Publicado em 07/03/2014 por Rostand Medeiros
Em 1853,
russos, britânicos, franceses e turcos travaram o primeiro conflito moderno que
teve extensa cobertura jornalística.
Retorno. Hoje,
a Crimeia, península ao sul da Ucrânia, retorna ao noticiário. Depois que
revolucionários pró-europeus depuseram o presidente Viktor Yanukovich, forças
aliadas à Rússia assumiram o controle do Parlamento regional na Crimeia e
ameaçam uma secessão. O presidente russo Vladimir Putin apoiou facções
favoráveis a Moscou na Ucrânia, que se concentram especialmente na região
oriental do país, e deslocou forças russas para a Crimeia.
Esta
estratégica região já foi palco de um terrível conflito.
Pouco antes de
a Guerra Civil quase dividir os EUA em dois, o Exército imperial da Rússia
enfrentou os Exércitos aliados de Grã-Bretanha, França e Império Otomano nos
campos de batalha da Península da Crimeia, naquela que se tornou a primeira
guerra moderna. No início do conflito, em 1853, a revolução industrial já
avançara, criando paisagens urbanas densas, novos métodos de manufatura e
enormes ganhos em produtividade. Mas, ao lado do avanço da indústria, também
ocorreu uma revolução na arte da guerra.
Os trens
transformaram a logística, o telégrafo tornou mais ágeis as comunicações e os
rifles e outros armamentos modernos permitiram que massacres ocorressem numa
escala inteiramente nova. Os campos de batalha da Guerra da Crimeia testemunharam
esse terrível fato: 25 mil britânicos, 100 mil franceses e um milhão de russos
morreram.
A carnificina
só não foi maior porque os avanços na área militar não haviam chegado para
todas as partes em conflito. Na Guerra da Crimeia, homens com espadas e lanças
lutavam contra homens com rifles e artilharia, no que se tornou o batismo
sangrento do mundo moderno e o funeral mórbido da era pré-industrial.
A desigualdade
em termos de capacidade militar foi uma das razões pelas quais a Guerra da
Crimeia entrou para a história como um monumento à incompetência militar. Os
oficiais sacrificaram desnecessariamente vidas de soldados mal preparados e mal
equipados, expondo-os a adversários muito melhor armados – uma situação
grotesca imortalizada no poema de Tennyson, Charge of the Light Brigade (“Carga
da Brigada Ligeira”), em que ele se refere a um ataque frontal suicida contra
um regimento de artilharia russo por uma unidade de cavalaria britânica.
Poucos
episódios ilustram tão profundamente a insanidade das batalhas nessa guerra do
que um grupo de espadachins a cavalo investindo contra uma saraivada de tiros
de canhão. Ao contrário de guerras passadas, os soldados na retaguarda não
estavam ao abrigo de tais horrores do campo de batalha.
A Guerra da
Crimeia também foi o primeiro conflito a ser coberto em tempo real pelos
jornalistas, que enviavam suas informações por telégrafo para Londres, Berlim e
Paris. Os cidadãos cujos filhos arcavam com o custo da guerra ficavam a par do
que ocorria na frente de batalha, incluindo a incompetência e os revezes de
seus Exércitos.
E as notícias
não chegavam apenas em palavras, mas também em imagens. Tecnicamente, as
primeiras fotos de um campo de batalha foram tiradas durante a guerra entre EUA
e México. No entanto, o fotógrafo britânico Roger Fenton é considerado o
primeiro fotógrafo de guerra, distinção conquistada pelas imagens da Guerra da
Crimeia que ele captou com sua câmera.
Fenton
permaneceu na Crimeia poucos meses, de 8 de março a 26 de junho de 1855. No
entanto, de acordo com a Biblioteca do Congresso dos EUA, conseguiu, nesse
período, “tirar 360 fotos em condições extremamente difíceis”. Ele fotografava
usando “câmeras com chapas de vidro de grande formato”, que exigiam um longo
tempo de exposição – de até 20 segundos ou mais”.
Durante o
tempo que passou na Crimeia, Fenton fotografou extensivamente a paisagem e tirou
fotos de soldados e oficiais militares, mas não captou os combates como estamos
acostumados hoje. “Não há cenas de combates reais, nem dos efeitos devastadores
da guerra”, explica o encarregado da Biblioteca do Congresso.
Não só Fenton
trabalhou com uma câmera enorme e pesada, que exigia um tempo longo de
exposição, mas ele também precisava se locomover com um grande estúdio de
revelação móvel – “uma carroça usada por mercadores de vinho transformada em
estúdio” – e processar imediatamente as fotos.
A imagem que
Fenton passa da Crimeia é mais estática, calma e silenciosa. Ao captar momentos
entre os combates, ele nos deixou uma surpreendente, embora incompleta, memória
visual da Guerra da Crimeia. Com frequência deprimente, mas despojada de toda a
miséria sangrenta e sem sentido.
Blindado russo
de transporte de pessoal na Crimeia. Uma nova guerra em 2014? Esperamos que
não!
Fonte
- Elias Groll & Rebecca Frankel* – O Estado de S.Paulo
( http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,era-uma-vez-a-guerra-da-crimeia,1137711,0.htm
)
Elias Groll
& Rebecca Frankel são jornalistas.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
Extraído bo blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.wordpress.com/author/tokdehistoria/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário