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domingo, 15 de janeiro de 2012

Aristéia Soares de Lima - ex-cangaceira

Por: Antonio Galdino

A ex-cangaceira Aristéia Soares de Lima, que nasceu em 23 de junho de 1916, recebeu a reportagem do jornal Folha Sertaneja, levada pelo escritor 


João de Souza Lima, na casa do seu filho, no Jardim Cordeiro, no lado alagoano do Rio São Francisco, logo após a Ponte D. Pedro II.

Sempre alegre, sorridente, contas histórias dos tempos em que viveu no Bando de 


Moreno e da sua grande amizade com Durvalina, a cangaceira Durvinha, sua mulher.





Folha Sertaneja: Onde a senhora nasceu, D. Aristéia?

Aristéia - Nasci em Lajeiro do Boi, em Capiá da Igrejinha, em Canapi - Alagoas.

Folha Sertaneja - Porque virou cangaceira?
Aristéia - Entrei nessa vida porque ou a gente corria ou o cacete comia. A vida da polícia era matar o povo, esbagaçar com tudo. Nós sofremos muito por causa da polícia, meu pai apanhou tanto. Até morrer, meu irmão viveu com uma orelha faltando um pedaço de uma coronhada de mosquetão dado por um soldado. A polícia perseguia a gente que só o diabo. Eu vivia correndo com medo da polícia, me escondendo na caatinga, fui pra casa de uma tia lá dentro da caatinga. Óia, nós sofremos muito.

Folha Sertaneja - Aí, resolveu entrar pro cangaço...
Aristéia - Foi. Pro bando de Moreno.

Folha Sertaneja/João - No tempo em que estava nesse bando, tinha outras mulheres?
Aristéia - Só era eu, Durvinha e outra mulher, Quitéria, filha de Zé Demézio lá do Barro Branco.

Folha Sertaneja - E esse bando tinha quantas pessoas?
Aristéia - Seis ou sete depois ficamos sós nós quatro. Mreno, eu, Durvinha e Cruzeiro.

Folha Sertaneja - Como era a amizade do povo no bando. Sua amizade com Durvalina?
Aristéia - Durvinha, eita! (suspiro) A Durvalina era boa com a gente! Seja ela pra Jesus Cristo!

Folha Sertaneja/João - As fotos que Benjamin Abrahão fez de Lampião foram perto da roça do seu pai. A senhora conheceu Benjamin?
Aristéia - Ele andava lá na casa de uma velha, mãe de Otacília e a bicha tinha uma vontade tão grande que ele se casasse com ela. Mas oh bicho feio. Andava com uma bolsinha, uma atiracolo, assim de lado. Eu me lembro da bolsinha dele. Quando ele ia dormir lá não era pra ir nem lá na casa nem pra casa do meu tio. Não era pra andar de jeito nenhum. Ela tinha um ciúme danado, pra fia casar com ele. Mas logo, logo, mataram o Benjamin em Pau Ferro.

Folha Sertaneja - A senhora conheceu Lampião ou tinha vontade de conhecer?
Aristéia - Não conheci, nem nunca tive vontade de ver ele. Nenhum pingo de vontade.

Folha Sertaneja - A senhora também não conheceu Maria Bonita?
Aristéia - Não senhor, eu vi ela ali no retrato mas não achei essa boniteza demais não. A Durvinha era em primeiro lugar mais bonita das que eu todinhas. E vi Neném, mulher de Português, a de Pancada, que era doida, Dada, de Corisco, Nacinha de Gato...

Folha Sertaneja/João - A senhora estava na hora do tiroteio em que Cícero Garrincha foi baleado?
Aristéia - ‘Tava, tava eu e um rebanho e nós corremos. Moreno foi quem ficou danado atirando. Nós corremos pra bem longe e ele caminhou muito. Quando já tava escuro ele caiu e ficou gemendo e pedindo água mas onde é que a gente ia buscar água pelo amor de Deus? Aí Durvinha tinha um frasco de água de cheiro e botava um pouco na boca dele mas ele logo morreu.

Folha Sertaneja - A senhora chegou a ser presa?
Aristéia - Não senhor. Eu fiquei debaixo de ordem, no mês de Maio. Em Julho, mataram Lampião.

Folha Sertaneja/João - E como foi que a senhora saiu do cangaço?
Aristéia - Porque mataram os do grupo que tava comigo aí Moreno disse: Quer ir embora? Eu disse: Quero. Aí ele disse - Vá embora com Deus e Nossa Senhora pra onde tá sua família. A minha família era em Santana, Campo Grande. Aí, eu fui embora. 'Tô morando há 4 anos aqui, com meu filho, netos, já tenho uma tataraneta mas sinto muita saudade da minha casinha lá no Capiá e de vez em quando eu vou lá.

(LEIA: "Moreno e Durvinha - Sangue, amor e fuga no cangaço" - João de Souza Lima - Editora Fonte Viva - Paulo Afonso-BA - 2007)
Tenente João Gomes de Lira


O blog está meio problemático, e
para você não ficar sem ler artigos que desapareceram da página principal, aí estão os links. É só clicar.


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