura didática sobre a qual ergue-se Lampião: A Raposa das Caatingas, em segunda edição, publicada em Salvador (Estado da Bahia) pela JM Gráfica & Editora, no ano de 2014, destaca duzentos e quarenta capítulos, iniciando com A figura de Lampião emoldurada no contexto histórico e no ambiente em que viveu, sendo concluída com importante abordagem sobre a sombra de Lampião, por título Corisco, o último cangaceiro.  

O autor faz questão de frisar que o Lampião enfocado em sua obra não seja visualizado nem como herói e nem como bandido e sim como produto de sua época, um cangaceiro, pois “O Nordeste até quase o meado do século XX era uma terra de cangaceiro. Ser cangaceiro era moda” (LIMA IRMÃO, 2014, p. 17). Um dos grandes momentos da obra, conforme constatei, é a própria valorização do nordeste em seus fundamentos humanos, pois o autor conseguiu compreender a região em seus aspectos mais incisivos, a exemplo da defesa referente à ortopéia popular, ou seja, o linguajar rude do matuto, o qual assinala a forma de falar do povo do sertão, tendo em vista que Lampião e seus cangaceiros falavam e se expressavam como a gente simples da qual faziam parte. 

Kydelmir Dantas, Mucio Procópio, Manoel Severo, Romero Cardoso e Antonio Vilela

Mesmo tendo se passado mais de setenta anos de sua possível morte na grota de Angico, ao lado de dez cangaceiros e um praça volante, Lampião suscita polêmicas, dúvidas e incertezas, as quais são analisadas de forma inteligente e bem articuladas por José Bezerra Lima Irmão. Virgulino Ferrreira da Silva integrou um nordeste marcado pela violência, pelo desejo de vingança, tornando-se arquétipo de uma raça altiva e forte, vem sendo estudado há décadas por autores nacionais e por brasilianistas, mas a forma ímpar como foi inserido como personagem principal na pesquisa metódica e compenetrada de José Bezerra Lima Irmão destaca sua importância incontestável na história regional.

*José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Sócio da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP).

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LAMPIÃO DOS PÉS À CABEÇA...

 Por José Mendes Pereira

Se você quer conhecer dos pés á cabeça o rei do cangaço "o CAPITÃO  LAMPIÃO", adquira com urgência este maravilhoso livro, "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS".

José Bezerra Lima Irmão

Este livro foi organizado durante 11 anos, pelo escritor e pesquisador do cangaço José Bezerra Lima Irmão. 

Adquira-o através deste endereço eletrônico do professor Pereira, lá de Cajazeiras no estado da Paraíba: 

franpelima@bol.com.br

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LAMPIÃO E O VELHO MACUMBEIRO – A PRAGA QUASE ACABOU COM O BANDO.

 Por Histórias do Cangaço

https://www.youtube.com/watch?v=o4IdRsjk4Ck

Durante uma passagem silenciosa por uma vila esquecida no sertão, Lampião se depara com um crucifixo virado de cabeça pra baixo. A partir desse dia, nada mais foi como antes. O bando começa a sofrer perdas, visões, doenças e uma sequência de infortúnios inexplicáveis.

Corisco vê vultos, Maria Bonita sonha com rezas escuras, e Lampião sente na pele que há algo maior que bala perseguindo seus homens.

Com a ajuda de um velho padre, ele descobre a origem da maldição: um homem expulso da fé, escondido no mato, alimentando as sombras do sertão.

Esta é a história da noite em que Lampião não enfrentou soldados… mas sim as trevas invisíveis que rastejam entre as veredas do nordeste. ⚠️ Baseada em causos reais e lendas do cangaço. 🎥 Inscreva-se no canal para mais histórias como essa. ✝️ Fé, coragem e mistério no sertão.

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SE DOM PEDRO II VOLTASSE AO PLANETA...

 Por José Mendes Pereira

Dom Pedro II

Se Dom Pedro II voltasse a viver novamente aqui conosco viria que as nações mundiais se desenvolveram muito durante a sua ausência no globo, principalmente a sua amada terra Brasil, que fez o homem voar, fazendo piruetas sobre os ares... 

https://telasguara.com.br/cases-de-sucesso/obras-publicas-st/ponte-rio-niteroi-rj/

Viria a Ponte do Rio Niterói construída sobre o mar, com 13,29 Km. Os Estados Unidos destruindo cidades inteiras com malditas bombas. Navios de grande porte, viadutos, enormes estátuas, a conquista do homem à lua, no ano de 1969, quando nela pousou. 

https://www.youtube.com/watch?v=-W8BXeG-tNg

Gigantescos telescópios captando o universo. O celular sem fio, a televisão, metrôs, bancos com caixas eletrônicos, computadores, instrumentos musicais afinados eletronicamente... Dom Pedro II viria uma porção de inventos, que apesar de ter sido rico e poderoso, não teve o prazer de possuir um desses ou vê-lo.

