Escrito por Reinaldo Coutinho
Retrato
da família Ferreira, tirado em Juazeiro, em 1926. Lampião (1) está à direita;
seu irmão Antônio (2) está à esquerda; em pé, no meio, com a mão no ombro da
esposa, João (3), o único irmão Ferreira que não entrou para o cangaço;
Ezequiel (4), o irmão mais moço, que entrou depois para o cangaço, está a
esquerda de João. As senhoras são irmãs dos rapazes. Os outros homens no grupo
são primos. Foto liberada por João Ferreira, Propriá-Sergipe. Não identificamos
na imagem o irmão Livino.
Quando Lampião
(1988-1938) e seus irmãos Antônio (1895-1927) e Livino (1896-1925) caíram em
definitivo no cangaço em junho de 1920 para vingar a morte de seu pai,
Virgulino teve que aguardar bastante tempo até ser chamado de chefe ou líder de
bando ou até de Lampião. Com efeito, a princípio os Ferreira entraram para o
bando de Sebastião Pereira mais conhecido como Sinhô Pereira, um pernambucano
nascido em 1896 e falecido em Minas Gerais em 1972.
Segundo Sinhô
Pereira em entrevistas, Lampião e os irmãos chegaram de Alagoas depois do
assassinato do pai, dispostos a confrontar com José Saturnino, seu inimigo
comum. Não tinham condições financeiras nem experiências e participaram com
muita bravura de alguns combates.
Havia muitas
ligações entre Lampião e Sinhô Pereira: eram vizinhos; a mãe de Lampião era
afilhada do pai de Sinhô Pereira; o pai de Lampião era afilhado do Padre
Pereira, tio de Sinhô Pereira; as famílias eram amigas; e com comuns inimigos:
“Os Saturninos” e José Lucena.
Sinhô possuía
alguns antepassados ilustres, pois descendia do Coronel Andrelino Pereira da
Silva (1830-1901), o Barão de Pajeú. Era alfabetizado e trabalhava no campo, o
que o diferia culturalmente bastante dos outros bandoleiros.
Sinhô Pereira, já idoso, em Minas Gerais - Reprodução
Motivos
familiares levaram-no a ingressar no cangaço, tendo recebido a insígnia de
comandante de tropa. Segundo ele próprio, a impunidade em Vila Bela teve seu
auge em sua juventude; como no assassinato de seu irmão Né, onde nem
inquérito policial foi aberto. Pressionado politicamente e perseguido por
forças policiais, viajou para Goiás e Minas Gerais, onde obteve o título de
cidadão mineiro.
Foi o único
comandante de Lampião. Apelidado “Demônio do Sertão” pelos populares, por ser
um rei nas estratégias de guerrilhas pela caatinga. Por várias vezes foi
cercado pela polícia, e conseguia escapar. Era um homem do bem, embora
justiceiro popular.
Sinhô Pereira
abandonou o cangaço por duas vezes. A primeira vez, em 1918, Lampião ainda não
integrava seu bando. O cangaceiro não se sentia á vontade sendo um fora da lei,
como acontecia com muitos cangaceiros. Conforme suas entrevistas posteriores,
ela nasceu para ser cidadão, casar e constituir família.
Em 1918, Sinhô
Pereira e seu inseparável primo Luís Pereira da Silva Jacobina (? - ?), o “Luís
Padre” resolveram recomeçar a vida e deixaram o cangaço. Alguns historiadores
afirmam que eles haviam atendido a um pedido de Padre Cícero (1844-1934),
enviado numa carta endereçada ao Sinhô Pereira, em que o sacerdote pedia que os
primos deixassem a região do Pajeú-PE, que vivia em clima de guerra e de medo.
