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domingo, 4 de setembro de 2011

Um achado do passado


Esses tempos, quando eu camiava na catinga, cuidando da minha criaçãozinha de bode, dei de vista num papézin véi todo amaçado e das antiga, que tava pirdido no sertão. Ôiei aquele troço e me preguntei: Que diacho um pedaço véi de papé desse tá fazendo bem aqui nessa catinga, que num tem nada de fôia de papé?
Levei esse pedacin de papé pra uma prefessora, que sabe lê mió do qui eu, e ela me disse do que se tratava. Aquele pedacin de papé que tava perdido no mei da catinga, vocês podi acreditá, pois era uma fôia dum caderno dum tá de
Beijamin Abraão, um retratista que, nuns tempo pra traiz, foi inté o Capitão Virgulino, aquele cangacêru e tirô retrato dos bandido tudin. Pois é... A prefessôra me contou tudin o que tava iscrito naquela fôia, que vou contar pra vocêis tudo. Aquele retratista istrangêro, cum umas letra mais feia do que a minha, contava como foi que se sintiu quando incontrô cum o cangacêro mais brabo e mais pirigoso que já inxistiu.
"Fazenda Capim-AL - 23 de Abril de 36
Hoje, os cangaceiros mataram um animal e salgaram a carne. Bebemos e comemos carne assada. Lampião não solicitou minha presença ainda. O vejo daqui conversando e dando ordens a outros bandidos.
Não consigo descrever o estado de nervos a que fiquei, quando aquele homem alto, todo aparatado de bornais e fuzil veio até mim, ontem, após quase um dia todo em que os outros bandidos nem sequer deixavam eu olhá-lo. Confesso que senti um certo medo, diante de tamanha grandeza e, mais ainda, pela fama daquele famigerado cangaceiro. Mas depois eu percebi, pra mim mesmo, que alí se travava uma boa amizade, pois ele é um homem visionário, como eu.
Benjamin Abraão Botto"
Foi isso mesmo que a prefessora leu preu, no papezin que eu achei. Ói, né quereno dizê que eu sou froxu não, mas, se eu me incontrassi com Lampião im pessoa, ai, meu Padim, eu ia tremê que só cabrito novo. O homi era violento que só a bixiga!
Vou presetiar esse papezim, com esses dizê daquele homi pra meu amigo Ranulfo, que gosta dessas coisa de cangaço e guarda tudo quanto é coisa, que foi daquelis tempo.
(Mais pra lá eu apresento a vocêis esse meu amigo, que é um pesquisadô de cangaço)
Um abraço sertanejo, meus fío...
Sertanejo Nordestino da Silva, a suas órdi...


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