O desenvolvimento é assustador. Mas, ao sair para ver como anda a educação, com certeza encontraria falhas, não por parte do educador, mas por não ter havido mudança dentro de sala de aula.

Viria que as escolas ganharam: vice-diretor, supervisor, coordenador, professor de educação física, de vídeo, mas na verdade, biblioteca mais modernas, mas dentro da sala de aula, a educação continua do mesmo jeito. Os alunos sentados, o professor continua em pé, falando, falando, falando e os alunos escutando, escutando, escutando...

SALA DE AULA

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/ensino_educacaobasica/2019/10/15/interna-educacaobasica-2019,797557/dia-do-professor-estudantes-e-docentes-do-eja-vivem-rotina-de-superac.shtml

Vendo que na sala de aula as aulas continuam com o mesmo método do seu tempo, com certeza, Dom Pedro II viria que não houve quase nada de mudança na educação, e sem pestanejar, diria:

"Meus queridos irmãos brasileiros e amados mestres:

A educação do meu inesquecível Brasil continua atrasada. É preciso mudar esse sistema arcaico e criar um novo método de lecionar. Não há desenvolvimento sem bons métodos educacionais para se repassar aos nossos queridos alunos, mesmo fora de sala de aula. Crie um novo método, talvez lecionando ao ar livre, ao caminhar, nos passeios, nas praias, nas grotas, nos piqueniques, nos museus, pedalando em bicicletas e sempre observando a natureza. Assim o aluno se tornará interessado e será seu grande amigo. Dentro da sala de aula o aluno se considera subordinado. Caminhando ele se sentirá livre e do tamanho do mestre e do meu querido Brasil".

Minhas fantásticas histórias

Se você não gostou da minha historinha, não diga a ninguém, deixa-me pegar outro.

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terça-feira, 8 de abril de 2025

MARIA BONITA - SUA REPRESENTAÇÃO NA SÉRIE DA DISNEY POR ISIS VALVERDE.

 Por Albin de Souza

Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, nasceu em 1911 na Bahia e tornou-se uma figura central no cangaço, um fenômeno social que ocorreu no Nordeste do Brasil entre o final do século XIX e início do XX. O cangaço envolveu grupos armados que, em muitos casos, buscavam desafiar as condições sociais e políticas da época, embora também estivessem associados a atividades criminosas.
Em 4 de abril de 2025, o Disney+ estreará a série "Maria e o Cangaço", que aborda os últimos anos de vida de Maria Bonita. Isis Valverde interpreta a personagem principal, enquanto Júlio Andrade dá vida a Lampião. A narrativa explora os conflitos internos de Maria, dividida entre a vida no cangaço e o desejo de formar uma família.
As gravações ocorreram em locações no Nordeste, incluindo Cabaceiras, na Paraíba, conhecida como a "Roliúde Nordestina". Esses cenários buscam recriar o sertão da década de 1930, proporcionando autenticidade visual à produção.
A série oferece uma perspectiva sobre a história do cangaço, destacando a trajetória de Maria Bonita e sua luta por liberdade e identidade em um contexto social complexo.

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste

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A REVOLTA DO JUAZEIRO: INTERVENÇÃO FEDERAL E O SIMBOLISMO DO PADRE CÍCERO NO SERTÃO CEARENSE.

 

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Introdução

A Revolta do Juazeiro, ocorrida no sertão cearense em 1914, foi um evento marcante na história política do Brasil. A revolta foi desencadeada pela intervenção do governo federal na política dos estados durante a Primeira República. Neste contexto, o Padre Cícero Romão Batista emergiu como um símbolo de resistência e liderança para os revoltosos. Este artigo científico tem como objetivo analisar os principais eventos, causas e consequências da Revolta do Juazeiro, bem como o papel desempenhado pelo Padre Cícero nesse movimento.

Abstract

The Juazeiro Revolt took place in the hinterlands of Ceará in 1914, stemming from the intervention of the federal government in state politics and featuring the prominent figure of Padre Cícero. During the First Republic, Brazilian politics were dominated by oligarchic groups that held power in their respective regions. The transition to a republican system in Brazil also led to the establishment of a federalist state, wherein each state enjoyed certain powers and autonomy in decision-making, albeit under central government control. To secure the necessary political support for governing the country, President Campos Sales devised the so-called "politics of the governors," granting autonomy to oligarchic groups in each state in exchange for their support in electing a president favorable to their interests.

