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domingo, 22 de fevereiro de 2015

Memória do Carnaval - 22 de Fevereiro de 2015

Por Geraldo Maia do Nascimento

 Os primórdios do nosso Carnaval II

O jornal “O Mossoroense”, de fevereiro de 1950 noticiava: “Estiveram coroadas de êxito as festividades carnavalescas deste ano. Durante os três dias de tradicional festa, o povo acorreu, indistintamente, às ruas e aos salões de danças, numa demonstração de alegria, em homenagem ao Rei Momo”.
               

E foi assim aquele carnaval. As ruas fervilhavam de foliões, cantando alegremente as modinhas da época. Blocos e os mais diversos tipos de agremiações surgiam a todo instante com seus estandartes coloridos, suas fantasias vistosas e alegria contagiante, fazendo com que todos entrassem no ritmo da agremiação.
               
Toda concentração se dava na Praça do Pax, como era conhecida. Ali era montado o corso, por onde todos desfilavam, sendo aplaudidos pela multidão que se aglomeravam nas calçadas.
               
Já a edição de março de 1957 trazia em manchete: “Em pleno reinado do Rei Momo. Imponentes festas nos clubes e nas ruas. Sete clubes desfilarão pela cidade”. Era época de carnaval, portanto toda a cidade acorria a via pública para prestigiar os blocos que desfilavam.
               
Por todo lado o assunto era carnaval. Na ACDP os preparativos superavam as expectativas, tal era a beleza da decoração, aguardando a hora de abrir os seus salões para os foliões. O mesmo acontecia no Clube Ypiranga. Mas para participar dos bailes, era preciso que os sócios estivessem em dias com as suas mensalidades. Os trajes eram os de passeio ou as tradicionais fantasias. Mas já havia na época a preocupação com o uso de drogas. E os clubes tinham em suas metas punir severamente as pessoas que estivessem inalando “éter”. Outra grande preocupação era a do Poder Judiciário para evitar a presença de menor nos clubes. Para tanto, o juiz Jaime Jenner de Aquino, que era titular da 2ª Vara Cível, nomeou vários comissários de menores para atuar em todos os cantos da cidade.
               
Mesmo quando a cidade ainda não dispunha de serviço de rádio, a programação carnavalesca era divulgada através da Amplificadora Mossoroense, que era responsável pelo serviço de alto-falantes. Esse empreendimento foi inaugurado pelo Padre Mota, quando Prefeito da cidade. A Amplificadora, em parceria com o Cine-Pax, se encarregava de divulgar os detalhes das comemorações momescas. Uma equipe formada pelos locutores Jim Borralho Boavista, Edmilson e José Leite de Aragão Mendes, movimentava a grande festividade popular, divulgando os eventos.
               
No final dos anos 50 o país se emocionava com a radionovela “O Direito de Nascer”. O sucesso da novela era tão grande que acabou virando marchinha de carnaval. A novela serviu de inspiração para um jovem folião Mossoroense, Luís Gonzaga da Rocha. E no carnaval de 1957 ele idealizou uma boneca gigante, feita com armação de arame e aspas, coberta com papel de saco de cimento. Depois da estrutura pronta, pintou a boneca de preto e cobriu seu corpo com um grande vestido de estampa colorida. Na hora de escolher o nome da boneca, não teve dúvida: o resultado do seu trabalho tinha ficado semelhante a descrição de uma das personagens da telenovela que era Mamãe Dolores. Nascia assim a primeira boneca gigante do carnaval de Mossoró.
               
A iniciativa de Luís Gonzaga de criar a Mamãe Dolores fez escola em Mossoró, tanto assim que em 1967 um outro folião, o mecânico de automóveis Edmilson Cassiano da Silva, mais conhecido por Chapita, resolveu também criar uma boneca gigante para brincar o carnaval. Nascia assim a “Maria Manda Brasa”, que saiu pela primeira vez no carnaval de 1967, ao som de um fole tocado pelo próprio Chapita, acompanhado por bombos, taróis e reco-reco, tocados pelos amigos.
               
E assim o carnaval de Mossoró ganhava animação, renovando-se a cada ano, reinventando-se a cada carnaval. Mas a partir da década de 80 a nossa festa de momo foi enfraquecendo, diminuindo a cada ano. Hoje não existe mas nem sombra dos nossos grandes carnavais. Nesse período a cidade se esvazia, o comércio fecha suas portas, o marasmo toma conta da cidade. E o que nos resta? Bem, é melhor imitar o poeta e dizer: “Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções, ninguém passa mais brincando feliz, e nos corações, saudades e cinzas foi o que restou”. (“Marcha de Quarta-Feira de Cinzas”, de Vinícius de Morais).

Geraldo Maia do Nascimento

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