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domingo, 21 de junho de 2020

LAMPIÃO E O IRMÃO JOÃO FERREIRA


Osvaldo Abreu (Abreu)
Alto da Compadecida, 19 de junho de 2020

João, pare com esta besteira,
A vida no cangaço é caminho sem retorno,
É de faca, punhal, fuzil e peixeira,
Se eu me entregar eu morro.
A volante quer minha caveira,
Eu sou troféu, réis, contos e ouro.

A volante que me ataca,
Deseja meu fim.
Vivo enterraram o pobre Jararaca
Em Mossoró, não devia morrer assim.
A seca traz a desgraça,
Tanta gente a julgar a mim.

Da autoridade cobrei providência,
Saturnino ficou rindo de mim,
Tinha eu uma vida de decência.
Fui almocreve no sertão sem fim.
De Deus a gente não pode perder a crença
Justiça só divina, trazida pelo anjo querubim.

João, não quero que entre no cangaço,
Já perdemos nossa mãe e no pai,
Você cangaceiro não há espaço,
Cangaço é correria, guerra e sem paz.
Meu irmão, eu lhe dou uma abraço.
Você cidadão a família não se desfaz.

É preciso cuidar de nossas irmãs,
Saudade, saudade de Mocinha...
O galo que que cantava bem de manhã,
No terreiro, ciscavam as galinhas.
Corria o carneiro de muita lã.
0 pote matava a sede, ficava na cozinha.

João, João, aqui já não posso ficar,
Desejava ficar mais tempo,
Vida de cangaceiro é de pouco demorar.
Tem que correr como vento.
Foi bom lhe encontrar em Propriá.
1927, hei de sempre lembrar o momento.

Fotos:
De Benjamin Abraão - 1926 - LAMPIÃO;
Revista O Cruzeiro - 1953 - JOÃO FERREIRA descendo do barco para visitar o Massacre de Angico


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