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sábado, 26 de novembro de 2016

MODERNO, O ÁS DA CASTRAÇÃO.


A virilidade do sertanejo era a ‘assinatura’ dele, como homem, procriador, reprodutor nato das plagas do sertão. Impedir-lhe de reproduzir, era mais triste e cruel do que mata-lo. Ainda hoje, quando temos a vasectomia, que nada tem haver com castração, em muitos lugares, a maioria do sertanejo não aprova, ou melhor, não quer nem ouvir falar.

Família Ferreira em Juazeiro do Norte - CE. Essa captura foi realizada por Lauro Cabral em 1926. Identificação: em pé, da esquerda para direita - Zé Paulo (primo dos irmãos Ferreira), Venâncio Ferreira (tio deles), Sebastião Paulo (primo dos irmãos Ferreira), Ezequiel Ferreira, João Ferreira, Pedro Queiroz (cunhado casado com dona Mocinha), Francisco Paulo (primo dos irmãos Ferreira), Virgínio Fortunato da Silva (cunhado - casado com Angélica Ferreira da Silva) e Zé Dandão (agregado). Sentados, da esquerda para direita: Antônio Ferreira da Silva, Anália Ferreira, Joaninha 'Ferreira' (cunhada - casada com João Ferreira), Maria Ferreira de Queiroz (Dona Mocinha), Angélica Ferreira da Silva e Virgolino Ferreira da Silva.

Naquele tempo, não sabemos o real motivo, significado, do porque das castrações feitas em pobres roceiros pelos cangaceiros. No conceito social o ‘cabra’ estava lascado. A dor moral, de ser um castrado, talvez doesse muito mais do que ter sido submetido a tal ato, a base de faca peixeira, canivete ou navalha. Esse fato o desonrava mais do que qualquer outra coisa, e só notamos ser esse o motivo de tão perverso ato.

Em cada bando, ou subgrupo, de cangaceiros havia aqueles que se destacavam em suas ‘especialidades’ como sangrar, torturar, ferrar, castrar e etc... Como Gato, Zé Baiano, Mariano, Atividade e outros. Falaremos nessa matéria da história de um cangaceiro, onde não vemos destaque algum em grandes combates, no entanto, destaca-se como ‘o castrador do bando de Lampião’.

Virgínio Fortunato da Silva o cangaceiro Moderno

Virgínio Fortunato da Silva tido por alguns autores como sendo natural da cidade de Alexandria, RN, mas, essa citação carece de comprovações. Nasceu no ano de 1903. Casa-se com Angélica Ferreira da Silva, irmã dos cangaceiros “Esperança”, “Vassoura” e “Lampião”. Quando da morte dos sogros, Virgínio vai, junto aos cunhados e primos de Lampião, para cidade de Juazeiro do Norte, CE, onde estabelecem moradia. Segundo alguns escritores, sua esposa vai a óbito por motivos de problemas de parto ou mesmo de problemas no período puerpério, pós-parto. Quando a Carta Precatória é enviada pelas autoridades de Vila Bela, PE, para as autoridades cearenses, e a família tem que voltar debaixo de ordem, presa mesmo, para Pernambuco, e o sargento encarregado da escolta revela aos Ferreira um plano de os assassinarem, Virgínio e Ezequiel, irmão mais novo de Lampião, desgarram e entram no cangaço. Virgínio passa para história como o cangaceiro “Moderno” e Ezequiel, seu jovem cunhado, como o cangaceiro “Ponto Fino”.

Ezequiel Ferreira  futuro cangaceiro Ponto Fino

Moderno ganha a confiança total do “Rei dos Cangaceiros” e passa a ser a pessoa que vai buscar os valores que Lampião extorquia dos fazendeiros, coronéis e autoridades de pequenas cidades, Fazendas, Vilas e Povoados no sertão nordestino.

Moderno também se encarrega de que se alastre o terror entre os sertanejos, o medo toma conta da população quando se fala no bando de Lampião. Muito antes da divisão, propriamente dita do bando de cangaceiros em subgrupos, Virgolino deixa alguns cabras sob o comando do cunhado, e esse passa a agir no Moxotó pernambucano e Cariri paraibano.

Durvalina e Virgínio Fortunato da Silva

Certa feita, Moderno, estando no município de Buíque, PE, em Catimbáu, próximo ao Povoado de Morro Redondo, sequestra três cidadãos, “Firmino Cavalcante, Eurico Monteiro e Domingos Deletriei”, e exige quinze contos de réis. Os familiares não tinham como pagar, ou não quiseram, enviar uma quantia tão alta, então, o próprio cangaceiro manda segurarem um jovem de 22 anos, Manuel Luiz Bezerra, tira-lhe as calças, saca da ‘viana’ e arranca fora o saco escrotal do pobre rapaz.
“(...) a quantia de cinco contos de réis de cada um (dos três), não sendo atendido, prendeu o jovem Manuel Luis Bezerra, “Mané Lulú”, rapaz de 22 anos de idade e o castrou, em resposta ao negativo retorno do seu pedido (...).” (MORENO & DURVINHA - Sangue, Amor e Fuga no Cangaço” – LIMA, João De Sousa. 1ª edição. 2007)

Lampião e seu bando. Versão da foto estendida por Rubens Antônio. Identificando: em pé - da esquerda para direita: Mariano, Calais, Revoltoso ou Fortaleza, Mourão e Volta Seca. Sentados, da esquerda para direita: Lampião, Moderno, Zé Baiano, Arvoredo. Identificação sujeita a retificação. - Esta foto do bando de Lampião na fazenda Jaramataia, Joãozinho Caixeiro, foi colorizada digitalmente por nosso amigo, Professor Rubens Antonio.

