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domingo, 27 de abril de 2025

TEXTO...

Por João Tavares Calixto Júnior

Eu procurei contribuir com a escrita de textos alusivos à história regional do Cariri e que remetessem ao cangaço e ao coronelismo, fenômenos sociais aos quais se herdam ainda feridas atuais e com sequelas de difícil combate, sobretudo, nas cidades pequenas do interior do nordeste brasileiro. A figura do coronel do Cariri cearense das três primeiras décadas do XIX, remete à colonização deste interior feita sob forte interferência do poder do latifúndio, ainda decorrente das sesmarias. Deixaram eles um bastão geracional que se estabelece na necessidade do poder a qualquer custo, como que da continuidade irrestrita e muitas vezes irresponsável do poder familial obrigatório e perpétuo. Tudo muito previsível até aqui em obedecimento ao axioma que diz que não se pode contrariar os princípios da genética.

Não obstante que as formas de dominação mudaram fortemente com o passar dos anos e com a modernização do mundo, o jaleco substitui hoje o paletó que tanto serviu como depósito de munição e armamento dos reizinhos que faziam as leis dessas cidadezinhas daqui. Teve mesmo que haver essa substituição gradual, já que a truculência ia perdendo força em consequência da mudança de rumos que se dava na Europa e tinha que se estabelecer por aqui também.
Pra entender bem esse contexto eu procurei me aprofundar na história de um personagem curioso e que fez barulho em seu tempo, já no final do período dos coronéis do Cariri. Foi chamado de coronel sem no entanto ter herdado a terra ou a fortuna, nem muito menos os genes, mas sim, por ter-se apropriado da fama, por ter-se auto intitulado. Foi ele quem encerrou o ciclo das chamadas deposições entre os mandões locais em 1925 em Missão Velha e sua história está contada no livro 'Vida e Morte de Isaías Arruda: sangue dos Paulinos, abrigo de Lampião' de 2019, um dos trabalhos dos quais me orgulho. Essa contribuição, em meio às outras que também pude trazer a lume, talvez tenha sido a de maior repercussão e com certeza foi a de maior tempo para a sua preparação (6 anos). Talvez tenha sido meu último passeio pela historiografia regional, em forma de livro físico, já que são tantos os motivos para não ir em frente nessa seara. Feito em sua maior parte por ineditismo (propósito primeiro de meus trabalhos), traz fotos até então desconhecidas e destrinches de documentos cartoriais e criminais originais que hoje muito servem pra oportunistas de Internet fazerem divulgações nos tik toks da vida. Não me lamento aqui por nunca nem ter sido citado e nem nunca ter sido consultado quanto a isso, pois é isso mesmo e daqui pra frente será assim. Para mim, a coisa mais anticientífica do mundo é dogmatizar a ciência, e digo isso pois considero esses meus trabalhos como científicos, por me basear nos métodos e não apenas em 'disse me disse'. Há rigor envolvido e obedecimento a metodologias conceituais pré-testadas e aprovadas.
No mais, venho lamentar o oportunismo desleal que desestimula e que faz repensar sobre a continuidade da publicação de livros. Aos interessados, tenho sempre procurado responder aos questionamentos e dúvidas, sempre enviando documentos e informações ao meu alcance. Ademais, a retinose pigmentar me pegou forte com o advento dos 40. Muito provavelmente eu tenha herdado por ter tido um bisavô casado com uma sobrinha. Minha capacidade de pernoitar em frente a uma tela acabou e minha debilidade visual é uma realidade maior e mais dificil de enfrentar a cada dia.
Aos amigos, um abraço afetuoso.
João T. Calixto Júnior
Arrancador de matinho em beira de calçada e escrevinhador quase cego.

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