Por Manoel Belarmino
Manoel Severo,
João de Sousa Lima e Manoel Belarmino
Aqueles 9 anos
de cangaço em Sergipe, quase uma década, mais parecia um século. O sertão
estava em alvoroço. Mortes, tragédias, chacinas, combates, medo, carreiras,
atrocidades. Cangaceiros, coiteiros e volantes. Um dos acontecimentos que
marcou a história do Cangaço em Sergipe foi a morte do cangaceiro Sabiá e a
lenda que nasceu dessa morte. Sabiá (provavelmente este era o quarto cangaceiro
com este nome) era natural de Poço Redondo e filho de Dona Maria Antônia Alves
e Zeca Bié. O seu nome civil e de batismo era João Alves dos Santos, conhecido
como João Preto.
Sabiá, ao
entrar no cangaço, logo passou a pertencer ao grupo comandado por Zé Sereno. É
naquela segunda visita dos cangaceiros à cidade de Aquidabã, feita pelo grupo
de Zé Sereno e que Sabiá estava presente, que acontece a morte do filho de Zé
Bié. Era o mês de outubro de 1936. O grupo de Zé Sereno chega às
proximidade de Aquidabã e um grupo de jovens, já escaldados daquela visita de
1930 feita por Lampião e seus cangaceiros, quando aconteceram diversas
malvadezas praticadas pelos cangaceiros aos moradores daquele lugar resolveram
perseguir os cangaceiros que se aproximavam dali. Houve ali um tiroteio e o
cangaceiro Sabiá foi atingido na cabeça, na malhada da Fazenda Barra Salgada,
no município de Canhoba. A bala do jovem Gustavo Guimarães atingiu o cangaceiro
Sabiá. Era a vingança dos homens de Aquidabã contra Lampião que quando em 1930
esteve ali arrasou aquela povoação. Os cangaceiros imaginando que fosse uma
perseguição da volante, fugiram.
Arte de
Anílton Freitas
Sabiá ainda
não estava morto. Horas depois os jovens retornam à sede da fazenda Barra
Salgada e vêem o cangaceiro baleado, mas ainda vivo, agonizando. O mesmo
Gustavo que desferiu o tiro certeiro que atingiu a cabeça do cangaceiro,
escarra e cospe na boca do já quase morto Sabiá. O cangaceiro já quase morto em
seguida é arrastado por um caminhão até Aquidabã onde é exibido como troféu e
como vingança às atrocidades feitas naquele lugar quando Lampião ali
esteve.
Aquele ato
impensado e cruel de Gustavo gerou uma lenda, mas o próprio Gustavo afirmava
que o fato realmente aconteceu, dando conta que naquele momento que cuspiu na
boca do quase morto cangaceiro Sabiá, sentiu o seu corpo coçar e gerando
borbulhas estranhas e mal cheirosas. Apareceu dias depois uma doença ruim que
tomou conta do seu corpo, desconfigurando-o completamente. Nem médico e nem
reza forte dos mais renomados rezadores de Aquidabã e Canhoba deu jeito.
Segundo alguns
pesquisadores, o próprio Gustavo Guimarães dizia que aquela doença ruim invadiu
o seu corpo naquele momento infeliz do seu cuspe na boca do cangaceiro
Sabiá. Sabiá morreu ali nas terras de Canhoba e Aquidabã, depois de ser
ferido de bala de fuzil, cuspido, pisado e arrastado, e, logo depois, Gustavo,
o matador do cangaceiro Sabiá, morreu de uma doença ruim que invadiu o seu
corpo. Será que foi uma vingança da natureza por causa da morte do cangaceiro?
Manoel
Belarmino, pesquisador, escritor, cordelista
Conselheiro
Cariri Cangaço, Poço Redondo-SE
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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