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domingo, 4 de janeiro de 2015

O RIO IPANEMA NOS TEMPOS DE LAMPIÃO E A IMPORTÂNCIA ATUAL DELE.

Material do acervo do pesquisador Raul Meneleu Mascarenhas
O rio Ipanema nos tempos de Lampião

Suficientemente, ou até palmo a palmo, conhecia Lampião as bacias dos principais rios do sertão pernambucano, e isto desde as nascentes até suas descargas no São Francisco: 


Brígida, Pajeú, Moxotó... e, também, em parte, a de dois outros que, nascendo em Pesqueira, descem para o litoral despejando-se no mar: o Capibaribe no seu curso superior, e dois terços do Ipojuca, isto é, das suas origens até a cidade de Gravatá. Esse trecho conheceu quando, nos tempos da almocrevia, comboiava intercambiando cargas de rapadura para Vitória de Santo Antão, donde voltava carregado de ancoretas de cachaças.


Finalmente, conhecia o vale de outro rio, o Ipanema, ainda nascido em Pesqueira, cujo território se tornou privilegiadamente, no generoso plexo distribuidor da maior rede de águas correntes de Pernambuco.


Partindo de suas cabeceiras concentradas nas vertentes ocidentais do imponente maciço do Ororubá, logo ali na primeira etapa de sua corrida, o Ipanema força passagem rasgando o relevo, abrindo largo e sugestivo boqueirão. Para daí prosseguir jovem destemido! Descendo e acentuando a declividade de seu leito na ânsia incontinente de enlaçar-se ao São Francisco. 


Deixando o município matriz de origem, precisamente no ponto de encontro de suas terras com as de Alagoinha e Pedra, parece que uma das razões do existir desse rio foi assumir a função de auxiliar da divisão administrativa no traçar dos limites dos municípios ao longo do seu percurso: entre partes de Pedra com Alagoinha, Venturosa e Buíque; e deste com Tupanatinga; e ainda separando completamente Águas Belas de Itaíba. E incluindo Bom Conselho de Papacaça na área de seu drenamento, marca, antes de se despedir da gleba pernambucana, duzentos quilômetros de percurso. Em seguida, invadindo Alagoas, seccionando-o em dois, quase pelo meio, percorrendo ainda uns cem quilômetros. Banhando vilas e cidades: Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema... dividindo municípios: o de Olho D'água das Flores do de Major Isidoro... lascando de alto a baixo o município de Batalha, cuja sede de jurisdição lava... servindo às populações ribeirinhas... para, no final de contas, lançar-se palpitoso no São Francisco, mas daí espiando desconfiado as janelas indiscretas do casario de Porto da Folha, na outra margem, em Sergipe... Nesse ponto, seu desnível total acusa cerca de 400 metros.

Confrontando com as ribeiras sertanejas, a do Ipanema se apresenta mais rica de solo e recursos econômicos. Agricultura diversificada, aproveitando, através de processos comuns e empíricos de cultivo, as terras férteis dos baixios, os pés de serra e os terraços pouco elevados. Feijão, milho, algodão herbáceo... de produção apreciável para manter, um ecúmeno mais denso e abastecer grandes feiras, como a de Pesqueira nas quartas-feiras. Isto afora as frutas — manga, caju, banana... — os tubérculos — inhame, batata-doce... — e as verduras... A goiaba nativa e o plantio tecnológico do tomate possibilitaram a implantação de uma potente e famosa agro-indústria de transformação alimentícia.


Grandes fazendas de criação de gado casteado, leiteiro ou de corte, em regime de pastoreio extensivo. A quase ausência de epizootias e os bons pastos, juntos à. cultura disseminada da palmatória, produzindo e conservando os animais sadios e nédios. Região de bacias leiteiras, como a de Venturosa. Possuindo excelentes climas, como o clima-saúde de Alagoinha. Sua paisagem diferenciada encanta, ora se revelando através de azulados serrotes graníticos, como o do Gavião (entre Pesqueira e Alagoinha), testemunhas geológicas de medonhas erosões em priscas eras; ora com exuberante e policrômica roupagem vegetal revestindo as serras; aqui no extenso mapeamento dos cercados traçados pelas linhas verde-escuras dos avelós; acolá na catinga verde-clara quando no inverno ou acizentada na seca... 

