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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

SERTÃO SANGRENTO - LUTA E RESISTÊNCIA - O COMBATE DE SERRA GRANDE


Por: Jovenildo Pinheiro de Souza

O combate de Serra Grande, travado entre Lampião e o seu grupo, no dia 26 de novembro de 1926, contra quase trezentas praças da Polícia Militar de Pernambuco, representou, sem dúvidas, a maior vitória de Lampião e do cangaço, durante quase duas décadas de lutas. Neste combate, Lampião com pouco menos de cem cangaceiros, divididos em três subgrupos, derrotou de forma cabal as três volantes da Polícia Militar, comandadas por experientes e bravos oficiais. Sob o comando geral do 


Major Teófanes Torres e do Tenente Higino Berlamino e Sargento Manuel Neto e Arlindo Rocha, o efetivo militar não teve como impedir a  “vitória estrondosa de Lampião”, segundo a opinião do historiador Frederico Pernambucano de Mello.

A derrota da Polícia Militar diante de Lampião foi atribuída a alguns “equívocos” táticos. Mas, o que ressalta de imediato é o desequilíbrio emocional dos oficiais que comandavam a tropa. Enquanto Lampião escolhia o local e a hora para dar início ao combate, os oficiais incorriam no erro capital de subestimar o adversário, além de renunciarem a toda prudência e sensatez.

Cegos de ódio, tombaram gravemente feridos, logo no início do tiroteio, os
Sargentos Manoel Neto e Arlindo Rocha. O Tenente Higino Berlamino, à custa de muito esforço, conseguiu evitar que Lampião e os seus cangaceiros tivessem “acabado com duzentos e noventa e sete homens, de sede e na bala, dentro da Serra”.

Do ponto de vista de Lampião, talvez tenha sido melhor para ele que, ao invés do aniquilamento total da tropa militar, o que teria transformado o boqueirão da Serra Grande num grande cemitério perdido dentro das caatingas, as tropas tivessem debandado sem rumo e sem comando.


João Gomes de Lira, que participou dos acontecimentos, resume o que significou este combate. Escreve ele:

“O tiroteio da Serra Grande foi  o maior travado na campanha contra Lampião em   Pernambuco.   Teve   duração   de   oito   e   quarenta   e   cinco   da   manhã   até   cinco   e quarenta e cinco da tarde. Foi uma peleja com muita dificuldade. Soldados desorientados sacudiam seu armamento, como todo equipamento fora, e, de serra abaixo, descia o mesmo como um relâmpago. Muitos foram cair em  Vila Bela, Triunfo, Custódia,  Flores, Afogados de Ingazeira,  Lagoa de Baixo   (Sertânia),   Rio   Branco (Arcoverde),   Salgueiro,   Floresta   e   muitos   outros lugares”

Os militares tiveram vinte e quatro baixas, treze feridos e onze mortos. Os
cangaceiros não tiveram nenhuma baixa. Pode-se   imaginar   a   comoção   que   esta  derrota,   representou para   o  Governo  do Estado e para alta oficialidade militar. E também o que terá representado para os sertanejos a chegada nas cidades e vilas de dezenas de soldados estropiados, assombrados e desmoralizados pelo “fogo devorador”.

Respaldado em sua vitória total no campo de batalha, Lampião redigiu e enviou ao Governador Interino de Pernambuco, o Dr. Júlio de Melo, uma carta com a seguinte proposta:

“Senhor Governador de Pernambuco
Suas saudações com os seus.

Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor para evitar guerra   no   sertão   e   acabar   de   vez   com   as   brigas...   Se   o   senhor   estiver   no   acordo devemos dividir os nossos territórios.  Eu que sou Capitão Virgulino Ferreira - Lampião, Governador do Sertão, fico governando esta zona de cá, por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda os seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço. 

Aguardo sua resposta e confio sempre.
Capitão Virgulino Ferreira Lampião, Governador do Sertão”.

 LIRA, João Gomes de. Ob. cit., pág. 365.
LIRA, João Gomes de. Idem, pág. 351
 MACIEL, Frederico Bezerra. Lampião - seu tempo e seu Reinado. 2ª ed., 3º vol., Rio de
Janeiro, Editora Vozes Ltda., 1985, pág. 154.

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