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sábado, 24 de março de 2012

Governador do Sertão

Cangaceiros que gostavam de cavalos brancos
Durante o tempo em que esteve preso por Lampião, Pedro Paulo Magalhães Dias (ou Pedro Paulo Mineiro Dias), inspetor da STANDAR OIL COMPANY (ESSO), conhecido como Mineiro, testemunhou a vida dos cangaceiros e traçou o perfil de Virgulino, segundo sua avaliação. 
Lampião pediu à empresa um resgate de vinte contos de réis pelo prisioneiro e acertou que se o resgate não fosse pago, mataria Mineiro. Mineiro viveu os dias de cativeiro, atormentado por terrível temor de ser morto por Lampião. Finalmente, percebendo o estado de espírito do prisioneiro, Virgulino tranquilizou-o afirmando:
- "Se vier o dinheiro eu solto, se não vier eu solto também, querendo Deus". 
Resolveu libertar Mineiro, antes porém, teve uma longa conversa com ele. 
Falou para Mineiro, por sentir-se naquele momento Senhor Absoluto do Sertão, que poderia ser Governador do Sertão. Mineiro perguntou-lhe, caso fosse governador, que planos teria para governar.Ficou surpreso com as respostas, que revelaram ter Virgulino conhecimento da situação política da região, conhecento seus problemas mais urgentes. 
Lampião afirmou: 
- "Premero de tudo, querendo Deus, Justiça! Juiz e delegado que não fizer justiça só tem um jeito: passar ele na espingarda! 
Vem logo as estradas para automóvel e caminhão! 
- Mas, o capitão não é contra se fazer estrada? - objetou Mineiro. 
- Sou contra porque o Governo só faz estrada pra botar persiga em cima de mim. Mas eu fazia estrada para o progresso do sertão. Sem estrada não pode ter adiantamento, Fica tudo no atraso. 
Vem depois as escolas e eu obrigava todo mundo a aprender, querendo Deus. 
Botava, também, muito doutor (médico) para cuidar da saúde do povo. 
Para completar tudo, auxiliava o pessoal do campo, o agricultor e o criador, para ter as coisas mais barato, querendo Deus" (Frederico Bezerra Maciel). 
Mineiro ouviu e concordou com Virgulino. O que acabara de ouvir representava uma parte da sabedoria do cangaceiro. 
Lampião então, senhor de si, ditou para Mineiro, uma carta para o governador de Pernambuco, com a seguinte proposta: 
" Senhor Governador de Pernambuco. 
Suas saudações com os seus. 
Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor pra evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas... Se o senhor estiver de acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do sertão, fico governando esta zona de cá, por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda os seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço.
Aguardo resposta e confio sempre. 
Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão. 
Seria Mineiro o portador dessa carta, colocada em envelope branco, tipo comercial, com a subscrição: 
- Para o Exº Governador de Pernambuco - Recife" (Frederico Bezerra Maciel) 
Mineiro notou que quase todos os cangaceiros eram analfabetos. Lampião sabia ler bem, mas escrevia com muita dificuldade. Antonio Ferreira lia com dificuldade e não escrevia. Apenas Antônio Maquinista, ex-sargento do Exército, sabia ler e escrever. 
Enfim Lampião solta Mineiro, num ato que se transformou em festa, com muitos discursos e a emoção dos participantes. 
Mineiro reconheceu nos cangaceiros, pessoas revoltadas contra a situação de abandono do sertão. Agradeceu a Deus os dias que passou na companhia de Lampião e seus cabras. Teceu elogios a Virgulino por sua personalidade capaz e inteligente. Afirmou que levava a melhor impressão de todos e que iria propagar, que o capitão e os seus, não eram o que diziam deles. 
Lampião pediu então a Mineiro que dissesse ao mundo a verdade. 
Despediu-se mineiro de todos, abraçando um por um os cangaceiros: 
Luís Pedro, Maquinista, Jurema, Bom Devera, Zabelê, Colchete, Vinte e dois, Lua Branca, Relâmpago, Pinga Fogo, Sabiá, Bentevi, Chumbinho, Az de Ouro, Candeeiro, Vareda, Barra Nova, Serra do Mar, Rio Preto, Moreno, Euclides, Pai Velho, Mergulhão, Coqueiro, Quixadá, Cajueiro, Cocada, Beija Flor, Cacheado, Jatobá, Pinhão, Mormaço, Ezequiel Sabino, Jararaca, Gato, Ventania, Romeiro, Tenente, Manuel Velho, Serra Nova, Marreca, Pássaro Preto, Cícero Nogueira, Três cocos, Gaza, Emiliano, Acuana, Frutuoso, Feião, Biu, Sabino  Finalizando: Cordão de Ouro, Ferreirinha, Antônio Ferreira e Lampião.

Um comentário:

  1. Anônimo08:44:00

    Ô, Mendes!
    Esta relação feita pelo Pe. Bezerra Maciel, não está parecendo com aquela do grupo que atacou Mossoró?
    Afora alguns nomes, a maioria está nela. Inclusive SABINO, que morreu em menos d'um ano após o ataque a Mossoró em 13 de junho de 1927. JARARACA? Deve ter sido outro!
    Temos que ver a data desta prisão do Mineiro
    Que o Padre gostava de romancear, lemos isto no seu trabalho, agora que fazia o milagre da ressurreição... É novidade... Pelo menos pra mim.
    Kydelmir Dantas
    Mossoró - RN.

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