O sacerdote cearense ao receber a resposta favorável, enviou outra carta para
Padre Castro, no município de Pedro II (estado do Piauí), pedindo ao vigário
que recebesse os dois jovens e encaminhasse-os para o Maranhão, para as terras
dos piauienses Barão de Santa Filomena e do Marquês de Paranaguá. Mas os primos
escolheram o Estado de Goiás.
Os primos Luís Padre e Sinhô Pereira, em imagem na juventude e já idosos - Reprodução
Do município
de José do Belmonte-PE vieram em direção ao Estado do Piauí. Em Simões, já
distante do Pajeú (Pernambuco), decidiram se separar para despistar possíveis
perseguidores, marcando um reencontro no sul do Piauí, em Correntes, próximo à
fronteira com Goiás Dali seguiriam até seu destino final, São José do Duro,
corruptela de São José D’Ouro, em Goiás, hoje Estado de Tocantins.
Estavam todos
montados a cavalos e acompanhados de seis cangaceiros. Luís Padre ficou com
dois cangaceiros e rumou para Uruçuí-PI (hoje Município). Já Sinhô Pereira
ficou com quatro cangaceiros (“Cacheado”, “Coqueiro”, “Raimundo Morais” e
“Gato”), rumou a Corrente-PI. Passou por São Raimundo Nonato-PI e chegou a
Caracol - PI. O próximo destino seria Parnaguá-PI. Mas Sinhô Pereira foi
surpreendido pela polícia do Piauí, em Caracol – PI. Isso em dezembro de
1918.
"Gato" acompanhava Sinhô Pereira - Reprodução
A força
policial era comandada pelo tenente Zeca Rubens. Um contingente de 20 soldados,
e ainda mais de 40 populares. A casa em que Sinhô Pereira e seus homens dormiam
foi cercada pela força policial. As carabinas de Sinhô Pereira estavam
desmontadas, mas depois de um tiroteio de uma hora, o cangaceiro e o seu
pessoal fugiram, deixando dois soldados feridos levemente e carregando Cacheado
quase nos braços, gravemente ferido. Sinhô Pereira nunca abandonou cabra
ferido, sendo muito solidário a seus homens!
Sinhô Pereira,
tido por alguns como “arquiduque do sertão”, e por outros o rei das guerrilhas
na caatinga, mesmo com um grupo de cinco pessoas conseguiu escapar. Suas
táticas de guerrilha funcionaram.
Ao atingir
Nova Lapa, município piauiense de Gilbués, Luiz Padre soubera que Sinhô Pereira
fora cercado pela polícia do Piauí nas proximidades da cidade de Caracol. O primo
de Sinhô resolveu prosseguir a viagem pelo cerrado piauiense, rumo ao estado de
Goiás, passando pela cidade piauiense de Santa Filomena e perdeu por completo o
contato com Sinhô Pereira que ficou por quatro dias na Fazenda Mulungú, com
Cacheado muito ferido, até que o tenente Zeca Rubens, através de um seu irmão
mandou lhe dizer que não o perseguiria enquanto ele tivesse tratando do cabra
ferido.
Não resistindo
aos ferimentos, o cangaceiro Cacheado morreu nos braços de Sinhô Pereira. Há
uma imagem da polícia baiana na cidade de Jeremoabo ondes os soldados
posam apresentado a cabeça decepada de um cangaceiro chamado Cacheado. Ou as
volantes baianas participaram da perseguição juntamente com a polícia do Piauí
ou se trata de outro cangaceiro homônimo já que era comum a duplicidade de
apelidos entre os cangaceiros.
Volante baiana me Jeremoabo-BA posa orgulhos expondo a cabeça do cangaceiro Cacheado - Reprodução
Dos outros
cangaceiros que acompanhavam Sinhô no Piauí, Coqueiro morreria futuramente por ordens
de Lampião, ao se envolver em fuxicos e intrigas amorosas no bando. Gato, por
sua vez, reputado como o mais perverso dos cangaceiros de Lampião, morreu em
1936 em combate com a polícia alagoana na cidade de Piranhas. Sobre o
cangaceiro Raimundo Morais desconhecemos seu destino.
