Por Sálvio Siqueira
... apertou a
mão de Zé amigavelmente, ele segurou com força tentando impossibilitar qualquer
reação dele. José, notando a trama dos cangaceiros, em vez de no primeiro
momento tentar desvencilhar-se da mão que segurava a sua, com a que estava
solta, saca do revólver que tinha colocado na cinta na altura da cintura, na
parte posterior, em suas costas, e, em ato de reflexo, abre fogo contra os
cangaceiros, se soltando da mão do “Rei dos Cangaceiros”, o qual também teve
que soltar a mão de Zé e atirar-se ao chão rolando para defender-se das balas,
pega seu rifle e protege-se dentro de um quarto, começando uma grande troca de
tiros.
Em uma rede,
alheio a isso tudo, estava deitado, e talvez até dormindo, José Pereira Lima, o
filho com sete dias de nascido de Zé de Esperidião. Inevitavelmente a criança é
atingida nos membros inferiores, deixando-a com um defeito físico para sempre.
“(...) No
tiroteio o menino foi baleado nas duas pernas, tendo sido acertado o dedo do pé
deixando-o aleijado por toda a vida (...).” (Ob. Ct.)
O mundo se
fecha na bala. O tiroteio é terrível. Zé não dá chances para que os cangaceiros
o matem. Os cangaceiros, mesmo em número de 116, não conseguem entra e matar
aquele homem valente, pois cada um sabe que morreria ao transpor o batente da porta,
e mesmo sendo cangaceiros, quem tem... tem medo. O que mais incomodava José
eram os gritos e o choro de seu filhinho. Parando por alguns instantes de
responder ao fogo dos atacantes, Zé grita para Lampião, pedindo garantias para
a vida da criança. Lampião responde que garante a vida dele e ordena a Rosa,
esposa de Zé, a ir pegar seu filho que estava baleado, sangrando e deitado numa
rede armada na sala daquela residência. Após a mãe retirar o menino, os cabras
voltam a atacar José com mais afinco, no entanto, Zé não permite que nenhum
entre na casa, pois sabia que seria seu fim. Em determinado momento, Titino
Estevão, estando próximo, tenta socorrer Zé, entrando pela casa do irmão deste,
Antônio Esperidião, que ficava logo ao lado, no entanto é notado por alguns
cangaceiros que abrem fogo na direção dele. Uma das balas atinge o batente da
porta, não dando chances alguma do amigo combater em defesa de José.
A luta
prolonga-se por um tempo não calculado por Lampião. Estava demorando muito
acabar com um só homem, coisa que não fora prevista pelo chefe cangaceiro.
Quando já se iniciava à tarde do dia 25 de novembro, vendo que não conseguiriam
desalojar, nem matar, à bala, o inimigo dentro do quarto, Lampião ordena que os
‘cabras’ arranquem a madeira seca da cerca, varas e estacas, e fizessem um
monte em volta da casa. Depois de terem colocado muita madeira em volta da
casa, Virgolino obriga sua esposa, dona Rosa, a atear fogo na madeira. As
chamas começam a queimar a madeira e, consequentemente, a casa vai sendo
destruído por elas, terminando por queima-la quase completamente, ficando um
dos quartos, exatamente aquele em que se encontrava José de Esperidião, sem ter
sido destruído pelo fogo. José de Esperidião morre, mas não pelas balas ou
punhais dos cabras de Lampião, mas por sufocamento devido a quantidade de
fumaça. Morreu sentado numa cama com seu rifle em pé e seu dedo indicador no
gatilho, tendo uma bala na agulha, tanto que, quando seu irmão, Tibúrcio
Esperidião, foi retirar seu corpo dos escombros, ao tentar retirar a arma de
sua mão, essa dispara antes que se conseguisse o intento.
Lampião,
percebendo que não havia mais resposta de fogo de dentro da casa, reconheceu
que Zé estava morto. Deixando a mãe e o filho, segue seu caminho rumo a Serra
Grande. Por volta das 16:00 horas da tarde daquele dia, Lampião e seu bando
acampam no engenho de cana na fazenda Tamboril, propriedade rural do senhor
Serafim, cuidada pelos irmãos Tino e Antônio Serafim, filhos do proprietário,
onde é morta uma rês, a qual tinha ele comprado dias antes, para que os
cangaceiros se alimentassem. Vendo os presos que Lampião levava, Tino Serafim
pede pela vida de Silvino Liberalino, coisa que Lampião garante que não iria
mata-lo.
