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segunda-feira, 10 de março de 2014

ERA UMA VEZ A GUERRA DA CRIMEIA



Publicado em 07/03/2014 por Rostand Medeiros


Em 1853, russos, britânicos, franceses e turcos travaram o primeiro conflito moderno que teve extensa cobertura jornalística.


Retorno. Hoje, a Crimeia, península ao sul da Ucrânia, retorna ao noticiário. Depois que revolucionários pró-europeus depuseram o presidente Viktor Yanukovich, forças aliadas à Rússia assumiram o controle do Parlamento regional na Crimeia e ameaçam uma secessão. O presidente russo Vladimir Putin apoiou facções favoráveis a Moscou na Ucrânia, que se concentram especialmente na região oriental do país, e deslocou forças russas para a Crimeia.

Esta estratégica região já foi palco de um terrível conflito.


Pouco antes de a Guerra Civil quase dividir os EUA em dois, o Exército imperial da Rússia enfrentou os Exércitos aliados de Grã-Bretanha, França e Império Otomano nos campos de batalha da Península da Crimeia, naquela que se tornou a primeira guerra moderna. No início do conflito, em 1853, a revolução industrial já avançara, criando paisagens urbanas densas, novos métodos de manufatura e enormes ganhos em produtividade. Mas, ao lado do avanço da indústria, também ocorreu uma revolução na arte da guerra.

Os trens transformaram a logística, o telégrafo tornou mais ágeis as comunicações e os rifles e outros armamentos modernos permitiram que massacres ocorressem numa escala inteiramente nova. Os campos de batalha da Guerra da Crimeia testemunharam esse terrível fato: 25 mil britânicos, 100 mil franceses e um milhão de russos morreram.

A carnificina só não foi maior porque os avanços na área militar não haviam chegado para todas as partes em conflito. Na Guerra da Crimeia, homens com espadas e lanças lutavam contra homens com rifles e artilharia, no que se tornou o batismo sangrento do mundo moderno e o funeral mórbido da era pré-industrial.


A desigualdade em termos de capacidade militar foi uma das razões pelas quais a Guerra da Crimeia entrou para a história como um monumento à incompetência militar. Os oficiais sacrificaram desnecessariamente vidas de soldados mal preparados e mal equipados, expondo-os a adversários muito melhor armados – uma situação grotesca imortalizada no poema de Tennyson, Charge of the Light Brigade (“Carga da Brigada Ligeira”), em que ele se refere a um ataque frontal suicida contra um regimento de artilharia russo por uma unidade de cavalaria britânica.

Poucos episódios ilustram tão profundamente a insanidade das batalhas nessa guerra do que um grupo de espadachins a cavalo investindo contra uma saraivada de tiros de canhão. Ao contrário de guerras passadas, os soldados na retaguarda não estavam ao abrigo de tais horrores do campo de batalha.

A Guerra da Crimeia também foi o primeiro conflito a ser coberto em tempo real pelos jornalistas, que enviavam suas informações por telégrafo para Londres, Berlim e Paris. Os cidadãos cujos filhos arcavam com o custo da guerra ficavam a par do que ocorria na frente de batalha, incluindo a incompetência e os revezes de seus Exércitos.

E as notícias não chegavam apenas em palavras, mas também em imagens. Tecnicamente, as primeiras fotos de um campo de batalha foram tiradas durante a guerra entre EUA e México. No entanto, o fotógrafo britânico Roger Fenton é considerado o primeiro fotógrafo de guerra, distinção conquistada pelas imagens da Guerra da Crimeia que ele captou com sua câmera.


Fenton permaneceu na Crimeia poucos meses, de 8 de março a 26 de junho de 1855. No entanto, de acordo com a Biblioteca do Congresso dos EUA, conseguiu, nesse período, “tirar 360 fotos em condições extremamente difíceis”. Ele fotografava usando “câmeras com chapas de vidro de grande formato”, que exigiam um longo tempo de exposição – de até 20 segundos ou mais”.

Durante o tempo que passou na Crimeia, Fenton fotografou extensivamente a paisagem e tirou fotos de soldados e oficiais militares, mas não captou os combates como estamos acostumados hoje. “Não há cenas de combates reais, nem dos efeitos devastadores da guerra”, explica o encarregado da Biblioteca do Congresso.

Não só Fenton trabalhou com uma câmera enorme e pesada, que exigia um tempo longo de exposição, mas ele também precisava se locomover com um grande estúdio de revelação móvel – “uma carroça usada por mercadores de vinho transformada em estúdio” – e processar imediatamente as fotos.

A imagem que Fenton passa da Crimeia é mais estática, calma e silenciosa. Ao captar momentos entre os combates, ele nos deixou uma surpreendente, embora incompleta, memória visual da Guerra da Crimeia. Com frequência deprimente, mas despojada de toda a miséria sangrenta e sem sentido.


Blindado russo de transporte de pessoal na Crimeia. Uma nova guerra em 2014? Esperamos que não!

Fonte - Elias Groll & Rebecca Frankel* – O Estado de S.Paulo ( http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,era-uma-vez-a-guerra-da-crimeia,1137711,0.htm )
Elias Groll & Rebecca Frankel são jornalistas.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Extraído bo blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.wordpress.com/author/tokdehistoria/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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