De todos os imóveis históricos da
cidade de São Paulo, talvez nenhum outro desperte tanta atenção e curiosidade
das pessoas como o célebre Castelinho da Rua Apa, palco em 12 de maio de 1937
de um dos crimes mais marcantes e enigmáticos da história do Brasil moderno.
Foi nesta data
que após uma séria discussão os irmãos Armando e Álvaro chegaram às vias de
fato e trocaram tiros. Poucos minutos antes da tragédia ocorrer a mãe, Maria
Cândida dos Reis, teria surgido para apartar a discussão de ambos, que estavam apontando revólveres um para o outro. Foi aí que a troca de tiros
iniciou-se e os três acabaram por falecer no local.
O Castelinho
em fotografia de possivelmente em 1930 ou 1931
À época a
rápida apuração das autoridades policiais teria levantado suspeitas sobre se os
irmãos teriam um matado o outro ou se o assassinato havia sido encomendado. O
posicionamento dos corpos de Armando e Álvaro teria sido um dos principais
combustíveis para que muitos achassem que os irmãos e a mãe teriam sido, na
verdade, vítimas de um triplo homicídio.
Após anos de
polêmica, em um caso em que os herdeiros diretos haviam todos falecidos na mesma
tragédia, uma nova lei federal sobre heranças promulgada pelo então Presidente
da República, Getúlio Vargas, iria impedir que parentes de segundo ou terceiro
grau herdassem o castelinho.
Assim, o
castelinho (e outros imóveis sem herdeiros em situações semelhantes) seriam
repassados ao governo federal.
Anos mais
tarde esta lei seria revogada, mas parentes de Dona Maria Cândida e dos irmãos
Armando e Álvaro jamais iriam conseguir retomar o imóvel que ficaria nas mãos
do INSS (e ainda permanece), órgão famoso por não preservar ou
recuperar bens históricos em seu poder.
Com este
impasse o imóvel sempre foi impedido de ser recuperado. Com o tempo a fama de
assombrado começou a acompanhar o local, e os anos de abandono e degradação
ajudaram e muito a propagar essa fama que não passa de uma lenda.
Mesmo nas mãos
do INSS, o Castelinho foi sendo administrado pelo Clube das Mães do Brasil que
ocupa um imóvel anexo ao lado. Durante anos fora sólidas estruturas da
construção que mantiveram o imóvel em pé, já que ao menos durante 70 anos
resistiu bravamente sem manutenção.
Tudo começou a
mudar quando em 2015 foi assinado um convênio entre a Secretaria Estadual
da Justiça e da Defesa da Cidadania e o Fundo Estadual de Defesa dos
Interesses Difusos (FID) para restaurar o célebre imóvel paulistano. Ao custo
de R$2.876.643,33 as obras duraram pouco mais de um ano, sendo entregue o
imóvel restaurado no início de 2017.
Foi o fim de
uma longa novela que parecia que jamais teria um final feliz.
Material inédito sobre o Castelinho
e o Crime da Rua Apa:
Liberamos aqui, com exclusividade, 7
fotos relacionadas Castelinho da Rua Apa, sendo que 4 delas são
inéditas. Todas as fotografias foram realizadas entre 1928 e 1938 e
esperamos que apreciem. O conteúdo faz parte do acervo do Dr. Milton
Bednarski, que foi adquirido
pelo São Paulo Antiga.
A foto abaixo mostra o Castelinho
tirada bem no meio da Avenida São João, onde hoje fica o canteiro central, sob
o elevado. Este ângulo favorece a visualização de seus vizinhos que ficavam na
mesma rua Apa e que já foram todos demolidos.
Já a próxima
imagem mostra o Castelinho com vista para os vizinhos da Avenida São João. Onde
era possivelmente uma garagem hoje está o imóvel que sedia o Clube das Mães do
Brasil.
Entrando no
imóvel as duas fotos seguintes são imagens periciais e apresentam cenas da
tragédia. A primeira, da estante de livros, indica com setas onde algumas balas
se alojaram, já a segunda orienta a trajetória de balas antes de se alojarem na
parede do castelinho.
A foto a
seguir mostra um dos irmãos, Álvaro, com amigos juntos de seus carros
estacionados na Praça da Sé. Ele é o que está de roupa branca e bem próximo do
marco zero da cidade.
Nesta próxima foto, também tirada
na Praça da Sé, Álvaro está com amigos (ele é o quarto da esquerda para a
direita).
Por fim, uma
rara foto onde todos os membros da família aparecem reunidos, tirada em uma
praia do litoral paulista. Junto de amigos, está a mãe, Maria Cândida dos
Reis (a primeira à esquerda), o pai (ao volante do automóvel),
Armando (sem camisa, sentado no estribo do carro) e, ao lado dele,
Álvaro (com trajes de banho e encostado no paralama).
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário