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terça-feira, 20 de setembro de 2022

PERSEGUIÇÃO AO CANGAÇO NO ESTADO DE PERNAMBUCO EM 1927

Do acervo do José João Souza

O Governo do Estado imprime uma impetuosa repressão no combate aos cangaceiros atingindo frontalmente toda população sertaneja, arrancado famílias inteiras de dentro de suas residências e sendo espancadas no meio da rua, velhos e crianças tratados na lei do chicote. Próximo a localidade de São João do Barro Vermelho, município de Vila Bela, residia um coiteiro chamado Cícero Nogueira, que vez por outra pegava em armas e participava dos combates ao lado de Lampião. No final de abril um grupo de soldados, entre eles, Augusto Gouveia, o prenderam em uma ação de surpresa. No meia da caatinga, arrodeado pelos praças, levando empurrões, murros e pontapés, diz que quer conversar sozinho com o soldado Augusto, para informar os nomes de outras pessoas daquela região. O pessoal aceita e os dois afastam-se alguns metros e começam a cochichar, quando o cangaceiro tira seu chapéu da cabeça, de dentro saca uma arma e atira no rosto do interrogador, mas a bala atinge a face de raspão, mesmo assim o prisioneiro escapa em debandada. Os outros soldados entraram no mato e logo adiante uma rajada de balas nas costas põe fim a vida de mais um cangaceiro.

Em 11 de abril de 1927, apresenta-se em rendição, sob a garantia do padre José Kerhle, na cidade de Villa Bella, o cangaceiro Francisco Miguel, vulgo Pássaro Preto, que abandonou o grupo de Lampião. Na mesma ocasião, membros da família Pereira celebram o acordo para entregar os irmãos cangaceiros Luiz Batista Gaia e Antônio Batista Gaia, este último conhecido por Açucena, e do parente Sebastião Raimundo Gaia, o popular Três Cocos.

Por essa época, chegou a cidade de Villa Bella o Chefe da Polícia de Pernambuco, Eurico de Souza Leão, para uma visita de inspeção às tropas de combate. Juntamente com o prefeito e outros comandantes de polícia regional visitam a cadeia recentemente construída e a encontra abarrotada de prisioneiros, em meio a sujeira, piolhos e pulgas, uma fedentina insuportável. Assustado com a quantidade de pessoas e a situação deprimente, pergunta se são todos cangaceiros.

-Não, responde um dos presentes, completando: Aí dentro tem gente de toda espécie, tem pessoas que deu água ou comida a cangaceiros, cabra safado que levava ou trazia fuxico de Lampião, desordeiro que faz baderna e gente desaforada. Em seguida a comitiva estadual seguiu para Belmonte, Salgueiro e Petrolina.

Os cangaceiros Jatobá e Pinga Fogo são mortos no Logradouro, povoação de Villa Bella, pela volante do tenente Arlindo Rocha, no dia 30 de julho.

Inicia o mês de agosto com mais dois cangaceiros entregando as armas e rendendo-se ao suplente de delegado Antônio Silveira. São eles: João Mariano, vulgo Andorinha e João Guida. Ainda no mês de agosto, a Volante do sargento João Gomes prende os cangaceiros Antônio Terto, apelidado de Cobra Verde e Camilo Domingos, Pirolito.

Na primeira semana de setembro, após intenso tiroteio entre os cangaceiros e a força comandada por Arlindo Rocha deixa como saldo as mortes de Hortencio e Manoel Vale, que tinham como cognome Craúna e Lavandeira, respectivamente. Na ocasião foi preso o Caboclo da Serra do Uman, chamado Bispo dos Anjos, homem forte e astuto, da confiança absoluta de Lampião. Na mesma investida consegue prender também Benedito Domingos, Fortunato Domingos, apelidado de Guará, Antônio Quelé, vulgo Candeeiro e Albino Rodrigues. Foram recolhidos a cadeia de Villa Bella, onde todos os dias chegavam mais prisioneiros, inocentes ou não.

