Por José
Mendes Pereira
Às vezes eu
mesmo imagino que escrevo besteiras sobre o movimento social do cangaço,
mas fico satisfeito, porque os meus relatos são bem recebidos pelos amigos do blog do “Mendes e Mendes” e do facebook, com bastantes acessos em ambos,
e não escrevo para ferir nenhuma autoridade no que diz respeito ao tema, como os
escritores, pesquisadores e historiadores, apenas apresento as minhas
inquietações sobre alguns depoentes que não usaram a seriedade quando foram
entrevistados, disseram isso e depois algum desmentiu a si mesmo, mas outros
fizeram o papel de bons declarantes, sem acrescentarem fatos que não
aconteceram nas jornadas cangaceiras.
Uma das razões
quando eu digo que escrevo besteiras é não ser conhecedor como muitos que
estudam o cangaço e conhecem desde o século XVIII, com o aparecimento do primeiro
cangaceiro do Nordeste do Brasil, que foi o pernambucano José Gomes o Cabeleira; e detalham cada reinado de chefes famosos de bandos de cangaceiros com firmeza como o Jesuíno Brilhante, o Antonio Silvino, Sinhô Pereira e o próprio Lampião, os quais viveram os seus movimentos desastrosos em épocas diferentes. Mas o cangaço teve seu fim no dia 25 de maio de 1940, quando o último cangaceiro que ainda reinava no sertão do Nordeste o Corisco ou Diabo Loiro foi baleado e preso pelas armas do então tenente Zé Rufino, e com horas depois veio a óbito.
Eu vi de
perto através das minhas lentes oculares, aqui em minha casinhola, sentado em
uma cadeira, num banco ou numa rede, sem sair do lugar, nos livros que eu tenho lidos o que os
escritores e pesquisadores escreveram e continuam escrevendo, tudo que viram nas suas pesquisas por estes sertões de catingueiros. Ma eu não vi os personagens que participaram
de toda trama e das maldades feitas por eles nos sertões sofridos e
desprezados pelas autoridades governamentais.
O ex-cangaceiro Asa Branca
Somente conheci um personagem do cangaço, não só de terno e
gravata, mas pessoalmente, Antonio Luiz Tavares o ex-cangaceiro Asa Branca, apesar
de que morávamos em Mossoró no mesmo bairro e bem próximos um do outro, mas sem nunca eu ter
conversado com ele. Em anos remotos todos nós temíamos um papo com pessoas que eram chamadas de assassinas.
Não resta dúvida o capitão
Lampião foi um dos que mais sofreu covardias e humilhações durante os seus anos vividos aqui em nosso chão. O
primeiro que tentou vencê-lo foi o seu vizinho Zé Saturnino quando o futuro cangaceiro descobriu peles dos animais do seu pai em uma casa de um morador do fazendeiro. Ele não aceitando a sua descoberta, a partir dali, o ódio entre as duas famílias começou. Lampião tinha desejo de matá-lo, apesar das tentativas, mas nunca conseguiu.
O segundo acontecimento
triste foi quando a mãe dona Maria Sulena da Purificação infartou, a causa, ficara desgostosa com o que fizera o seu vizinho e amigo Zé Saturnino com a sua família. O seu coração não aguentando tamanha pressão, veio a óbito no ano de 1920.
Os pais de Lampião
Dias depois o pai José Ferreira dos Santos perdeu a sua vida para
o militar Zé Lucena, que em perseguição aos seus filhos Antonio Ferreira, Levino Ferrai e Virgolino Ferreira da Silva, findou assassinando um homem que tinha boa conduta e nada a ver com as desordens dos seus filhos. O tenente Zé Lucena seria bem mais difícil de Lampião passá-lo no seu mosquetão, porque ele vivia rodeado de policiais todos comandados por ele.
Coronel Zé Lucena
Posteriormente, o terceiro acontecimento covarde foi praticado pelo o coronel
Isaías Arruda nascido na cidade de Aurora, no Estado do Ceará, quando tentou matar o capitão Lampião juntamente com os seus empregados, servindo um almoço para toda cabroeira com comidas envenenadas.
A sorte foi que o capitão Lampião tinha uma colher de metal e ao colocá-la em um dos alimentos, percebeu que a comida estava envenenada. Tudo já estava combinado caso o capitão caísse nessa armadilha preparada pelo o coronel Isaías Arruda. Mas ele foi astuto, conseguiu fugir com o seu bando do cerco que os capangas do Isaías Arruda fizeram ao redor da casa. Depois Lampião teve vontade de matá-lo, mas não houve oportunidade, já que não estava mais em terras cearenses.
