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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

LEMBRANCINHAS DE AMIGO SECRETO (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

LEMBRANCINHAS DE AMIGO SECRETO
Já que reuniu os amigos na comunidade, na empresa, em qualquer lugar, e resolveu brincar de amigo secreto, com cada um tirando um nome e guardando em segredo, que tal agora revelar quem é seu amigo oculto, sua amiga sigilosa, e fortalecer a amizade com uma lembrancinha?
Quem sabe aquele que o papelzinho revelou escondido não é o mesmo que lhe tirou em segredo? Muitas vezes o acaso simplesmente revela aquilo que já existe e apenas ainda não foi suficientemente manifestado; outras vezes as forças ocultas procuram aproximar pessoas que declaradamente não se combinam ou empatizam.
De qualquer forma, a brincadeira do amigo secreto é o momento ideal para manifestar tudo o que a pessoa sente acerca do outro aleatoriamente escolhido. Sempre uma surpresa, muitas vezes a pessoa fica preocupada em escolher a lembrancinha certa para a outra que possui característica tão especial ou simplesmente não deixa qualquer opção.
Contudo, incorrerá em erro aquele que optar por comprar um presente caro, valioso demais, muito além dos padrões do grupo e do próprio objetivo da brincadeira – troca de lembrancinhas -, tão-somente para impressionar, mostrar riqueza ou querer aparecer. Além de ser descabida, se tornará numa situação vexatória para os outros e si mesma. Ademais, a importância do presente está no seu significado e não no seu valor.
Uma concha do mar envernizada e guardando no seu eco um segredo amoroso antigo; um barquinho de madeira, artesanalmente trabalhado, pronto para singrar na ideia de viagem a dois; uma agenda antiga de folhas não escritas, mas contendo numa página qualquer uma folha seca com um poema escrito; uma poesia de amor nascida do coração e emoldurada pelo olhar do apaixonado poeta.
E que tal um buquê de flores do campo, repleta de pequeninas rosas, jasmins e violetas; ou ainda um cesto de palha bruta cheio de frutas com sabor de amizade, amor, carinho? As frutas da estação são todas aquelas colhidas com o coração, doadas com sinceridade e recebidas com franco agradecimento. Talvez seja melhor dar um Neruda, um Cecília, um Florbela, um Drummond, um Pessoa.
Tem gente que gosta de música clássica. As valsas vienenses rejubilam o espírito, como as sinfonias de Bach, Mozart e Brahms. Para entristecer somente um pouquinho com a melodia, que a lembrancinha seja de Offenbach, Tchaikovsky, Haendel. E quem dera se pudesse ouvir lado a lado “Jesus, Alegria dos Homens”, “Barcarole”, “O Lago dos Cisnes”, os Noturnos de Chopin. Presenteie, encoraje para que ouça “Mourão” de Guerra Peixe. Lembre que a vida também pode parecer ou se transformar numa sonata, num prelúdio, numa melodia valsada.
Da humildade e simplicidade também surgem grandes ideias para presentear seu amigo secreto, sua amiga oculta. Creio que vale a pena dar o presente maior da oração, orar pela permanência e continuidade da amizade, do amor ou afeto; um salmo escolhido e reescrito à mão encantará qualquer singelo coração. Doar uma Bíblia então, fazendo entender sem precisar dizer que ali estão as palavras da vida.
Gostaria de receber uma melancia, um queijo de coalho feito em fazenda, uma manteiga de garrafa, um pote de doce de leite, uma porção de cocada, uma tigela de coalhada fresquinha. E como apreciaria em lugar do presente receber um convite para passear pelos campos, adentrar os sertões, tomar banho de riacho, acordar bem cedinho com os passarinhos e dormir somente quando o som do grilo parasse de cessar. Nunca.
Gostaria de sair adiante da tapera erguida no alto do monte, receber no peito o sopro da ventania e depois olhar para cima e conversar com a lua imensa, linda, bem sertaneja, muito mais viva ainda por causa do silencioso negrume. E se quem tivesse me proporcionado tal presente fosse o meu amor, retribuiria com a palavra que os amantes mais gostam de ouvir. Depois, enlaçados, num abraço e vida, agradeceria a Deus pela dádiva maior do amor.
Quem dera amar e receber tal presente! Mas não, é tudo ainda tão secreto, discreto, oculto. E tenho na minha mão apenas um nome embrulhado num pedacinho de papel. Será o seu?

Rangel Alves da Costa* 
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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