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quinta-feira, 24 de abril de 2014

Chefe de Lampião foi expulso do Piauí

Escrito por Reinaldo Coutinho
Retrato da família Ferreira, tirado em Juazeiro, em 1926. Lampião (1) está à direita; seu irmão Antônio (2) está à esquerda; em pé, no meio, com a mão no ombro da esposa, João (3), o único irmão Ferreira que não entrou para o cangaço; Ezequiel (4), o irmão mais moço, que entrou depois para o cangaço, está a esquerda de João. As senhoras são irmãs dos rapazes. Os outros homens no grupo são primos. Foto liberada por João Ferreira, Propriá-Sergipe. Não identificamos na imagem o irmão Livino.

Quando Lampião (1988-1938) e seus irmãos Antônio (1895-1927) e Livino (1896-1925) caíram em definitivo no cangaço em junho de 1920 para vingar a morte de seu pai, Virgulino teve que aguardar bastante tempo até ser chamado de chefe ou líder de bando ou até de Lampião. Com efeito, a princípio os Ferreira entraram para o bando de Sebastião Pereira mais conhecido como Sinhô Pereira, um pernambucano nascido em 1896 e falecido em Minas Gerais em 1972.

Segundo Sinhô Pereira em entrevistas, Lampião e os irmãos chegaram de Alagoas depois do assassinato do pai, dispostos a confrontar com José Saturnino, seu inimigo comum. Não tinham condições financeiras nem experiências e participaram com muita bravura de alguns combates.

Havia muitas ligações entre Lampião e Sinhô Pereira: eram vizinhos; a mãe de Lampião era afilhada do pai de Sinhô Pereira; o pai de Lampião era afilhado do Padre Pereira, tio de Sinhô Pereira; as famílias eram amigas; e com comuns inimigos: “Os Saturninos” e José Lucena.
Sinhô possuía alguns antepassados ilustres, pois descendia do Coronel Andrelino Pereira da Silva (1830-1901), o Barão de Pajeú. Era alfabetizado e trabalhava no campo, o que o diferia culturalmente bastante dos outros bandoleiros.

Sinhô Pereira, já idoso, em Minas Gerais - Reprodução 

Motivos familiares levaram-no a ingressar no cangaço, tendo recebido a insígnia de comandante de tropa. Segundo ele próprio, a impunidade em Vila Bela teve seu auge em sua juventude; como no assassinato de seu irmão Né,  onde nem inquérito policial foi aberto. Pressionado politicamente e perseguido por forças policiais, viajou para Goiás e Minas Gerais, onde obteve o título de cidadão mineiro. 

Foi o único comandante de Lampião. Apelidado “Demônio do Sertão” pelos populares, por ser um rei nas estratégias de guerrilhas pela caatinga. Por várias vezes foi cercado pela polícia, e conseguia escapar. Era um homem do bem, embora justiceiro popular. 

Sinhô Pereira abandonou o cangaço por duas vezes. A primeira vez, em 1918, Lampião ainda não integrava seu bando. O cangaceiro não se sentia á vontade sendo um fora da lei, como acontecia com muitos cangaceiros. Conforme suas entrevistas posteriores, ela nasceu para ser cidadão, casar e constituir família.

Em 1918, Sinhô Pereira e seu inseparável primo Luís Pereira da Silva Jacobina (? - ?), o “Luís Padre” resolveram recomeçar a vida e deixaram o cangaço. Alguns historiadores afirmam que eles haviam atendido a um pedido de Padre Cícero (1844-1934), enviado numa carta endereçada ao Sinhô Pereira, em que o sacerdote pedia que os primos deixassem a região do Pajeú-PE, que vivia em clima de guerra e de medo. O sacerdote cearense ao receber a resposta favorável, enviou outra carta para Padre Castro, no município de Pedro II (estado do Piauí), pedindo ao vigário que recebesse os dois jovens e encaminhasse-os para o Maranhão, para as terras dos piauienses Barão de Santa Filomena e do Marquês de Paranaguá. Mas os primos escolheram o Estado de Goiás. 

Os primos Luís Padre e Sinhô Pereira, em imagem na juventude e já idosos - Reprodução

Do município de José do Belmonte-PE vieram em direção ao Estado do Piauí. Em Simões, já distante do Pajeú (Pernambuco), decidiram se separar para despistar possíveis perseguidores, marcando um reencontro no sul do Piauí, em Correntes, próximo à fronteira com Goiás Dali seguiriam até seu destino final, São José do Duro, corruptela de São José D’Ouro, em Goiás, hoje Estado de Tocantins.

Estavam todos montados a cavalos e acompanhados de seis cangaceiros. Luís Padre ficou com dois cangaceiros e rumou para Uruçuí-PI (hoje Município). Já Sinhô Pereira ficou com quatro cangaceiros (“Cacheado”, “Coqueiro”, “Raimundo Morais” e “Gato”), rumou a Corrente-PI. Passou por São Raimundo Nonato-PI e chegou a Caracol - PI. O próximo destino seria Parnaguá-PI. Mas Sinhô Pereira foi surpreendido pela polícia do Piauí, em Caracol – PI. Isso em dezembro de 1918.

 "Gato" acompanhava Sinhô Pereira - Reprodução

A força policial era comandada pelo tenente Zeca Rubens. Um contingente de 20 soldados, e ainda mais de 40 populares. A casa em que Sinhô Pereira e seus homens dormiam foi cercada pela força policial. As carabinas de Sinhô Pereira estavam desmontadas, mas depois de um tiroteio de uma hora, o cangaceiro e o seu pessoal fugiram, deixando dois soldados feridos levemente e carregando Cacheado quase nos braços, gravemente ferido. Sinhô Pereira nunca abandonou cabra ferido, sendo muito solidário a seus homens! 
    
