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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um pouco do antigo Natal que ainda resta em nós...

Por: José Cícero

Aos poucos já se avizinha de nós o chamado ano-bom. Mas sem antes, experimentarmos a imensa sensação de se vivenciar em todas as suas emoções o tão esperado momento do Natal. Há por assim dizer, uma expectativa incrível de um Natal nunca dantes experimentado – quem sabe o Natal dos nossos sonhos. Um instante singular no qual reside a mais absoluta superação de todas as fraquezas do mundo. Um esperado ato da mais eterna felicidade, onde todas as nossas esperanças se renovam num congraçamento amigável e fraterno entre os chamados “homens de boa-vontade” e (até) os maldosos da vida - a marcha-ré de toda história.

Especial momento em que nossos espíritos se elevam na tentativa (quem sabe) quase desesperada de se chegar muito mais perto de Deus. Eis aí o grande 'barato' da gostosa espera do natal; uma remoção das antigas "noites de festa" que adornaram nossas cidades em outros anos.
Há um imenso oceano de luzes como a iluminar as nossas emoções mais latentes. Como se o próprio mundo em seus exageros se transformasse de vez numa belíssima lapinha de natal. Ao redor da qual, uma multidão de pirilampos em seu redor, permanecem como em eterna vigília com suas candeias a clarear as nossas noites pela vida adentro. 
Árvores coloridas, pinheiro de outras floras começam a crescer diante dos nossos olhos saturados de espera e de tragédias. Mashá luzes belas e estonteantes amainando aos poucos nossas agruras e sofrimentos. É noite de festa. É natal. O bom-velhinho não tardará a chegar em seu antiquado e esquisito trenó. Contudo, ele virá...
Uma imensa áurea de otimismo está a envolver, como nunca, a humana raça. Numa sinergia do mais completo contentamento que nos anima a acreditar num amanhã possível e renovado prenhe de conquistas e de felicidade. A esperança é tudo o que nos resta... Todos queremos ser felizes como se esta noite não fosse acabar nunca mais.
Mas, de carne e osso, o mundo é muito mais cruel. A vida não nos oferece nenhum meio-termo. Tudo o mais agora é feito de espera e de escolha. Há por isso mesmo uma sensação de estranhamento no ar. Um grande mistério a cair dos céus. Uma multidão de estrela começam a abandonar todas as nossas árvores de natal. Assim é pensam os pessimistas de plantão. Os insensíveis e indiferentes a qualquer milagre.
Mas acreditamos. Existe como que de fato, uma enorme possibilidade de que todos os nossos sonhos possam de vez se transformar em realidade. Ao ponto de não haver mais nenhum limite para as nossas utopias tão grandiloqüentes. A ordem agora é simplesmente – acreditar e acreditam... Assomam-se em nós, desde então, todas as expectativas de viver o fantástico.
As noites agora estão mais fagueiras e convidativas. Há luzes coloridas pelas ruas, praças e avenidas. Os lares se vestem de belíssimos enfeites e as pessoas se irmanam ante a esperança do futuro diante do sagrado. A vida haverá de sorrir para todos nós a qualquer momento. Somos todos crianças a esperar pacientemente o bom-velhinho. Os sinos dobram nas antigas igrejas. O campanário esta iluminado como nos bons tempos do passado. Os que não acreditam sofrem muito mais toda a dureza da realidade. O adro da matriz é uma celebração de alegria pública.
O artificialismo dos piscas-piscas e dos presentes dão o ar da graça, como se o próprio mundo estivesse naquele exato instante a se cobrir de plumas, brilho e vaga-lumes querendo desafiar o nosso luxo. Tudo, num evidente prolongamento das nossas meninices e nossas ilusões adolescentes. Mas tudo que resta, decerto, é empáfia e vaidade... Ninguém se dá conta desta parte. A ceia do Natal é imperdoável...
De sorte que, até nos sertões mais longínquos agora nesta noite parece que vai nevar... Quando de súbito, suje do nada em meio a multidão de curiosos uma criança que não se contendo de entusiasmo, grita alto e estridente, com todos os pulmões que o Papai Noel acabara de chegar por trás da igreja num carro-de-boi. Um imenso silêncio caiu por sobre a multidão...
Todas as pessoas como que por pura mágica, pareceram de fato querer a todo custo acreditar naquele informe pueril. Pura fantasia, diria o padre. Afinal de contas, hoje mais do que nunca Papai Noel existe. Ele mora e vive eternamente nas mentes sinceras, na íris dos olhos, assim como para sempre nos corações inocentes e puros de todas as crianças do planeta.
Porém, para a tristeza de todos. Aquele menino que trouxera a boa-nova como por encanto ou por capricho – saiu de cena. Desapareceu num piscar de olhos. Sumira sob a escuridão da ruazinha por trás da igreja que solitariamente, vai dá pras bandas do cemitério e da lá pra velha estação do trem. Ninguém mais o vira desde então.
Cansado do mundo e da sua gente interesseira e descrente partira ele com Papai Noel para as terras do sem-fim. Quem sabe, até o dia que nós possamos de novo voltarmos a ser crianças como nos velhos tempos em que o bom-velhinho na mais pura intimidade interiorana, passeava conosco tranquilamente, durante a missa em redor da igreja e pela feirinha noturna da cidadezinha em todas as noites de festa.
Desde então, a noite de natal passou assim, meio sem graça e monótona como nunca havia ocorrido com nenhum de nós. Oh, Aurora quanta saudade dos natais de outrora.
José Cícero -
Secretário de Cultura
Aurora - Ceará.

WWW.prosaeversojc.blogspot.com

Enviado pelo autor: José Cícero, Secretário de Cultura de Aurora, no Estado do Ceará

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