Infinidade de trechos pitorescos no vale. Pesqueira contemplada desse mirante natural e turístico, que é o topo da serra do Cruzeiro, deslumbra e assoberba. O povoado de Ipanema com seu singelo arruado aninhando, com ciúme, a meiga igrejinha branca da Virgem da Conceição — cujo pátio tranquilo se enfeita de copados e virentes flambuaiantes, de flores escarlates, sombreantes e aprazíveis ao sopro da viração do rio, que o abraça amoroso e benfazejo —rememora a poesia da infância de tantas cidades hoje em franco desenvolvimento...

Poder-se-iam multiplicar os exemplos por toda a extensão do vale. Incontestavelmente, porém, a paisagem mais encantadora da ribeira do Ipanema é a do microvale do seu afluente, o riacho Mimoso, que corre no sentido oeste-leste. Contemplando a paisagem de cima da serra de Mimoso, divisor de duas zonas fitogeográficas, agreste e sertão, e por onde serpeia vadeando abismos, a antiga rodagem da Obra Contra as Secas, vê-se um corredor estreito, formado pelo alinhamento de elevações paralelas, de encostas íngremes, emoldurando um estreito e alongado brejo de vale ou várzea aluvial, de solo profundo e fértil. Logo ali, à esquerda, numa suave lombada do fundo do vale, debruça-se, mimosamente e no sentido linear, o aglomerado da vila dominada por sua igrejinha com torre, também sob a invocação da Virgem da Conceição. Enchendo o vale, por meia légua de extensão, inúmeros pequenos sítios de banana, manga, laranja, pinha, mamão, cana-de-açúcar... Nos pés de serra, numerosos roçados, em pequenos quadros de culturas de subsistência, circundando as casas de seus proprietários. Mais adiante, o extenso tomatal de várias léguas, da Fazenda de Tomate Senhora do Rosário (antiga fazenda Propriedade), cultivada pela Fábrica Peixe, das Indústrias Alimentícias Carlos de Brito, de Pesqueira. Nas encostas baixas e nas colinas suaves dessa cultura solanácea é feita em faixas terraceadas, para maior rendimento do produto dentro dum plano conservacionista do solo.

Enfim, ao longe, guindada nas alturas, esplendente de branco durante o dia e de luzes à noite, avulta a cidade de Pesqueira com seus altos bueiros fumegantes e testemunhando a pujança de seu progresso. O nome de "Mimoso" aplicado a essa região define perfeitamente a paisagem — precioso mimo dos caprichos da natureza!


Vale de Mimoso! — colcha de retalhos policrônica, doirada de sol e amenizada, em seu clima, pelos ventos canalizantes, que sopram constantes... — cartão-postal de lembrança imorredoura que Pesqueira oferece a seus visitantes...

Desde a fazenda Catolé, situada nas cabeceiras, até sua foz um pouco abaixo de Belo Monte, o rio Ipanema, de depende a 'depende, pontilha-se de acidentes geográficos, aglomerados de população, traços e linhas de comunicação que gravaram as marcas da pisada de Lampião: — as serras de Ororubá, Buíque, Tará, Cumanati, Cavalos, Garanhuns... — fileiras de riachos e corregos... — cidades, vilas, povoados, inúmeras fazendas e sítios... — estradas reais e veredas de bode... — matas e caatingas... Naqueles tempos, seria o vale objeto de incursões atrevidas e desaforadas de Lampião contra Manuel Neto. Durante os últimos anos de vida iria ele, de fogo aceso, assoletrar esse capítulo da volumosa enciclopédia geográfica de seu Reino!


