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domingo, 19 de agosto de 2018

NO DIA QUE O PADRE CÍCERO DO JUAZEIRO APORTOU NA VILA DE SÃO JOSÉ DE BELMONTE ( E, SOLUCIONOU UM GRANDE CONFLITO).


Corria o ano de 1892, a Vila de São José de Belmonte vivia seus primeiros tempos de sua emancipação do município de Vila Bela. A política local polarizada entre as duas tradicionais famílias Carvalho e Pereira começava a fervilhar, quando o governador de Pernambuco, por interferência do conselheiro Rosa e Silva, nomeou o coronel José Sebastião Pereira da Silva (Cazuzinha da Cachoeira) para o cargo de presidente intendente da Intendência Municipal de São José de Belmonte. Essa nomeação desapontou a família Carvalho, na época liderada pelo coronel Francisco Pires de Carvalho, que não concordou com a atitude do governador em nomear um Pereira para ocupar o cargo da presidência da Intendência Municipal. Os ânimos dos dois clãs se acirraram quando o coronel Antônio Pires Brandão, da família Carvalho, intima o coronel José Sebastião Pereira da Silva, presidente intendente, a lhe fazer entrega da Intendência Municipal. Este lhe respondera que assim procederia, mais debaixo de muito chumbo. Estava, dessa forma, declarada o início de uma guerra entre duas poderosas famílias do sertão. Guerra que envolveria muitos coronéis, dentre eles o coronel Basílio Quidute da cidade de Flores, que em auxílio à família Carvalho, chegou em Belmonte com 60 capangas em armas, bem como o coronel Correia da Cruz. De Floresta, chegava o famoso Enoque Pires com mais outros tantos homens bem armados. Antônio Clementino de Carvalho (Antônio Quelé), da fazenda Santo André, chegava com outro numeroso grupo. Do lado dos Pereiras vieram 50 homens da fazenda Pitombeira, mandados pelo Barão do Pajeú, e liderados por seu filho, o coronel Antônio Andrelino Pereira, aliando-se assim aos numerosos grupos da fazenda Olho d’Água, do coronel Antônio Cassiano Pereira, e da fazenda Tamboril, do coronel José Pereira de Aguiar. A vila de Belmonte regurgitava de muitos cangaceiros. 

Quando se soube que o coronel Antônio Pires Brandão vinha à vila atear fogo na Intendência Municipal, os Pereiras lhe prepararam uma emboscada na fazenda Exu. Estava ateado fogo no pavio. Porém, os emboscantes não conseguiram detonar as suas armas no coronel, pois este sabedor do plano dos Pereiras, foi à vila pela estrada da Várzea, montado no seu cavalo de estimação e trazendo na sua garupa sua filha Donana, de 5 anos de idade. Ao que a matriarca dona Rita Rosa de Jesus, sua mãe, postada na porta de sua casa gritava para todo mundo ouvir: “Entra meu filho, entra, nem que eu tenha que recolher seus pedaços em um cesto, mais você entra nesta Vila como um homem e não como um covarde.” 

Curiosíssima política a de Belmonte daquele tempo. A rua principal da Vila, à direita de quem olhava da Igreja Matriz, era o lado dos Pereiras, à esquerda o lado era dos Carvalhos. Nesse momento, para espanto de todos, aponta no início do velho arruado de tantas tradições, um padre montado a cavalo e um acompanhante, indo apear o animal no cruzeiro em frente a Igreja Matriz. Aparece então, nesse momento o sacristão José Honório Ferraz, a quem o padre manda tocar o sino. Nisso, as pessoas estranhando um toque de sino fora de hora, começam a se dirigir para a igreja. O sacerdote, depois de se identificar como sendo o padre Cícero Romão do Juazeiro, intima os chefes dos Carvalhos e dos Pereiras e pondera aos mesmos que acabassem, enfim, com aquela contenda, uma vez que só traria prejuízos muitos sérios para ambos, bem como para os habitantes da Vila de Belmonte. Depois de ter celebrado uma missa e firmado um pacto de concórdia entre as duas famílias, retorna o padre Cícero para o Juazeiro. A luta iniciada acaba com os coronéis e seus homens abandonando temporariamente as armas e voltando para suas fazendas.

Valdir José Nogueira de Moura

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