Após ser
liberto por Lampião, Vieira coloca o velho calhambeque para correr até Vila
Bela. Lá estando, Benício relata para o Comandante Geral, major Theófanes
Torres, tudo que aconteceu na estrada e como fora incumbido, pelo “Rei dos
Cangaceiros”, para arrecadar o dinheiro para o resgate de Pedro, o homem da ESSO,
isso no mesmo dia, 24 de novembro. Imediatamente o comandante passa a ordem
para o tenente Higino José Belarmino para que o mesmo fosse ao local onde se
dera o sequestro e, de lá, ‘pegassem’ o rastro dos cangaceiros. Ao mesmo tempo,
o major telegrafa para Flores e ordena que o soldado comandante “Ducarmo”,
Manoel Antônio de Araújo, partisse com seus homens para o mesmo local. Em
princípios do dia 25 de novembro de 1926, em Vila Bela, o comandante geral das
Forças Volantes contra o banditismo, major Theófhanes Ferras Torres, ordena,
aos seguintes comandantes:
“sargento José
Olinda de Siqueira Ramos, sargento Arlindo Rocha; Cabo Manoel de Souza Neto,
cabo Euclydes de Souza Ferraz, cabo Domingos Gomes de Souza”, com seus
comandados, para se deslocarem rumo a Varzinha, a fim de darem combate a
Lampião e seu bando.
Após estarem
juntas, a tropa do tenente Higino e a do soldado Ducarmo, partem seguindo os
rastros deixados pelos ‘cabras’ de Lampião, fazendo o mesmo percurso, rumo a
Varzinha.
Já pelo outro
lado da região citada, estavam a fechar o cerco àquelas colunas que haviam
partido, na manhã do dia 25, de Vila Bela em direção a Varzinha. Na tarde
daquele mesmo dia, o cabo Manoel de Souza Neto, consegue prender o ‘negociador’
do sequestro de Pedro Paulo, o homem da ESSO, onde o mesmo levava consigo a
soma de cinco contos de réis para pagar o resgate. Além de prender aquele
portador, Mané Fumaça ordena que seus homens deem uma sova no infeliz.
Devido o tempo
gasto com a prisão do roceiro que levava o dinheiro para o resgate, as volantes
atrasam-se e têm que pernoitar nas terras da fazenda Tamboril. Lampião tinha
dito ao amigo/coiteiro Tino Serafim, que ele saísse de casa e procurasse o
mato. Lá ficasse até as coisas se acalmarem, pois, por uns dias aquela região
iria ‘pegar fogo’, e estaria infestada de soldados. Tino não obedeceu ao
conselho e, na manhã do dia 26 de novembro de 1926, é pego pelas volantes. O
seu inquiridor é o cabo Manoel Neto. Os soldados começam a descer o cacete lá
mesmo, no roçado, onde prenderam o coiteiro. Os espancamentos são muitos,
chegando até a colocarem uma cangalha em suas costas e alguns andarem montado
nela. Dentre os homens da tropa, havia dois que conheciam Tino Serafim e
interviram por ele, reclamando a um companheiro de alcunha “cocada de sal”, que
era o que mais batia.
Mesmo tendo
apanhado muito, Tino Serafim ainda encontra forças para tentar aconselhar o
cabo Manoel Neto, dizendo para ele não ir até a Serra Grande:
“-Coronel, vou
lhe pedir que não vá atrás de Lampião na serra não, pois ele ta virado no cão e
disse que hoje acordou com vontade de matar macaco.”
Particularmente,
acreditamos que esse ‘conselho’ de Tino Serafim ao comandante de volante, era
exatamente para ter efeito o contrário. Ele era sabedor do temperamento do nazareno,
e sabia, com certeza, que passando essa informação, em vez de não prosseguir,
servia de ‘combustível’ para que ele fosse mais rápido ainda.
