Por Brasília
Carlos Ferreira – Organizadora, 1992
“DÉCIMO
PRIMEIRO E DÉCIMO SEGUNDO DIAS”
Vou perdendo a noção do tempo e das coisas. Os meus sentidos se embotam. As vezes tenho dificuldade em saber que parte do corpo me dói, onde estou, o que está havendo. Quando a mente se aclara, sinto que está se esvaindo o que me resta de existência, que minha vida está por um fio, a qualquer momento os prognósticos do doutor Mariosinho poderão ir “pro beleléu”. Os “tiras” já não insistem para que fique de pé durante o dia – insistência que agora seria improfícua, a não ser que arranjassem um meio de escorar o meu esqueleto.
Desperto constantemente de um estado de inconsciência, como se acordasse de um sono profundo, e fico em dúvida se tive um desmaio ou se simplesmente dormi. Acredito que esses intervalos de inconsciência são momentâneos, mas a recuperação dos sentidos traz de volta as dores, a angústia, a apreensão.
Ouço vozerio na sala vizinha. Os torturadores chegaram. Ordenam que me levem ao “quadrado” dos suplícios. Faço esforço para caminhar mas o estado de fraqueza me faz cambalear, os tiras me seguram pelos braços. Me carregam. Me amarram nas maçanetas das portas, fico dependurado pelas cordas, oscilando como um pêndulo. As torturas recomeçam. Param quando sentem que preciso ser reanimado. Reiniciam depois, para depois parar e depois recomeçar.
No 12º dia chegou ao fim. Entrei em agonia. Fui estendido de costas ao chão. Perdi os sentidos. Não sei quanto tempo permaneci nesse estado de coma. Também não sei o que fizeram para que eu voltasse à vida. Ao que parece, esta voltou lentamente. Aos poucos fui recuperando os sentidos.
Primeiro vi umas sombras que se moviam confusamente. Depois verifiquei que estava deitado no chão e em volta de mim estavam os espancadores e seu estado-maior, todos de cócoras, me olhando com curiosidade. O doutor Mariosinho estava mais perto, ergueu minha cabeça e passou a despejar lentamente uma xícara de leite na minha boca, o líquido desceu aos poucos na garganta, aos poucos fui me reanimando.
Depois de permanecer nesse estado por muito tempo, o doutor Mariosinho segurou meu pulso e ao cabo de alguns segundos sentenciou: “Não adianta insistir. Este não agüenta mais”. Outro chefe me ordenou, aborrecido: “Levem esse queixo-duro para a sala dos detidos”.
Dois “tiras” me ergueram e me carregaram, através de salas e corredores, para o local indicado. E me deitaram no chão de uma solitária, onde só cabia uma pessoa.
CONTINUA...
Vou perdendo a noção do tempo e das coisas. Os meus sentidos se embotam. As vezes tenho dificuldade em saber que parte do corpo me dói, onde estou, o que está havendo. Quando a mente se aclara, sinto que está se esvaindo o que me resta de existência, que minha vida está por um fio, a qualquer momento os prognósticos do doutor Mariosinho poderão ir “pro beleléu”. Os “tiras” já não insistem para que fique de pé durante o dia – insistência que agora seria improfícua, a não ser que arranjassem um meio de escorar o meu esqueleto.
Desperto constantemente de um estado de inconsciência, como se acordasse de um sono profundo, e fico em dúvida se tive um desmaio ou se simplesmente dormi. Acredito que esses intervalos de inconsciência são momentâneos, mas a recuperação dos sentidos traz de volta as dores, a angústia, a apreensão.
Ouço vozerio na sala vizinha. Os torturadores chegaram. Ordenam que me levem ao “quadrado” dos suplícios. Faço esforço para caminhar mas o estado de fraqueza me faz cambalear, os tiras me seguram pelos braços. Me carregam. Me amarram nas maçanetas das portas, fico dependurado pelas cordas, oscilando como um pêndulo. As torturas recomeçam. Param quando sentem que preciso ser reanimado. Reiniciam depois, para depois parar e depois recomeçar.
No 12º dia chegou ao fim. Entrei em agonia. Fui estendido de costas ao chão. Perdi os sentidos. Não sei quanto tempo permaneci nesse estado de coma. Também não sei o que fizeram para que eu voltasse à vida. Ao que parece, esta voltou lentamente. Aos poucos fui recuperando os sentidos.
Primeiro vi umas sombras que se moviam confusamente. Depois verifiquei que estava deitado no chão e em volta de mim estavam os espancadores e seu estado-maior, todos de cócoras, me olhando com curiosidade. O doutor Mariosinho estava mais perto, ergueu minha cabeça e passou a despejar lentamente uma xícara de leite na minha boca, o líquido desceu aos poucos na garganta, aos poucos fui me reanimando.
Depois de permanecer nesse estado por muito tempo, o doutor Mariosinho segurou meu pulso e ao cabo de alguns segundos sentenciou: “Não adianta insistir. Este não agüenta mais”. Outro chefe me ordenou, aborrecido: “Levem esse queixo-duro para a sala dos detidos”.
Dois “tiras” me ergueram e me carregaram, através de salas e corredores, para o local indicado. E me deitaram no chão de uma solitária, onde só cabia uma pessoa.
CONTINUA...
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