Antes de finalizar setembro Arlindo Rocha captura Manoel Monteiro, Torquato, Gabriel Pereira Barbosa e Antônio Gregório, este último era apelidado de Braúna. Todos eram gente de Lampião que estavam em debandada perambulando pela caatinga. Nessa mesma ocasião prendem os coiteiros David Dudo e Tiburtino Lucas, por possuírem armas em suas casas, pois nem isso era mais permitido.

Nessa época, chegou à sala de comando da polícia notícias de Lampião e seu grupo transitando pelas fazendas Buenos Aires, São João do Barro Vermelho e Cipós, maltrapilhos e com fome. Tamanha é a sujeira que cheirava mal, com barba e cabelos crescidos, poucas armas e quase sem munição. As Volantes entram em alerta e são reforçados os roteiros que poderiam tomar, montando emboscadas, principalmente nos acessos a São Francisco, Nazaré e Betânia. Todas as estradas foram piquetadas pela polícia.

No dia 13 de outubro o valente cangaceiro poeta e aboiador, Genésio Vaqueiro, acompanhado por seu irmão, João Vaqueiro, entra em Villa Bella e procura o Comandante da Força Pública, major Teófanes Tôrres, para se entregar. Em depoimento diz que Lampião está adoentado, passando dias sem ter água para beber, alimentando-se apenas de algum fruto da caatinga, sem dormir a noite, vivem apenas fugindo de qualquer chiado, carregando alguns companheiros feridos. No final de outubro Lampião passou na casa de José Guedes, na fazenda Escadinha, conforme foi descrito para o major Teófanes Tôrres, Lampião estava mancando do pé, o olho lacrimejando e ardendo, magro e cansado, mas animado para a luta. Findado o mês de outubro os cabras de Lampião se alojaram na fazenda Pitombeira, propriedade de Izidório Conrado, um dos principais chefes da família Pereira, recebendo guarida para reposição das energias, com arma e munição. As autoridades de Villa Bella denunciam que a família Pereira protege Lampião, permitindo que circule livremente pelas propriedades. O Chefe de Polícia, Eurico Souza Leão, manda cercar a fazenda Pitombeira. Enquanto isso, o coronel Manoel Pereira e o Dr. Santa Cruz vão a Recife dar explicações, negando tudo. Mesmo assim o tenente Higino efetuou busca na fazenda e apreendeu 11 rifles e 725 cartuchos, além de una carabina mauser e uma espingarda de caça.

Ainda na primeira semana de novembro, o primeiro suplente de delegado de Villa Bella captura no Sítio Nevada, em Flores, o comerciante Paulino Donato da Silva, por ter vendido 335 cartuchos de fuzil a Lampião.

Em boletim geral n° 264, do dia 22 de novembro o major Teófanes Tôrres apresenta o saldo de cangaceiros mortos e aprisionados no período de junho a novembro desse ano em todo sertão pernambucano, desde quando começou a repressão: 14 mortos e 82 capturados sob seu comando. No dia 19 de dezembro o major Teófanes Tôrres escreve ao Chefe de Polícia do estado, Eurico Souza Leão, denunciando, o juiz de direito, Dr. Augusto Santa Cruz, como protetor de cangaceiro e de dificultar a ação da polícia. No dia 20 de dezembro o Chefe de Polícia envia um telegrama ao major em resposta ao que recebeu, dizendo: "Não desejo discutir com Lampião togado desse município. E o outro Lampião?".

Na noite de Natal, os cangaceiros participam da celebração da Missa do Galo em Villa Bella, todos de roupas paisanas, comendo e bebendo na fazenda Caxixola, cercado de rapazes e moças da cidade, com várias autoridades relatando os acontecimentos da sociedade e da política local.

Do livro: LAMPIÃO E O SERTÃO DO PAJEÚ

De: Anildomá Willans de Souza

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