Em conversa com o tenente Hygino, Ducarmo relata ao mesmo que tudo que estava acontecendo era uma armadilha montada por Lampião. O tenente chegou a mesmo conclusão e, nesse momento envia um soldado, a cavalo, para que ele transmitisse aos outros comandantes de volantes que não subissem a encosta da serra, que os mesmo esperassem a sua chegada.
As cinco
volantes vindas de Vila Bela, chegam primeiro ao pé da Serra Grande. Em seguida
chegam às outras duas que vinham em direção diferente, a do tenente Higyno e a
do soldado Ducarmo. O contingente das sete volantes juntas era mais de 300
soldados, que iriam enfrenta os 116 cangaceiros comandados pelo “Rei dos
Cangaceiros” naqueles 26 dias de novembro de 1926.
Em determinado
local, já na entrada do sovaco da serra, é encontrado um punhal em uma árvore,
e nele uma bilhete do “Rei dos Cangaceiros”, endereçado diretamente ao cabo
Manoel de Souza Neto:
“(...)Manuel
João de lima, filho de João Serafim, disse que antes que antes de entrar no
Boqueirão da Serra, Lampião tinha deixado um punhal encravado em um pé de
angico com um bilhete que foi visto e pego por Manoel Neto.
No papel tinha escrito:
-Mané Neto se quiser subir tome outro caminho que eu vou tomar uma fuga no boqueirão. Assina lampião.
Ao ler, falou Manoel Neto:
-Aperta o passo rapaziada que o cabra ta se afrouxando! (...).” (Ob. Ct.)
O tenente
Higyno, após analisar o terreno, cita que uma das volantes, ou parte de uma
delas, deveria contornar a serra e irem postarem-se em determinado local, para
impedirem de uma emboscada pelo boqueirão oposto por parte dos cangaceiros. O
sargento Arlindo Rocha e o cabo Manoel de Souza neto, discordam do tenente,
dizendo ao mesmo para não dividir a tropa e que, pelos vestígios no solo, ao
mato estava bastante amassado, Lampião deveria era estar com medo de enfrentar
um contingente militar tão grande. Conversa vai, conversa vem, o cabo e o
sargento conseguem convencer o tenente.
“(...) O
soldado Manuel Ferreira de Sousa, conhecido como mané Grande contava que os
cangaceiros subiram machucando o mato, pareciam estar com medo, mas fizeram
assim para confundir as Volantes (...).” (Ob. Ct.)
Não só os
comandantes das volantes, mas, e principalmente, todos os homens das volantes
estavam com a certeza de que ali, naquela serra, eles acabariam com o
famigerado fora-da-Lei, Virgolino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, o terror do
Sertão nordestino, e o que levou a essa ‘certeza’, fora exatamente à quantidade
de soldados ali presente.
Chegando as
volantes no Boqueirão da serra, Mané Neto e Euclides são ultrapassados pelo
afoito Arlindo Rocha. Arlindo, já dentro do Boqueirão, posiciona-se a esquerda,
enquanto Mané Neto e Euclides, vindos depois, se posicionam a direita, esses
dois últimos ficaram exatamente onde estaria observando tudo, lá do alto da
serra, Lampião.
Às oito horas da manha do dia 26 de novembro de 1926, após consultar seu relógio de algibeira, o tenente Higyno disse:
Às oito horas da manha do dia 26 de novembro de 1926, após consultar seu relógio de algibeira, o tenente Higyno disse:
“- Quem for homem, suba a serra e escape quem Deus quiser.”
Nesse momento,
escutou-se Manoel de Souza Neto, quando grita:
“-Venho de longe com mais de trinta léguas no encalço e quero é brigar!
Já estou com o pé na embocadura da serra, já vou subindo!”
Quase que o
cabo Mané Neto não finda suas palavras, quando se escuta a voz de Euclides
Ferraz dizendo:
“- Com meu pelotão da morte também vou subindo a grande serra.”
Depois de tudo
isso, Arlindo Rocha grita para todos:
“- Ah, ta bom. Eu hoje quero é almoçar bala mais Lampião.
...continua na
matéria: “... DURANTE A BATALHA DA SERRA GRANDE!”
Fonte Ob. Ct.
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