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quinta-feira, 26 de julho de 2012

ISAURA LOPES CLEMENTINO E A HISTÓRIA DO CANGAÇO: final (Coronel Figueiredo e Lampião) - Final


Por João Paulo Araújo de Carvalho

O Coronel Vicente Ferreira de Figueiredo Porto (1876-1949) era proprietário de diversas fazendas e foi um dos maiores chefes políticos de Nossa Senhora das Dores no início do século XX. A Fazenda Cajueiro, onde residia na década de 1930, foi invadida por um grupo de cangaceiros liderado por Zé Sereno, estando a mesma desguarnecida e o coronel na posse de apenas um velho bacamarte. Estaria o velho coronel descuidado da segurança?

Zé Sereno (ao centro) e seu bando, personagens de “O Fogo do Cajueiro”. Foto: Benjamin Abrahão, 1936. Acervo da AbaFilm, Fortaleza.


Em entrevista com dona Isaura Lopes Clementino, confirmou-se a notícia corrente na cidade de N. Sra. das Dores na época: Figueiredo era coiteiro do cangaceiro Lampião, que se escondia em algumas de suas fazendas, especialmente na Quixaba, com direito a matança de gado para saciar a fome do bando.
É importante frisar que em 25 de novembro de 1929 Dores foi invadida pela malta lampiônica, o que só não resultou em derramamento de sangue devido à cata de dinheiro entre os homens mais ricos da cidade. Tal fato é amplamente relatado na literatura do cangaço, a exemplo de Ranulfo Prata (1934), José Anderson Nascimento (1981), Vera Ferreira e Antônio Amaury (1999) etc.
Mas, entre os ricos estava o Coronel Figueiredo, ausente na lista de “colaboradores” do “rei do Cangaço”. Ausência que a literatura não explica...
Indagado pelo repórter do “Sergipe Jornal” se Lampião esteve em suas propriedades naquela passagem por Dores, vejamos o que o Coronel declarou, em edição de 29 de novembro de 1929: “esteve mesmo em ambas, não me encontrou. Em seguida dirigiu-se até Dôres, onde eu me achava e tive occasião de conversar com elle”. E o senhor não teve receio? Perguntou o repórter. “Um homem é para outro. Ademais, os modos pacíficos com que me tratou, não inspiravam nenhum receio. (...) Ao serme-me apresentado pelo meu vaqueiro, declarou-me que dous homens em Sergipe tinha o desejo de conhecer. Um era seu creado. O outro o coronel Antonio Franco”.
Observemos que o Coronel estava na cidade e encontrou-se com o cangaceiro, tendo inclusive declarado ao jornal citado que intercedeu junto ao mesmo para que não fizesse um baile com as moças dorenses, que dançariam com os bandoleiros, o que foi de pronto atendido.
Não resta dúvida que o Coronel e o Cangaceiro nutriam uma relação de proximidade. Seria só o desejo de conhecê-lo, talvez pela fama de valente que o mesmo tinha e corria os sertões adentro, que fez o “rei do Cangaço” não incluir Figueiredo na lista de doadores de cobres? Ou o Coronel já lhe dava proteção naquelas paragens? Se isto não ocorria antes de 1929, certamente isto ocorreu após aquele encontro entre o homem mais temido do nordeste e o mais rico, temido e influente do médio sertão sergipano.
A negativa do pedido feito por meio da carta de fins dos anos 1930, relatado por dona Isaura, foi, portanto, a quebra desta relação, de um “contrato” firmado pela palavra empenhada, deflagrando o “fogo do Cajueiro”, fazenda que estava desguarnecida provavelmente pelo excesso de confiança que seu proprietário tinha, pela certeza de que jamais seria atacado por cangaceiros, tendo em vista a relação de cumplicidade que mantinha com o maior de todos eles.
Neste sentido, “O Fogo do Cajueiro”, filme que está sendo gravado em Dores, deve muito às esclarecedoras informações trazidas à luz pelas lembranças de dona Isaura, que nas entrevistas que nos deu pôde reascender o carvão de sua memória e reencontrar-se com sua história, bem como com a história de N. Sra. das Dores e do Brasil.

(*)(historiador, mestre em História, professor e colaborador do Projeto Memórias) contato: joaopaulohistoria@gmail.com

blogdoprojetomemorias.blogspot.com 


Um comentário:

  1. Anônimo22:41:00

    Também sou de pernambuco, me chamo Saiton Ales Clementino e, fiquei muito feliz com a história da Dr. Isaura e, muito curioso pra saber se fazemos parte da mesma família.
    Meu avô chamava-se Ismael Clementino, morava em Negras povoado de Pernambuco, abraços.

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