A quarta covardia foi feita pelo fazendeiro Antônio Teixeira Leite seu Antonio da Piçarra, em Jati, também
no Estado do Ceará, entregando o capitão Lampião às autoridades militares do governo, enquanto eles estavam com o coito armado na barreira do seu açude, e nessa
noite, houve combate e o chefe perdeu o seu maior amigo desde a velha-guarda, o cangaceiro Sabino
Gomes.
No detalhe, cangaceiro "MERGULHÃO" (Antonio Juvenal), quando posava para a câmera de Alcides Fraga, em 17/12/ 1928, no lugarejo Ribeira do Pombal/BA.
Este foi ferido e como não tinha mais jeito de sobreviver pediu a Lampião que o matasse, mas Lampião disse-lhe que não tinha coragem para matar um amigo e nem ordenava a sua execução. Depois de tanto sofrimento de Sabino e conversa entre os cangaceiros, Mergulhão vendo o estado crítico do seu companheiro disse ao rei Lampião que tinha coragem de executá-lo. E com um tiro no ouvido Mergulhão o matou.
O cangaceiro Moreno
Alguns falam
que o capitão Lampião incumbiu o cangaceiro Moreno para vingar a covardia feita
pelo seu Antonio da Piçarra, mas parece que Moreno não confirmou aos escritores e pesquisadores que este pedido Lampião havia lhe feito.
Mas mesmo com
todo sofrimento o que não faltou para Lampião foram as proteções que chegavam de
todos os lados. Parece que mesmo tendo sido um marginal de alta periculosidade
o poder supremo não lhe via como um demônio e vingativo sobre a terra, porque
ele continuava fazendo as suas algazarras, e com isso, viveu quase vinte anos no
mundo do crime e das desordens sem nunca ser preso.
Lampião pagando ao coiteiro seus serviços prestados.
Lampião teve
tanta sorte no seu mundo de crimes que recebeu apoio de uma porção de gente, e
nesse meio, estavam figuras importantes como grandes fazendeiros, coronéis, padres,
juízes, políticos, prefeitos, catingueiros, coiteiros, policiais que não cumpriam com a sua responsabilidade.
E para facilitar mais ainda
a sua vida de bandoleiro e dos seus comandados, quase não existiam estradas e
rodagens, e assim, o velho guerreiro e o seu bando podiam percorrer quantos
pedaços de chão sertanejos sem medo, apenas aqui e acolá, um ataque de volantes
aparecia em seu rasto. Mas geralmente Lampião e seu grupo de cangaceiros
eram vencedores.
Mas estes
apoios teriam sido dados porque as armas mortíferas do capitão e dos seus
comandados estavam em suas mãos e eles os temiam? Ou era porque o velho guerreiro sabia muito
bem conquistar o seu futuro povo que poderia o ajudar nessa jornada?
O capitão
Lampião tinha jeito de conquistador, de bom rapaz, dono de bom papo, usava o
respeito como uma maneira de ludibriar aqueles que ele desejava fazê-los de amigos. Apesar dos seus crimes cabeludos, Lampião era generoso e tentava a paz, mas não era visto por alguns com bons olhos.
Os
remanescentes de Lampião nenhum falou mal do rei e o que os pesquisadores
ouviram deles que restaram da “Empresa de Cangaceiros Lampiônica
& Cia., que pertencia ao grande chefe, era um homem educado, Mente brilhante, humildade e
sabedoria, prestativo, atencioso
a quem conversava com ele, respeitador e amigo daqueles que queriam fazer parte
do seu círculo de amizades. Lampião poderia ser um ser indesejável no planeta,
mas parece que as pessoas o viam como um bom homem mesmo.
Coiteiro do capitão lampião Mané Félix.
O coiteiro Mané Félix que de todos eles que prestavam os seus serviços aos cangaceiros, principalmente ao capitão Lampião, foi o último a falar com ele na noite do dia 27 de julho de 1938, o recadeiro o tinha como um amigão, e chegou a dizer aos pesquisadores que em Poço Redondo ele nunca fez nada contra a ninguém.
Nós que estudamos cangaço sabemos que o capitão Lampião não era nenhum santo sobre a face da terra, ele era simplesmente o que era, mas não tanto como as pessoas diziam que ele fazia só maldades. Ele chegou a ajudar algumas pessoas, mas não souberam aproveitar a sua boa vontade. Traído por alguns desses que ele os ajudou e não agradeceram, o mais correto para ele era se vingar. E assim fazia a vingança da sua maneira.
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