Em 1914, o Brasil estava sob a presidência do Marechal Hermes da Fonseca. Sob o seu governo, foi implementada a "política das salvações", que expandiu ainda mais os limites dos monopólios de poder estruturados pela política dos governadores. Com essa medida, o presidente ganhou a capacidade de interferir na política dos estados e impedir que grupos de oposição assumissem posições indesejáveis, como os governos estaduais.

Como consequência dessa medida, Hermes da Fonseca procurou impedir que oligarquias opositoras no estado do Ceará assumissem o controle do governo estadual. Esses grupos eram liderados pelo senador José Gomes Pinheiro Machado, que, apesar de estar baseado na parte mais ao sul do país, exercia uma influência significativa sobre os coronéis do Norte e Nordeste. Essa ação causou insatisfação entre os políticos cearenses, tendo como figura proeminente o Padre Cícero Romão Batista liderando a oposição.

O conflito entre Padre Cícero e o presidente teve início em 1911, quando ele procurou manter a família Acioly no poder na política do Ceará. No entanto, o governo nacional interveio em 1912 e os retirou do cargo. No entanto, Padre Cícero ainda ocupava os cargos de prefeito de Juazeiro do Norte e vice-governador do estado.

Foi em 1914 que o coronel Marcos Franco Rabelo, o interventor federal nomeado, começou a perseguir Padre Cícero, destituindo-o de seus cargos e ordenando sua prisão. Essa medida foi imediatamente recebida com desaprovação dos grupos oligárquicos do Ceará, que, liderados por Floro Bartolomeu, organizaram um batalhão composto por jagunços (trabalhadores rurais armados) e romeiros para defender Padre Cícero.

A expedição ordenada pelo Interventor Franco Rabelo seguiu em direção a Juazeiro do Norte para prender o padre, mas encontrou uma imensa muralha cercando a cidade. Essa defesa era conhecida como o "Círculo da Mãe de Deus" e foi construída em apenas sete dias. Foi suficiente para repelir as tropas do governo, que tiveram que recuar e reunir reforços.

Ao longo de vários confrontos, a vitória permaneceu com o grupo de rebeldes organizados em Juazeiro do Norte. Floro Bartolomeu então viajou para o Rio de Janeiro em busca de apoio, enquanto os rebeldes se dirigiram a Fortaleza com o objetivo de depor o interventor. No Rio de Janeiro, eles obtiveram o apoio de Pinheiro Machado, e em Fortaleza, Franco Rabelo foi realmente removido do poder.

Após a revolta e a deposição do interventor no Ceará, o presidente Hermes da Fonseca convocou novas eleições para o governo estadual, resultando na eleição de Benjamim Liberato Barroso como governador e no retorno do Padre Cícero como vice-governador.

Devido ao seu envolvimento nesses eventos políticos, Padre Cícero foi excomungado pela Igreja Católica no final da década de 1920. No entanto, sua influência no Ceará e na região Nordeste garantiu que sua imagem como homem santo permanecesse intacta. Até os dias atuais, ele é venerado pela população local e continua a atrair milhares de pessoas para Juazeiro do Norte.

Desenvolvimento

Contexto histórico da Primeira República e a política dos governadores

A Primeira República, também conhecida como República Velha, foi um período da história brasileira que se estendeu de 1889 a 1930. Esse período foi marcado pela transição do regime monárquico para o republicano e pelas profundas mudanças políticas, econômicas e sociais que o país vivenciou. A política da Primeira República era dominada por grupos oligárquicos que detinham o poder em suas respectivas regiões. Essas oligarquias eram compostas por grandes proprietários de terra, cafeicultores e membros da elite agrária.

A política dos governadores foi uma estratégia adotada durante a Primeira República para garantir a governabilidade do país. Nesse sistema, o presidente da República concedia autonomia aos governadores estaduais, permitindo que esses líderes locais exercessem amplo controle sobre a política de seus estados. Em troca, os governadores se comprometiam a apoiar o presidente nas eleições presidenciais e a manter a estabilidade política no país. Essa troca de favores entre o presidente e os governadores foi fundamental para a consolidação do poder das oligarquias regionais e para a estabilidade do regime republicano.

Os governadores, por meio dessa política, exerciam controle sobre os poderes executivo e legislativo dos estados, indicando seus aliados políticos para os cargos-chave. Essa prática resultava na concentração de poder nas mãos de poucos grupos políticos e na perpetuação de uma estrutura de poder oligárquica. Dessa forma, a política dos governadores, embora tenha contribuído para a estabilidade política durante a Primeira República, também reforçou a exclusão política e a falta de representatividade para grande parte da população brasileira.

