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domingo, 16 de setembro de 2012

AS ORDINÁRIAS (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

AS ORDINÁRIAS

Muita coisa na vida é costumeira demais, é usual, é vulgar, acontece sempre do mesmo jeito, não apresenta novidade alguma no seu modo de ser e fazer. Por isso mesmo que é ordinário, de baixa qualidade, algo que não mereça maior importância.

Muita gente na vida faz tudo para continuar no patamar da desimportância, ou quando aparece é para negativar ainda mais o seu nome. Não pratica nada de útil, diferenciado, que chame atenção pela qualidade positiva e possibilite uma boa reflexão. Por isso mesmo que é uma gente ordinária, reles, apenas estando sem ser.


Muito homem e muita mulher vivem como adeptos da mediocridade, sem jamais ter praticado nada que seja proveitoso. Quando olhares são lançados na sua direção é no sentido de avistar ali pessoas preguiçosas, mentirosas, falsas, desprezíveis na vida em sociedade. Por isso mesmo que tais homens e mulheres são tão ordinários, pois vivendo às margens de aceitáveis conceitos sociais.

Contudo, dificilmente serão encontradas pessoas que queiram ou aceitem ser vistas como ordinárias, ou mesmo que não reclamem ou se contraponham às insinuações pejorativas feitas a seu respeito. Não lutam para mudar sua situação, para serem vistas noutras condições, mas batem o pé quando se sentem inferiorizadas, mesmo que nenhuma valia tenha as insurgências.

Mas nem tudo acontece assim, pois existe uma classe de mulheres que parece até lutar para serem vistas como absolutamente ordinárias. Extraordinariamente ordinárias, melhor dizendo. Homens existem, e na mesma proporção, que também são assim, mas uso esse recorte do sexo porque no masculino não são geradas as mesmas consequências observáveis quando se trata do feminino.

Como afirmado, mulheres existem cujo caráter de ordinariedade parece ser usufruído como a bela roupa que se veste para os olhos dos outros. Revestem-se de tal forma da erotização, das inconveniências sociais, do despudoramento, da pecaminosidade e do afloramento sexual, que até a família – que sempre é a última a querer enxergar – não pode deixar de reconhecer e lamentar a perda da bela para o mundanismo.

De antemão, afirme-se que não se trata aqui de citar a ordinariedade feminina como sinônima de prostituição, putanismo, raparigagem. Ora, na maioria das vezes a prostituição é uma condição assumida, vivenciada no cotidiano das alcovas escondidas ou nos meretrícios, mas o mesmo não acontece com a outra classe aqui citada. E não acontece porque as ordinárias não fazem sexo por dinheiro, não fazem programas, não arrumam machos pelas esquinas por profissão.

Verdade é que as ordinárias possuem características muito próprias. São mocinhas bonitinhas, alegres, espevitadas, requebrosas, com olhares de incessantes flertes. Mas até aí tudo dentro da normalidade cotidiana. Contudo, não conseguem namorar firmemente com qualquer rapaz porque sua fama não é a de dama, senão a da cama. Assim, qualquer um que se aproxime já chega querendo tirar algum proveito sexual. Foi assim com um, que abriu a boca para o outro, e de repente a fama é a da lama.

Portanto, as ordinárias são daquelas que nem precisam saber do nome de quem lhe lança o olhar. Sem demora e já estarão pelos fundos, pelos quintais, pelas camas de capim, dentro dos automóveis, nas camas debaixo da lua. São festeiras, geralmente bebem e fumam, e não sentem qualquer dificuldade em beijar bocas estranhas, entregar-se às lascívias em todo canto, ser mais fácil do que o próprio homem imagina.


Passa toda perfumada, apertadinha, requebrando e usa uma tática já conhecida desde os tempos mais antigos, e que na sua pouca imaginação acha que dá resultado: não aceita que a chame de quenga, prostituta ou rapariga. Também não precisa, pois a maioria dos rapazinhos já conhece a frente e o verso daquele corpo deveras atraente e encantador. E assim vai levando os seus dias se potencializando na força atrativa que provoca, ficando com um e com outro, baixando de nível nas escolhas feitas, até chegar o dia do inadiável reconhecimento: a ordinária já é de qualquer um que lhe pague, já faz programa, já faz vida no cabaré.

E tudo acontecesse assim, num percurso de descuidado afloramento sexual, até o momento em que o corpo, já marcada de tantas batalhas sexuais, não quer mais fugir da luta, abandonar o campo de batalha. E a saga das ordinárias passa a se confundir com a mesma saga das prostitutas de beirais estradeiros.

(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com


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