Sinhô Pereira
reiniciou a viagem, mas em Jurema, ainda no Piauí, encontrou o cabra que
ferira Cacheado, João de Bola, que foi morto por um dos seus homens.
A partir deste
episódio a perseguição policial recrudesceu, com o tenente Zeca Rubens à frente
de 40 soldados seguindo as pegadas de Sinhô Pereira que ia trocando de animais
cansados substituindo por animais tomados ao longo das fazendas percorridas.
Novamente cercado pela polícia quando dormia 40 léguas para além de Caracol,
Sinhô Pereira e seus homens conseguiram furar o cerco policial, mais uma vez,
depois de meia hora de tiroteio, morrendo um soldado e saindo ferido um rapaz
da casa onde estavam arranchados. Em Tocoatiara Paulista, perderam os animais:
um cavalo e três burros.
Em Sete Lagoas
tomaram novos animais que foram trocados novamente em Barra de São Pedro. Foi
aí que Sinhô Pereira decidiu voltar ao Pajeú e lutar com os seus inimigos até
um dia, já que não o deixaram buscar a paz e o esquecimento em terras distantes,
como era o seu desejo.
Sinhô então
retornou desanimado para sua terra (Pernambuco). Desistiu da viagem para o
Estado de Goiás e reassumiu seu bando de cangaceiros. Alegava que para chegar a
Goiás eles teriam um longo e difícil trecho pelo Estado do Piauí até chegar o
destino final.
Foi uma
decisão nervosa, mais em oito dias Sinhô Pereira estava novamente nas barrancas
do Pajeú até 1922 quando conseguiu deixar o Nordeste no seu segundo e
definitivo abandono do cangaço. Saiu, desta vez, da Fazenda Preá, Serrita
propriedade do coronel Napoleão Franco da Cruz Neves, casado com Ana Pereira
Neves, prima de Sinhô Pereira e Luiz Padre, além de madrinha de batismo deste
último.
Com a volta de
Sinhô Pereira, de Caracol (PI), foi que Lampião, passou a integrar o seu bando.
Foi então que em 1922 Sinhô entregou o comando do bando a Virgulino.
Em 1922, já em
Goiás desde 1919, Luís Padre comunicou ao Sinhô Pereira o lugar onde estava.
Seguro e sossegado. O cangaço na região Nordeste estava cada vez mais difícil.
Sinhô Pereira resolveu ir onde estava seu primo, e comunicou ao grupo. Convidou
Lampião par ir com ele mas este disse que ficaria. Muitos cangaceiros ficaram
com o futuro rei do cangaço, que assumiu o comando do grupo. Ao despedir-se de
Lampião, disse-lhe: Vou deixar umas brasas acesas por aí. Trate de
apagá-las.
Sinhô Pereira
foi embora para Goiás no ano de 1922 e só voltou beber das águas límpidas e
saborosas do Pajeú no ano de 1971 (mês de junho), quando veio visitar a família
em Serra Talhada, PE.
Sinhô Pereira
nem seu primo Luís Padre nunca foram presos.
Fontes:
www.wikipedia.org
Damasceno,MarcosOliveira.
http://www.portalsrn.com.br/noticias/marcos_01.php?id=91
http://blogdomendesemendes.blogspot.com/
Neves,
napoleão Tavares. Primeira Viagem de Sinhô Pereira e Luiz Padre, do
NordesteParaGoiás
http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br/2011/06/primeira-viagem-de-sinho-pereira-e-luiz.html
www.lampiaoaceso.blogspot.com
http://www.piracuruca.com/index.php/historia/169-chefe-de-lampiao-foi-expulso-do-piaui
http://www.piracuruca.com/index.php/historia/169-chefe-de-lampiao-foi-expulso-do-piaui
Nenhum comentário:
Postar um comentário