No entanto, essa estratégia política gerava uma série de problemas, como a corrupção e o nepotismo, além de dificultar a participação política de grupos não alinhados com as oligarquias. Essa falta de abertura política contribuiu para o fortalecimento do poder local e a perpetuação de práticas clientelistas e autoritárias. A política dos governadores foi um dos principais pilares da Primeira República, moldando a dinâmica política do país e estabelecendo as bases para as tensões e conflitos que surgiriam ao longo desse período.

A política das salvações e a ampliação do poder do presidente na política dos estados

Durante a Primeira República no Brasil, a política das salvações foi uma medida implementada com o objetivo de fortalecer o poder do presidente e ampliar sua influência sobre os estados. Essa política consistia em estender os limites de intervenção do governo federal na política local, permitindo que o presidente interferisse diretamente na indicação de governadores e em outras decisões políticas dos estados.

Com a política das salvações, o presidente adquiriu maior controle sobre a composição dos governos estaduais, podendo nomear interventores federais para atuarem como representantes do governo central nos estados. Esses interventores tinham o poder de destituir governadores e impor medidas que fossem do interesse do presidente, garantindo assim uma maior centralização do poder político.

Essa ampliação do poder do presidente na política dos estados gerou uma série de tensões e conflitos com as oligarquias regionais. O presidente passou a exercer um papel determinante na escolha dos governadores, interferindo nas disputas políticas locais e impedindo a ascensão de opositores. Isso resultou em insatisfação por parte das oligarquias e em resistência aos interventores federais, o que culminou em conflitos e revoltas em diversos estados brasileiros, como foi o caso da Revolta do Juazeiro no Ceará, em 1914.

Em suma, a política das salvações representou um marco na consolidação do poder presidencial durante a Primeira República. Essa medida contribuiu para a ampliação da influência do presidente sobre os estados, mas também gerou tensões e conflitos com as oligarquias locais, evidenciando a centralização do poder político e as disputas pelo controle dos governos estaduais.

A tentativa do presidente Hermes da Fonseca de impedir a ascensão de oposicionistas no governo do estado do Ceará

Durante o governo de Hermes da Fonseca, presidente do Brasil na Primeira República, houve uma clara tentativa de impedir a ascensão de oposicionistas ao controle do governo do estado do Ceará. O presidente, utilizando-se da política das salvações, ampliou seus poderes e interferiu diretamente nos assuntos políticos dos estados, visando garantir a lealdade de seus aliados e evitar que adversários políticos ocupassem cargos importantes.

No caso específico do Ceará, grupos oposicionistas liderados pelo senador José Gomes Pinheiro Machado, mesmo baseados no extremo sul do país, exerciam grande influência sobre os coronéis do Norte e Nordeste. Esses grupos representavam uma ameaça ao controle político do presidente e de suas alianças regionais.

Como resposta, Hermes da Fonseca adotou medidas para impedir que esses oposicionistas assumissem o governo do estado do Ceará. Essas ações incluíram intervenções diretas, nomeando interventores federais e exercendo pressão política sobre as oligarquias locais, a fim de manter o controle dos cargos políticos do estado alinhados aos seus interesses. Essa interferência do presidente gerou insatisfação entre os políticos cearenses e desencadeou a Revolta do Juazeiro, liderada pelo emblemático Padre Cícero Romão Batista.

A figura do Padre Cícero como líder e símbolo da Revolta do Juazeiro

O Padre Cícero Romão Batista desempenhou um papel fundamental como líder e símbolo da Revolta do Juazeiro, ocorrida em 1914 no sertão cearense durante a Primeira República. O padre era uma figura muito influente na região, exercendo não apenas um papel religioso, mas também político e social. Sua posição de destaque na revolta foi resultado de seu envolvimento em questões políticas e de sua defesa dos interesses do povo sertanejo.

Padre Cícero era conhecido por sua atuação em prol dos menos favorecidos e dos camponeses, que encontravam na figura do padre um líder e protetor. Sua popularidade na região e sua capacidade de mobilizar as massas foram fundamentais para a organização e sucesso da Revolta do Juazeiro. Ele se tornou o símbolo da resistência contra a interferência do governo federal na política local e da luta contra as oligarquias dominantes.

