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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

LAMPIÃO

Por Antonio Corrêa Sobrinho

PERGUNTO aos amigos se o drama “LAMPIÃO”, obra da grande escritora cearense, Raquel de Queiroz, escrita na década de 1950, cujo comentário a respeito eu trago a seguir, publicado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” de 02.09.1953, foi lido por alguém do grupo, ou se tem notícia se tal foi encenada?

Outrossim, saber se o episódio parte integrante deste drama "Lampião", destacado na sub dita resenha (ao lê-la o amigo saberá qual é), como é tratado pela melhor pesquisa sobre o cangaço.

“LAMPIÃO”

Raquel de Queiroz sentiu-se agora atraída pelo teatro. Não é de estranhar, pois seus romances e contos sempre se revelaram de ação muito intensa e se caracterizaram pela naturalidade dos diálogos. Se não tentou antes escrever peças, foi sem dúvida porque somente nos últimos anos se tornou o teatro brasileiro uma realidade. Hoje tem ele público, atores e cenaristas. E as obras vão fluindo. Tivesse havido possibilidades maiores anteriormente e muito ficcionista se houvera voltado para o palco.

A peça de Raquel de Queiroz intitula-se “Lampião”. É realista, de um realismo sóbrio que se adota perfeitamente à paisagem do sertão e à mentalidade do cangaceiro. Tudo é árido, seco, denso, neste drama que nos apresenta um Lampião asperamente megalomaníaco e friamente cruel. No entanto, o diálogo entre o bandido e Maria Bonita põe uma nota diferente no conjunto, uma nota sentimental profunda, de grande interesse psicológico e suscetível de explicar, em parte, as atitudes violentas do capitão contra seus próprios irmãos e seus cabras.

Raquel de Queiroz não endeusou o cangaceiro, nem lhe desculpou os crimes. Não quis fazer sociologia nem tirar nenhum partido ideológico do fenômeno cangaço. Cortou apenas na vida de Lampião a sequência de maior dramaticidade e nela projetou de um modo quase objetivo. Para tanto, sacrificou os possíveis efeitos que teria alcançado apelando para o pitoresco, mas ganhou uma profundidade rara em nossa literatura.

Diz a autora que em sua peça “procurou acompanhar o mais perto possível a lenda, o anedotário, o noticiário de jornal”. Não sei se o episódio da tentativa de sedução de Maria Bonita pelo cangaceiro Ponto Fino se encontra na tradição oral ou escrita relativa ao “capitão” Virgulino. Se está na tradição, foi muito bem dramatizado. Se não está, foi um achado, pois se justifica perfeitamente, assinalando, pela sua naturalidade e sua penetração, um dos pontos altos do drama. Aliás, não vejo pontos fracos na peça, a não ser, talvez, no início, o diálogo de Maria de Déa e seu marido, o sapateiro Lauro, com a cena da cobra e a confissão de ter enviado recado a Lampião para que viesse busca-la. Ainda assim, logo que o bandido chega, a ação se precipita e se condensa.

Não sou homem de teatro. Não posso, por isso, julgar se a peça se sustentaria à luz da ribalta. Mas acredito no seu êxito porque tem o que exige o teatro, isto é, um certo número de “clímax” que prepara e valoriza o momento final mais intenso, o momento que fica com referência elucidativa do todo na memória do espectador. A peça de Raquel de Queiroz toda inteira se constrói para a cena da morte e degola de Lampião e Maria Bonita. E o fim comovente surge quando já o sentimos necessário, tanto pela situação criada como pelo próprio estado de espírito dos heróis. É o que dá ao argumento, que também poderia ser cinematográfico, a homogeneidade e a solidez sem as quais não se mantem de pé um drama.
S. M.

Fonte: facebook
Grupo: Cangaçofilia

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