O cunhado de Lampião continua sua senda aterrorizando a população rural entra Buíque e Rio Branco. Extorque, rouba, toma e assassina a população indefesa. Transpõe a divisa para o lado paraibano e chega ao município de Umbuzeiro, adentra e saqueia uma casa comercial da cidade. Faz dois jovens de reféns e passa a tortura-los com a ponta do punhal na altura do abdômen e em seus dorsos, costas. Na base do ferro, entrando, perfurando a carne, os cidadãos “Pedro de Alcântara Filho e Sebastião Sebas”, abrem o jogo, e falam que estavam indo em busca de socorro. São executados, assassinados a sangue frio, naquele momento.

Pedro Batatinha, mostrando não ter mais o saco escrotal.

Na fazenda Ribeirão, propriedade do Sr. Gedeão Hipólito Neves, Moderno mata mais duas pessoas, o dono e um senhor chamado Zé Lourenço. Assim prossegue o cangaceiro vaidoso aprontando das suas em terras paraibanas. Até dar de cara com a volante do nazareno Manuel Neto, nas terras da fazenda Fundão, travar um tiroteio e fugir sem deixar rastros. Voltando ao Estado do Leão do Norte, sequestra um cidadão e o faz de guia, obrigando-o a levar o pequeno grupo para terras alagoanas.

Moderno, lá pelos idos de 1930, já aos 27 anos de idade, viúvo, conhece Durvalina Gomes de Sá, na fazenda Arrasta-pé, propriedade do pai da moça e coito de Lampião, caindo de quatro por ela. Segundo vários escritores a moça, de apenas 15 anos, também se apaixona pelo cangaceiro. Formam assim, mais um casal de cangaceiros na caatinga sertaneja.

Pedro Batatinha mostrando a sua orelha costada

A companheira de Moderno, cangaceira “Durvinha”, como ficou conhecida, conta ao pesquisador/historiador João de Sousa Lima ter lembranças de uma castração que seu amado fizera em um rapaz apenas por ele não lhe ter respondido a uma pergunta, assim como, arrancado a língua de uma senhora por ela ter se assombrado com o terrível ato.

“(...)O cangaceiro aproximou-se, segurando o homem pelo colarinho (...)forçando ele a se ajoelhar. Outros cangaceiros juntaram-se ao chefe e extraíram o saco escrotal da vítima. Diante da situação, uma mulher gritou:

- Valei-me, minha Nossa Senhora!

Virgínio segurou a mulher, forçando ela abrir a boca e puxando a língua para fora. O órgão do palato foi cortado, deixando a senhora com a boca pastosa por grande quantidade de sangue (...).” (Ob. Ct.)

Essas e outras façanhas terríveis foram cometidas pelo cangaceiro Moderno. Moderno era, como seu cunhado o "Capitão Lampeão", chefe mor do cangaço, vaidosíssimo, então, manda colocar alguns dentes de ouro. 

Lampião o dono da "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia"

Contam alguns autores, que Moderno, em um confronto contra a volante do tenente Pompeu, fora atingido por um projétil em um dos joelhos. Desse ferimento, ou por esse ferimento, jorra grande quantidade de sangue. A hemorragia leva-o a óbito.

Particularmente, temos dúvidas dessa morte por apenas esse ferimento, já que sabemos de ex-cangaceiros mencionarem um ferimento na altura do tórax, causado por uma bala de mosquetão, tão grande que dava para ver alguns dos órgãos internos do famigerado facínora. Sabemos também que ao penetrar, a bala de fuzil faz certa ferida, no entanto, ao romper os tecidos e sair, o ferimento é várias vezes maior. Ficando uma centelha de dúvida, pois, quem relatou, cita ver o cangaceiro de frente, pela frente. Mas, talvez, esse seja mais um, dos vários mistérios que encontramos na longa saga das trilhas históricas do Fenômeno Social Cangaço.

Fonte MORENO & DURVINHA - Sangue, Amor e Fuga no Cangaço” – LIMA, João De Sousa. 1ª edição. 2007
Tokdehistória.com
Foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
Lamoiãoaceso.com
Pinterest

PS// O registro fotográfico da vítima de castração é uma ilustração. Trata-se do Sr. Pedro Batatinha, que não fora castrado por Moderno, e sim pelo cangaceiro de alcunha “Cordão de Ouro”, no lugar chamado Lagoa dos Tamboris, em 1930. A vítima ainda tem sua orelha esquerda cortada pelo próprio Lampião.

Fonte Ranulfo Prata.

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