Sinhô Pereira, tido por alguns como “arquiduque do sertão”, e por outros o rei das guerrilhas na caatinga, mesmo com um grupo de cinco pessoas conseguiu escapar. Suas táticas de guerrilha funcionaram.

Ao atingir Nova Lapa, município piauiense de Gilbués, Luiz Padre soubera que Sinhô Pereira fora cercado pela polícia do Piauí nas proximidades da cidade de Caracol. O primo de Sinhô resolveu prosseguir a viagem pelo cerrado piauiense, rumo ao estado de Goiás, passando pela cidade piauiense de Santa Filomena e perdeu por completo o contato com Sinhô Pereira que ficou por quatro dias na Fazenda Mulungú, com Cacheado muito ferido, até que o tenente Zeca Rubens, através de um seu irmão mandou lhe dizer que não o perseguiria enquanto ele tivesse tratando do cabra ferido.

Não resistindo aos ferimentos, o cangaceiro Cacheado morreu nos braços de Sinhô Pereira. Há uma imagem da polícia baiana na cidade de Jeremoabo  ondes os soldados posam apresentado a cabeça decepada de um cangaceiro chamado Cacheado. Ou as volantes baianas participaram da perseguição juntamente com a polícia do Piauí ou se trata de outro cangaceiro homônimo já que era comum a duplicidade de apelidos entre os cangaceiros.

Volante baiana me Jeremoabo-BA posa orgulhos expondo a cabeça do cangaceiro Cacheado - Reprodução  

Dos outros cangaceiros que acompanhavam Sinhô no Piauí, Coqueiro morreria futuramente por ordens de Lampião, ao se envolver em fuxicos e intrigas amorosas no bando. Gato, por sua vez, reputado como o mais perverso dos cangaceiros de Lampião, morreu em 1936 em combate com a polícia alagoana na cidade de Piranhas. Sobre o cangaceiro Raimundo Morais desconhecemos seu destino.

Sinhô Pereira reiniciou a viagem, mas em Jurema,  ainda no Piauí, encontrou o cabra que ferira Cacheado, João de Bola, que foi morto por um dos seus homens.

A partir deste episódio a perseguição policial recrudesceu, com o tenente Zeca Rubens à frente de 40 soldados seguindo as pegadas de Sinhô Pereira que ia trocando de animais cansados substituindo por animais tomados ao longo das fazendas percorridas. Novamente cercado pela polícia quando dormia 40 léguas para além de Caracol, Sinhô Pereira e seus homens conseguiram furar o cerco policial, mais uma vez, depois de meia hora de tiroteio, morrendo um soldado e saindo ferido um rapaz da casa onde estavam arranchados. Em Tocoatiara Paulista, perderam os animais: um cavalo e três burros.

Em Sete Lagoas tomaram novos animais que foram trocados novamente em Barra de São Pedro. Foi aí que Sinhô Pereira decidiu voltar ao Pajeú e lutar com os seus inimigos até um dia, já que não o deixaram buscar a paz e o esquecimento em terras distantes, como era o seu desejo.

Sinhô então retornou desanimado para sua terra (Pernambuco). Desistiu da viagem para o Estado de Goiás e reassumiu seu bando de cangaceiros. Alegava que para chegar a Goiás eles teriam um longo e difícil trecho pelo Estado do Piauí até chegar o destino final.

Foi uma decisão nervosa, mais em oito dias Sinhô Pereira estava novamente nas barrancas do Pajeú até 1922 quando conseguiu deixar o Nordeste no seu segundo e definitivo  abandono do cangaço. Saiu, desta vez, da Fazenda Preá, Serrita propriedade do coronel Napoleão Franco da Cruz Neves, casado com Ana Pereira Neves, prima de Sinhô Pereira e Luiz Padre, além de madrinha de batismo deste último.

Com a volta de Sinhô Pereira, de Caracol (PI), foi que Lampião, passou a integrar o seu bando. Foi então que em 1922 Sinhô entregou o comando do bando a Virgulino.

Em 1922, já em Goiás desde 1919, Luís Padre comunicou ao Sinhô Pereira o lugar onde estava. Seguro e sossegado. O cangaço na região Nordeste estava cada vez mais difícil. Sinhô Pereira resolveu ir onde estava seu primo, e comunicou ao grupo. Convidou Lampião par ir com ele mas este disse que ficaria. Muitos cangaceiros ficaram com o futuro rei do cangaço, que assumiu o comando do grupo. Ao despedir-se de Lampião, disse-lhe: Vou deixar umas brasas acesas por aí. Trate de apagá-las. 

Sinhô Pereira foi embora para Goiás no ano de 1922 e só voltou beber das águas límpidas e saborosas do Pajeú no ano de 1971 (mês de junho), quando veio visitar a família em Serra Talhada, PE.

Sinhô Pereira nem seu primo Luís Padre nunca foram presos.

Fontes:
www.wikipedia.org
Damasceno,MarcosOliveira. http://www.portalsrn.com.br/noticias/marcos_01.php?id=91 
http://blogdomendesemendes.blogspot.com/  
Neves, napoleão Tavares. Primeira Viagem de Sinhô Pereira e Luiz Padre, do NordesteParaGoiás
http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2011/06/primeira-viagem-de-sinho-pereira-e-luiz.html
www.lampiaoaceso.blogspot.com
http://www.piracuruca.com/index.php/historia/169-chefe-de-lampiao-foi-expulso-do-piaui

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