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domingo, 25 de abril de 2021

CORISCO, O VINGADOR DE LAMPIÃO!

*Sérgio Lucas

A história se repete como farsa ou como tragédia, diz a frase de dupla autoria atribuída a Friedrich Hegel e Karl Marx.

Diversos pensadores de menor envergadura se debruçaram em interpretações sobre essa afirmação até que, entre nós e sem referência à repetição, se popularizou a expressão do pensador Hélio Rubens Batista Ribeiro Costa: seria cômico se não fosse trágico.

Mas, afinal, que estrupício do canço mariano o cabra vem bodejar sobre filosofia se o tema é o cangaceiro Cristino Gomes da Silva Cleto que ingressou no bando de Virgulino Ferreira da Silva em 1926 e viveu do banditismo até a sua morte em uma emboscada, em Brotas de Macaúbas/BA, no longínquo 25 de maio de 1940?

Explico: apesar de não existir um só relato que minimize as muitas atrocidades cometidas pelo “Diabo Loiro”, um beberrão contumaz, bruto como uma jaguatirica acuada, inábil para comandar seu bando ou ser diplomático com os coronéis que forneciam armas e munições para os sequazes, o bem apanhado alagoano de Matinha de Água Branca é cantado em versos e prosas como o amantíssimo companheiro da pernambucana Sérgia Ribeiro da Silva e, segundo a música que inspira o título desse texto, o anjo vingador de Lampião.

Deixemos o chefe e amigo de Corisco para uma outra ocasião, sob pena de nos alongarmos.

Então, ora pois, onde estaria a dicotomia sobre a comédia e tragicidade?

Sigamos:

A companheira do galã das caatingas não ingressou no cangaço por se encantar com o jovem alto, espadaúdo e de longas madeixas da cor de grãos de milho. A virgem de apenas treze anos de idade foi sequestrada da casa dos seus pais e, no mesmo dia, violentamente estuprada. Teve um sangramento que não estancava e foi dada como morta. Sobreviveu com ódio e vergonha. Somente com o tempo, em uma espécie de preliminar da “síndrome de Estocolmo”, veio a se apaixonar pelo seu raptor.

Por outro turno, a vingança que lhe rendeu o heroico e imerecido título se deu cinco dias após a famosa batalha do Angico, no então município de Porto da Folha/SE, quando tombaram onze cangaceiros; entre esses, Lampião e Maria Bonita.

O bronco loiro, tomado pelo ódio e enganado pelo coiteiro Joca Bernardo, invadiu a Fazenda Patos do também coiteiro José Ventura Domingos. Esse último , inocente e sem qualquer participação na bem sucedida missão das volantes comandadas pelo tenente João Bezerra, teve a sua vida e a de sua esposa, filhos e parentes, entre esses crianças, ceifadas em um espetáculo de selvageria e crueldade.

Ao final da chacina, onze corpos tombaram; exatamente o mesmo número de cangaceiros mortos, e o víndice lhes decapitou e enviou as cabeças para o delegado da cidade de Piranhas/Alagoas.

Barbaridade e estultícia em demasia que somente deveriam receber a nossa mais profunda repulsa, ao invés de nominar restaurantes, bares, pousadas e inspirar músicas de exaltação.

*Magistrado sergipano, escritor, poeta, compositor e cantador.

 https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste

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