"O rio Ipanema é um patrimônio da humanidade, mas que ainda precisa ser mais conhecido por aqueles que o vê chorando lágrimas de lama. Pois está com uma de suas partes ferida, sangrando e, portanto precisa ser tratada. Nos seus 220 km, de Pesqueira/PE a Belo Monte/AL, a parte mais degrada está localizada na zona urbana de Santana do Ipanema, do Poço Grande às Cachoeiras, cabendo a nós, legítimos guardiões do meio ambiente, assim outorgado pela Mãe Natureza, a responsabilidade moral e humana de tratá-la para que as futuras gerações não se envergonhem das nossas atitudes, ou da falta delas."


BACIA DO RIO IPANEMA


Localização


A bacia hidrográfica do rio Ipanema está localizada em sua maior parte no Estado de Pernambuco, com sua porção sul no Estado de Alagoas, onde se estende até o rio São Francisco. Situa-se entre 08º 18’ 04” e 09º 23’ 24” de latitude sul, e 36º 36’ 28” e 37º 27’ 54” de longitude oeste.

A porção pernambucana constitui a Unidade de Planejamento Hídrico UP7, que limita-se ao norte com a bacia do rio Ipojuca (UP3) e com a bacia do rio Moxotó (UP8), ao sul com o Estado de Alagoas e os grupos de bacias de pequenos rios interiores 1 e 2 - GI1 (UP20) e GI2 (UP21), a leste com a bacia do rio Ipojuca, bacia do rio Una (UP5) e o GI1, e, a oeste, com a bacia do rio Moxotó e o GI2.

Rede Hidrográfica

A nascente do rio Ipanema se situa no município de Pesqueira. Seu curso percorre parte dos estados de Pernambuco (aproximadamente 139 km) e Alagoas, na direção nortesul, até desaguar no rio São Francisco.

Seus principais afluentes são: pela margem direita, riacho do Mororó, riacho Mulungú, riacho do Pinto, riacho Mandacaru e rio Topera; e, pela margem esquerda, rio dos Bois, riacho da Luíza, rio Cordeiro e rio Dois Riachos.


O rio Cordeiro é o principal tributário do rio Ipanema, cuja nascente se localiza no município de Venturosa.

Alguns dos municípios da bacia têm seus limites definidos por cursos d’água: Tupanatinga, pelos riachos do Pinto e Mandacaru; Itaíba, pelo riacho Mandacaru e o rio Ipanema; Águas Belas, pelo rio Ipanema, rio Cordeiro, riacho do Defunto e rio Dois Riachos; e Iati, pelo rio Dois Riachos.

Divisão Político-Administrativa

A bacia do rio Ipanema apresenta uma área de 6.209,67 km², que corresponde a 6,32% da área do estado.

Os municípios pernambucanos totalmente inseridos na bacia são Águas Belas e Pedra.

Aqueles que apresentam sua sede na bacia são Alagoinha, Buíque, Iatí, Itaíba, Pesqueira, Saloá, Tupanatinga e Venturosa, enquanto os parcialmente inseridos na mesma são Arcoverde, Bom Conselho, Caetés, Ibimirim, Manari e Paranatama.

Reservatórios


No quadro acima, são apresentadas as principais características dos reservatórios da bacia do rio Ipanema, com capacidade máxima acima de 1 milhão de m³.

O GRITO DE ALERTA



"Para alguns pode soar estranho comemorar o dia de “algo” que se apresenta de forma tão sujo e degradante. Até poderíamos considerar normal esse pensamento, levando em consideração o que nós santanenses permitimos que o nosso maior e mais belo acidente geográfico chegasse a situação na qual se encontra; pelo menos num pequeno trecho de cerca de três quilômetros, exatamente na área urbana da única cidade em que leva garbosamente o seu nome, Santana do Ipanema."

A estiagem (seca) no sertão
As enchentes do Rio Ipanema

Fontes da matéria:
Cap. 52 Na Ribeira do Ipanema (Lampião, seu tempo e seu Reinado)
Indicativos nos links citados.
  
 http://meneleu.blogspot.com.br/2015/01/o-rio-ipanema-nos-tempos-de-lampiao-e.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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