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sexta-feira, 1 de maio de 2020

A JURA MALDITA DE AMOR.

Por  João Filho de Paula Pessoa

Por volta de 1761, Cabeleira aos seus nove anos de idade foi separado de sua mãe e retirado de casa por seu pai, uma alma desgraçada, perversa e maligna, que o levou para morar consigo nas brenhas da caatinga, numa vida errante e marginal, lhe passando a pior e mais hedionda educação, em que ensinou a seu filho ser o pior da personalidade humana. 

Antes de partir, o menino José Gomes se despediu de sua companheira de infância, Luisinha, a quem jurou voltar um dia para buscá-la e viverem juntos. Quinze anos depois, por volta de 1776, tendo o menino virado o famigerado assassino dos sertões, o Cabeleira, o pior dos bandidos daquele tempo, este avistou uma moça na beira de um rio apanhando água, a quem atacou agarrando-a a força para saciar suas sevícias imundas, tentando arrastá-la para um local mais afastado para a prática abusiva de suas más intenções.

A mãe da moça apareceu e tentou salvá-la, mas foi abatida violentamente na cabeça pela coronha de seu bacamarte, sendo após, reconhecido pela moça, que na verdade era Luisinha, a quem o marginal jurou seu amor. Com isto o Cabeleira surpreso se evadiu prometendo voltar em breve para buscá-la. 

Lusinha levou sua mãe arquejando pela vida até à única casa que havia naquelas imediações, de uma família amiga. Ao chegar à esta casa, só se encontravam as mulheres, pois os homens, pai, filhos e genros, tinham saído à procura do bando de bandidos para combatê-los, mas foram emboscados pelos mesmos que mataram a todos do grupo familiar e se dirigiram à sua casa para desgraçar o resto da família e seus bens. 

Ao chegarem à casa o bando deparou-se com as mulheres trancadas em desesperos e postas a rezar e, como não abriram a porta, tocaram fogo na humilde residência de taipa, com a mulheres dentro. Após longa incineração, já tendo convalescidas praticamente todas as mulheres por asfixia e sufocamento, a porta se abriu com a saída desesperada de Lusinha que segurava em seus braços sua mãe já em seus suspiros finais de vida. Luisinha inalada pela fumaça, sem forças, asfixiada e com queimaduras, quase desmaiada, começou a ser disputada pelos bandoleiros a fim de se apossarem dela e dela abusarem, inclusive pelo pai de Cabeleira, enquanto ela chorava a morte de sua mãe. 

O Cabeleira consegue impor seu domínio sobre os demais e sobre aquela pobre mulher a quem sequestrou e levou consigo em fuga. Logo em seguida, o bando foi atacado pela volante policial que matou a maioria dos bandidos e prendeu Joaquim, o pai de cabeleira e Teodósio, seu “braço direito”, tendo Cabeleira fugido sertão à dentro com Luisinha, totalmente abatida e que não suportando as queimaduras, a asfixia, a fome e a sede, faleceu em meio ao sertão inóspito, sendo seu corpo inerte abandonado por seu algoz que continuou em fuga, sendo preso poucos dias depois e levado à Recife onde foi enforcado junto com seu maldito pai e seu outro companheiro de crimes, num enforcamento triplo e público, estando entre os espectadores a mãe de José Gomes, impotente e aos prantos de choro. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 20/04/2020.


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