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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

OS DOIS BANDIDOS

Por: Archimedes Marques

O que há a destruir é o motivo permanente do símbolo, depois da vida transitória do homem. O símbolo é antigo. Chamou-se por longo tempo Lampião, chamara-se antes Antônio Silvino, poderá vir a ter qualquer outro nome.

FOLHA DA MANHÃ
09/08/38
OS DOIS BANDIDOS
Costa Rego


O bandido Lampião não foi mais forte que sua lenda. Tratava-se de um simples miserável, que era, entretanto, um símbolo.
O que há a destruir é o motivo permanente do símbolo, depois da vida transitória do homem.
O símbolo é antigo. Chamou-se por longo tempo


Lampião,


chamara-se antes Antônio Silvino, poderá vir a ter qualquer outro nome.
O motivo do símbolo está dentro da vida sertaneja, que é feita de sacrifícios e de reações violentas reações, antes de tudo, contra a hostilidade da própria terra.
O homem do litoral é expansivo, porque tem o mar, a quem entrega o seu destino, e a existência lhe sorri todas as manhãs na vela branca de uma jangada que lhe dá abundância. A natureza o acolhe com os meios fáceis do mar, esse renovador de impressões e de recursos.
Da vida que dedilha o praieiro tira endechas românticas, onde o homem figura como o herói que venceu uma tempestade ou seduziu uma bela. Os problemas prosaicos de sua vida resolvem-se na praia, com um pouco de farinha de mandioca, um xeréu, uma panela de caranguejos, uma tarrafa, dez ou vinte camarões. O coqueiral cerrado fornece-lhe o resto, inclusive a poesia das tardes, com um sol que se deitara no meio de reflexos vivos e o sino de uma capela batendo a hora melancólica do Ângelus. O praieiro estende-se, para dormir. A natureza assegura-lhe o dia seguinte; a natureza povoa de cuidados femininos sua existência suave e privilegiada.
Em contraste, o sertanejo salta de sua enxerga para lutar. O sol comburente mata-lhe a plantação, mata-lhe o gado, mata-lhe a árvore que dá sombra e mantém os veios que dessedentam.
Este homem vive em perpétua luta e não recebe, conquista vida. Suas canções são guerreiras, pontilhadas dos sucessos de Mané Francisco, Chico Dunga, Zé Vicente e essa gente tão valente do sertão de Jatobá...
Os próprios amores resolvem-se a ponta de faca. As donas e donzelas são objetos de turras famosas. No vermelho do chitão de seus vestidos é raro que não haja o do sangue de algum menestrel sacrificado.
Uma carga de algodão, ondulando pelas estradas poeirentas sobre o dorso de animais, e um poema de trabalho arrancado à hostilidade do meio. O estalido seco do chicote, estimulando o passo das bestas, e o perene deságio do almocreve afrontando as forças contrárias do sertão.
Não há no sertão populações alegres, como na praias; há povoados retraídos, de mulheres masculinizadas pelo infortúnio e pela necessidade de coragem, de homens prontos a desagravar qualquer coisa, em rixa com qualquer um.
Deste meio complexo saem homens empreendedores, como

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Delmiro de Gouveia, que fez o milagre de instalar uma indústria dentro da caatinga; saem ainda salteadores, como Lampião.
O primeiro é o paradigma do homem que confia e realiza; o segundo, do homem que desespera e se transvia.
O problema do sertão aparece em linhas nítidas nestes dois tipos. É um problema econômico.
Em poucas palavras esse problema é um único: excluir o tipo Lampião pela propagação intensa do tipo Delmiro de Gouveia. O sertão reclama governos, para deixar de reclamar expedições.
*Nota do estudante e apaixonado pelos assuntos ligados ao cangaço, Archimedes Marques, gerente do site www.cangacoemfoco.com.br (17 de junho de 2011):
- O texto assinado pelo jornalista Costa Rêgo em 09/08/38, para a FOLHA DA MANHÃ (jornal extinto há muito tempo) fora capturado com a autorização do escritor sergipano, Antonio Corrêa Sobrinho, autor do livro "O fim de Virgulino Lampião " O que disseram os JORNAIS SERGIPANOS", que rompeu meses de trabalho de pesquisa debruçado nos velhos arquivos da nossa Aracaju e além fronteiras para trazer ao público as pertinentes matérias jornalísticas de Sergipe, no período pós-morte de LAMPIÃO, em trabalho exaustivo que por certo servirá de parâmetro e ajuda em novos livros, de novos ou velhos autores, sobre esse tema que canta e encanta e que é sem sombras de dúvidas, de inesgotáveis fontes, jamais saturado, sempre em busca da verdade absoluta dos fatos que marcaram para sempre a história nordestina.
Não só recomendo a leitura do livro, como entendo ser necessário colecionar a referida obra na sua biblioteca, como sendo de excelente fonte de pesquisa e aprendizado, para tanto, sugiro a sua aquisição através contato via endereço de e-mail com o autor Antonio Corrêa Sobrinho: tonisobrinho@uol.com.br

Atenciosamente
Archimedes Marques "


Archimedes-marques@bol.com.br
  Autor:    Costa Rego
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