Por Mariana Mesquita em 29/01/19
Considerado o
maior especialista em Cangaço do mundo, pesquisador diz que o atirador que
matou Virgulino Ferreira não é o noticiado pela imprensa da época
Existem
centenas de livros escritos sobre Virgulino Ferreira, o Lampião - que
morreu no dia 28 de julho de 1938, após passar 21 anos percorrendo o interior
do Nordeste, e desde então se transformou em um dos símbolos mais emblemáticos
da História do Brasil. "Apagando o Lampião: vida e morte do Rei do
Cangaço" poderia ser mais um nessa longa lista - mas consegue a
proeza de trazer fatos novos sobre o tema, inclusive apontando quem (e como)
foi o responsável pela execução do cangaceiro.
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Escrito
por Frederico Pernambucano de Mello, que se dedica a pesquisar o
Cangaço desde os anos 1960 e é considerado a maior autoridade no assunto,
"Apagando o Lampião" traz outras informações inéditas que por si só
justificariam a escritura da obra, que paralelamente registra toda a trajetória
deste verdadeiro gênio militar (para alguns, herói; para outros, bandido
sanguinário).Embora tenha sido publicado no ano passado, o livro deve ser
lançado oficialmente em março, na cidade de Maceió (AL).
"Há
muitas biografias sobre Lampião, e tenho a pretensão de conhecer a
maioria, mas verifiquei que havia alguns aspectos virgens de um relato
confiável. Por isso, resolvi escrever", explica o autor. Estes quatro
pontos-chave que representam novidades são muito importantes para entender a
história como de fato se passou.
Após duas
décadas de tentativa, Frederico Pernambucano de Mello ouviu o relato do
verdadeiro executor de Lampião - Crédito: Acervo Frederico Pernambucano de
Mello.
A
"autoria" da morte de Lampião havia sido noticiada pela imprensa
em 1938, apontando como responsável Antonio Honorato da Silva, que era
guarda-costas do aspirante Francisco Ferreira de Mello, um dos
encarregados pelo cerco à grota de Angico, onde os cangaceiros estavam
escondidos. Mas Frederico descobriu que o verdadeiro autor do disparo fatal contra
Lampião havia sido Sebastião Vieira Sandes, o "Santo", que
também era guarda-costas de Francisco e antes de ingressar na volante, tinha
convivido com o cangaceiro por muitos anos, sendo seu "coiteiro" e,
inclusive, tendo chegado a costurar peças para o bando junto com o próprio
Lampião.
A entrevista
que Sandes concedeu a Frederico, durante mais de dez dias, foi longamente
aguardada. O historiador sonhou com esse momento por mais de duas décadas,
tentando convencer o entrevistado através de conhecido em comum e chegando a
visitar Sandes em Maceió e em São Paulo.
Um dia, após
ter recebido um diagnóstico de aneurisma inoperável, ele procurou Frederico e
contou que Lampião não morreu em combate, e foi executado de cima para
baixo, com um único tiro, enquanto tomava uma caneca de café. A bala bateu na
lâmina do punhal que estava no cinto do cangaceiro e causou um prolapso de
vísceras, expondo todas as suas tripas. "Esse punhal está guardado no
Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, e o relato bate com o laudo
pericial realizado por um especialista da Polícia Federal, Eduardo Makoto
Sato", frisa Frederico Pernambucano de Mello.
Outro ponto
interessante e que amplia o olhar humano sobre a trajetória de Lampião é a
divergência com José Alves de Barros, o Zé Saturnino, que entrou em
confronto com o jovem Virgulino e precipitou sua entrada no cangaço. Em uma
entrevista realizada em 1970 e mantida inédita até o momento, Frederico
Pernambucano de Mello ouviu relato de que ambos eram amigos de infância. A
briga só começou quando Saturnino se casou com uma moça da família Nogueira,
inimiga dos parentes de Lampião. "Virgulino não perdoou isso", aponta
o autor, que guardou estas informações por mais de quatro décadas. "Sou o
tipo de pesquisador que trabalha com informações a longo prazo", afirma.
Livro
'Apagando o Lampião' será lançado oficialmente em março, em Maceió (AL) -
Crédito: Divulgação.
O livro
registra ainda detalhes sobre as relações de Lampião com as autoridades da época:
sua ida para a Bahia foi acordada com o Chefe de Polícia de
Pernambuco, Eurico de Souza Leão. "Este fato foi mantido em sigilo
por vários anos, até que me foi contado pelo oficial executor das ações, Audálio
Tenório de Albuquerque", aponta. Evidentemente, não pegaria bem para o
governo pernambucano admitir que "exportou" o cangaceiro para o
estado vizinho.
Outro
detalhamento inédito diz respeito ao acordo feito entre Lampião e Farnese
Dias Maciel, irmão de Olegário Maciel (governador mineiro entre 1930 e 1933,
quando morreu no poder) e filho do segundo Barão de Araguari, figura
importantíssima de Minas Gerais.
Segundo o autor, Farnese tinha uma rixa com a família Borges, e queria contar com o bando Lampião para agir em seu favor. No momento em que foi executado, o cangaceiro estava recrutando mais de cem homens, que iriam se somar aos quase 150 de seu bando (formado por um grupo principal com 22 membros e mais dez subgrupos com oito a doze homens, que atuavam nos mais diferentes pontos do Sertão nordestino).
Segundo o autor, Farnese tinha uma rixa com a família Borges, e queria contar com o bando Lampião para agir em seu favor. No momento em que foi executado, o cangaceiro estava recrutando mais de cem homens, que iriam se somar aos quase 150 de seu bando (formado por um grupo principal com 22 membros e mais dez subgrupos com oito a doze homens, que atuavam nos mais diferentes pontos do Sertão nordestino).
"Os planos de ir para Minas eram conhecidos, mas nenhum biógrafo até o momento havia tido o cuidado de investigar quem estava convidando Lampião", aponta. Ainda de acordo com Frederico, o Cangaço havia exaurido o interior do Nordeste, e Lampião estava em busca de outras localidades com maior capacidade contributiva para proceder aos saques.
Serviço:
Livro
""Apagando o Lampião: vida e morte do Rei do Cangaço", de
Frederico Pernambucano de Mello
336 páginas,
R$ 55, Editora Global.
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