Clerisvaldo B. Chagas, 20/21 de janeiro de 2022
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.645
Zé Mulato não
queria passar vergonha. Deveria seguir a tradição da zona rural. Não era rico,
mas conhecido como barriga-cheia (pessoa equilibrada
financeiramente). E como não era todo dia que casava uma filha, sim,
faria uma festa para ninguém botar defeito. Mandou abater o maior e mais
gordo porco da fazenda; Galinhas, capãos, patos e guinés; um carneiro de 15
quilos e fez avaliação se precisaria matar um boi para assegurar a demanda. Um
carro de boi chegou da “rua” repleto de bebidas e descarregado na ampla
dispensa por trás da casa. Dona Creusa Mulato, sua esposa, trouxe as mais
famosas cozinheiras dos arredores para o preparo dos
quitutes. Outras pessoas vieram para ajudar a abater os
animais. Da cidade, foram convidados o padre e suas comadres da Igreja.
A sobrinha de
Dona Creuza, Tereza, que havia chegado recentemente de São Paulo, tomou à
frente da parte do cartório, da Igreja, do vestido da noiva e de coisas
semelhantes. Foi contratado um sanfoneiro que ainda se dizia parente de Luiz
Gonzaga. Enfim, dentro de um mês de corre-corre, estava tudo
preparado para o grande dia. Inúmeros cavaleiros acompanhariam os noivos a
cavalo e após o retorno da Igreja, teria início a festança em que Mulato
calculara em três dias. Um cabra mal-encarado, sobrinho do pai da noiva, estava
encarregado da segurança; esse nem bebia nem fumava, era só de olho duro em
possíveis malfeitos.
A festança
durou os três dias previstos por Zé Mulato. Forró dia e noite. Pela tradição, a
noiva só poderia dormir com o noivo após a festa. O que coincidiria com os três
dias previstos. Mas, devido o alto efeito da cachaça, não havia vigilância
sobre eles. E acontece que após o cair da tarde, quando começavam a chegar as
primeiras sombras da noite, ninguém via mais a noiva... Nem o noivo. Será que
estavam rezando! Bucho tinindo de tanta comida e cabeça nos pares do forró,
quem iria querer saber da noiva que não fosse a sua. E como tudo seus
mistérios, até Zé Mulato e Creusa caíram no sapateado da sanfona. Os noivos
estavam cansados de tanta espera.
A prima Tereza
lembrou-se que ali pertinho havia um belíssimo arvoredo. Mas...Pensando bem...
Arvoredo não
fala.
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