Por João de Sousa Costa
Corria o ano
da graça de 1926, o governo federal enfrentava uma rebelião militar, liderada
por jovens oficiais do Exército, que resultou na criação da Coluna Miguel
Costa-Prestes, que passou à História como Coluna Prestes. Não era uma
revolução. Como nos dias atuais, uma combinação perigosa: Miguel Costa, da
Polícia Militar de São Paulo; Carlos Prestes, capitão do Exército.
Parafraseando
o professor Carlos Chiarelli, que ficou famoso pela frase "os professores
fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem e o governo finge que
controla" ( 992) podemos retroceder no tempo e afirmar, em relação à
postura do governo Artur Bernardes em relação à Coluna Prestes: “os revoltosos
fingiam uma revolução, o Exército fingia que combatia, e o governo fingia que
controlava a situação”. Era esta a situação do país. Mas ao se aproximar a
Coluna da região do Juazeiro do Norte, o caldo ameaça engrossar.
Em 1925,
estava mais que claro que o Exército fazia corpo mole em combater a Coluna. O
governo passa a recrutar Polícias Militares nos Estados e jagunços que serviam
aos latifundiários. Eis aí a origem dos “Batalhões Patrióticos”.
O do Juazeiro
do Norte era composto por 360 soldados do Exército, jagunços e cangaceiros –
homens com expertise no manejo das armas. É neste contexto que o deputado Floro
Bartolomeu tira uma carta da manga, a sua bala de prata: Virgulino Ferreira da
Silva.
IDENTIDADES:
1- Zé Paulo, primo; 2 -Venâncio Ferreira, tio; 3 - Sebastião Paulo, primo; 4 -
Ezequiel, irmão; 5 João Ferreira, irmão; 6 -Pedro Queiroz, cunhado (casado com
Maria Mocinha, que está à sua frente, sentada); 7- Francisco Paulo, primo; 8-
Virgínio Fortunato da Silva, cunhado (casado com Angélica) 9 - ZÉ DANDÃO,
agregado da família. SENTADOS, da esquerda para direita: 10 - Antônio,
irmão; 11-Anália, irmã; 12 - Joaninha, cunhada (casada com João
Ferreira); 13 -Maria Mocinha, ou Maria Queiroz ,irmã; 14-Angélica,
irmã e 15 - Lampião.
Três anos
antes, a família Ferreira mudara-se para o Juazeiro, sob a proteção do chefe
político e religioso, Padre Cícero. E, em 1926, recrutar o chefe de cangaceiros
de maior destaque para o Batalhão Patriótico não foi tarefa difícil. Para sua
formação, o Exército entrou com 360 soldados, 45 graduados; Lampião chegou na
cidade à frente de 50 cangaceiros. É nesse contexto que morre de sífilis no Rio
de Janeiro, o deputado Floro, o articulador do ingresso de Virgulino no
batalhão.
Lampião e o irmão Antonio Ferreira
Virgulino
entra no Juazeiro com todos seus homens a cavalo, e encontra o padre Cícero,
nos seus 82 anos, desnorteado e sem saber o que fazer, mas que tinha de manter
o acordo de guerra feito por Floro com Virgulino Ferreira, que a imprensa já
tornara famoso nacionalmente.
Virgulino a
todos do Juazeiro causou boa impressão. “Falava baixo, quase sussurrando, sem
largar o seu mosquetão, assessorado por Antônio Ferreira o tempo todo”, fez
marketing social: distribuiu doces com as crianças e moedas com os desvalidos
da sorte. De longe "cubano" tudo, na cobertura, Luiz Pedro, Nevoeiro,
Chumbinho e o implacável, frio e meticuloso Sabino Gomes. Virgulino chamava a
atenção, pois até espada portava, segundo o historiador Frederico Pernambucano
de Mello.
É neste clima
que Virgulino troca de indumentária: deixa o chapéu de aba quebrada pra cima,
por chapéu de capitão do Exército, participa de bailes e retretas, almoços com
a elite do lugar, encontros reservados com Cícero e seu secretário particular,
o libanês Benjamim Abraão. E deixa o Juazeiro com a patente de Capitão, passada
por ordem expressa do padre Cícero, atendendo exigências do próprio Virgulino.
“Manuscrita em
papel almaço (que serviu de documento oficial) e assinada pelo adjunto de
inspetor do Ministério da Agricultura Pedro de Albuquerque Uchoa, única autoridade
federal no Juazeiro”.
Lampião foi
morto em julho de 1938, sem abrir mão da patente de Capitão. Claro que esta
patente de oficial nunca teve valor legal.
Lampião na
verdade nunca combateu a Coluna Prestes pra valer, esta composta 1.200 homens.
Mas saiu de Juazeiro com fardamento, armas modernas e novinhas em folha. Pelo
resto da vida, Pedro Uchoa, debochou dessa patente. “não dei uma patente de
general porque o bandoleiro exigiu apenas de capitão”. A farsa política
brasileira nunca foi exceção, mas regra.
João Costa
Imagens: Lauro
Cabral de Oliveira
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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