A liderança carismática e a devoção popular a Padre Cícero contribuíram para que ele se tornasse uma figura emblemática não apenas durante a revolta, mas também ao longo da história do Ceará e do Nordeste. Mesmo após a revolta, mesmo após sua excomunhão pela Igreja Católica na década de 1920, sua imagem como homem santo e defensor do povo permaneceu intacta. Até os dias atuais, Padre Cícero é venerado pela população da região e sua cidade, Juazeiro do Norte, atrai milhares de peregrinos em busca de sua proteção e intercessão.

O confronto entre o interventor Marcos Franco Rabelo e os revoltosos cearenses

O confronto entre o interventor Marcos Franco Rabelo e os revoltosos cearenses durante a Revolta do Juazeiro, em 1914, foi um episódio marcante na história do Ceará e da Primeira República. Rabelo, nomeado pelo governo federal, buscava controlar a região e reprimir a resistência liderada pelo Padre Cícero e seus seguidores. Enquanto isso, os revoltosos cearenses, liderados por figuras como Floro Bartolomeu, organizaram uma defesa em Juazeiro do Norte para proteger o padre e resistir à intervenção do governo.

A expedição liderada por Rabelo rumou para Juazeiro do Norte com o intuito de prender o Padre Cícero, mas encontrou uma forte resistência. Os revoltosos haviam construído uma muralha defensiva chamada "Círculo da Mãe de Deus", que cercava a cidade e impediu a penetração das tropas governamentais. Essa barreira defensiva foi construída em apenas sete dias e se mostrou eficaz para repelir os ataques iniciais.

Ao longo de vários combates, os revoltosos cearenses conseguiram manter a vitória em Juazeiro do Norte, frustrando os esforços do interventor. Floro Bartolomeu, líder rebelde, empreendeu uma viagem ao Rio de Janeiro em busca de apoio político, enquanto os revoltosos avançaram em direção a Fortaleza com o objetivo de depor Rabelo. No Rio de Janeiro, conseguiram o apoio de José Gomes Pinheiro Machado, importante político e líder influente na região. Em Fortaleza, o interventor Marcos Franco Rabelo foi finalmente deposto, selando a vitória dos revoltosos cearenses na luta contra a intervenção federal e garantindo a retomada do controle político local.

A resistência e a vitória dos revoltosos em Juazeiro do Norte

A resistência e a vitória dos revoltosos em Juazeiro do Norte durante a Revolta do Juazeiro em 1914 são episódios marcantes na história do Ceará e da Primeira República. Liderados pelo carismático Padre Cícero, os revoltosos se organizaram em uma defesa firme contra a intervenção do governo federal, representada pelo interventor Marcos Franco Rabelo.

Ao cercar Juazeiro do Norte com o chamado "Círculo da Mãe de Deus", uma muralha defensiva construída em tempo recorde, os revoltosos conseguiram repelir os avanços das tropas do governo. Essa muralha, erguida em apenas sete dias, mostrou-se eficaz ao proteger a cidade e frustrar as investidas iniciais do interventor. A resistência determinada dos revoltosos cearenses demonstrou sua disposição em lutar pelo controle político e resistir às interferências externas.

A vitória dos revoltosos em Juazeiro do Norte foi um marco significativo na revolta. A liderança firme de Padre Cícero, aliada à mobilização popular e ao apoio de figuras políticas influentes, como José Gomes Pinheiro Machado, garantiu a força necessária para enfrentar o interventor e suas tropas. A derrota de Rabelo em Fortaleza, culminando em sua deposição, consolidou o triunfo dos revoltosos cearenses e marcou um ponto de inflexão na Revolta do Juazeiro. Essa vitória reafirmou a resistência do povo e a importância do protagonismo local na luta contra a intervenção do governo federal. A busca por apoio político no Rio de Janeiro e a deposição do interventor em Fortaleza. As eleições e o retorno do Padre Cícero ao posto de vice-governador. A excomunhão do Padre Cícero pela Igreja Católica e sua posterior veneração pela população.

Conclusão

A Revolta do Juazeiro foi um importante episódio da história política do Brasil, ocorrido em 1914. Marcada pela intervenção do governo federal na política dos estados, essa revolta teve como símbolo e líder o Padre Cícero Romão Batista. O evento evidenciou a resistência das oligarquias locais às interferências do poder central e demonstrou a força política e a devoção popular em torno do Padre Cícero. Apesar de excomungado pela Igreja Católica, sua influência perdurou e sua imagem como homem santo continua atraindo peregrinos e devotos até os dias atuais. A Revolta do Juazeiro representa um capítulo significativo da história do Ceará e do Brasil, destacando a luta pelo poder político e as dinâmicas regionais durante a Primeira República.

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Publicado por: João Paulo dos Santos

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