Jaozin Jaaozinn
Já passado o
mês de fevereiro, adentrando os finais de março para abril do ano de 1938,
Moreno e grupo seguiam em direção a Santana do Ipanema/AL, saindo primeiro das
regiões próximas da fazenda Lajeiro do Boi, terras da sua companheira Durvinha.
Para chegarem no destino, tiveram que passar na fazenda Patos, onde, tempos
antes, ficara marcado com a morte de Serra Branca, Ameaça (ou Ameaço) e
Eleonora – irmã de Aristéia –. Aristéia e seu marido, Cícero Garrincha, o
Catingueira, iam mais na frente que o pessoal, soltando risadas e sorrisos de
orelha a orelha; comemoravam a aparente gravidez da cangaceira.
Chegando mais
na frente, o casal ainda se encontrava totalmente feliz. Talvez, os sorrisos
que Aristéia e seu companheiro "soltavam" eram uma forma de disfarçar
a triste dor que passavam naquela vida de perdas e fugas nos campos, matas
fechadas e tabuleiros disponíveis para os bandoleiros no sertão.
Moreno,
desconfiado como era, dobrava mais sua atenção e cautela por motivos, como a
total descontração de Aristéia e Catingueira, e também por lá, as terras
alagoanas, estarem encharcadas de volantes.
Chegando mais
um pouco na frente, atravessando os galhos tortuosos que se encontram na
região, o bando entrava numa tocaia. “Escondidos e protegidos entre as pedras e
vegetações mais salientes, eles aguardavam o momento de atacar os inimigos ” (
Moreno e Durvinha; João de Souza Lima - pg. 126). E iam caminhando mais e mais
para a emboscada, sem perceberem o perigo que estavam correndo, e após algumas
leves pisadas no seco chão, escutaram o roncar dos fuzis da polícia.
Automaticamente Moreno e João Garrinchinha se abaixam, toca tiro nos inimigos e
coloca as mulheres em suas retaguardas. Um combate infernal.
Moreno
observava cada palmo de terra que aparecia nas suas vistas. Observa o veterano
bandoleiro Ricardo – conhecido pelos apelidos Ricardo Pontaria, Pontaria ou Zé
Velho – já estirado no chão, sem vida, pelos primeiros disparos da volante; ao
correr os olhos em outro local, repara Cícero, o Catingueira, ferido grosseiramente.
Este, com muito esforço, consegue levantar, e é logo levado com ajuda de Moreno
e seu irmão para fora do campo de batalha. Cambaleava, tropicava, gemia de dor
enquanto estava apoiado nos ombros dos velhos amigos.
Após longa
caminhada, deixando para trás o corpo de Zé, há centenas de metros, param num
pé de árvore e colocam o ferido na sombra. Sua camisa foi aberta e percebem o
estrago que uma bala pode fazer: o tiro destruiu parcialmente a caixa torácica
de Catingueira, atingindo-o no tórax, era fácil de visualizar o coração pulsar.
Em sua respiração ofegante, via-se jatos de sangue saírem pelo “𝒍𝒂𝒓𝒈𝒐
𝒐𝒓𝒊𝒇𝒊́𝒄𝒊𝒐
𝒅𝒆
𝒄𝒐𝒏𝒕𝒖𝒔𝒂̃𝒐”.
Cícero pedia água, Moreno respondia que água, naquele momento, causaria danos
piores, lavando-o rapidamente a morte. Durvinha tirou de dentro de seu embornal
um vidro de "saúde da mulher" (composto usado quando das cólicas
menstruais) e um capucho de algodão. Por inúmeras vezes o capucho embebido no
remédio era passado nos lábios de Catingueira para aliviar a secura na boca.
Cada vez que
respirava, expulsava sangue borbulhante, e o coração batendo
descompassadamente. Moreno sentia que o velho companheiro iria morrer; Cícero
também; ao seu lado, Aristéia chorava copiosamente. Moreno pergunta para
Catingueira:
– 𝑶
𝒒𝒖𝒆̂
𝒗𝒐𝒄𝒆̂
𝒒𝒖𝒆𝒓
𝒒𝒖𝒆
𝒆𝒖
𝒇𝒂𝒄̧𝒂
𝒄𝒐𝒎
𝒔𝒖𝒂
𝒎𝒖𝒍𝒉𝒆𝒓?
— 𝑭𝒂𝒄̧𝒂
𝒐
𝒒𝒖𝒆
𝑫𝒆𝒖𝒔
𝒒𝒖𝒊𝒔𝒆𝒓!
𝑺𝒆
𝒑𝒖𝒅𝒆́,
𝒅𝒆𝒊𝒙𝒆
𝒆𝒍𝒂
𝒄𝒐𝒎
𝒂
𝒇𝒂𝒎𝒊́𝒍𝒊𝒂!
– 𝑬𝒖
𝒅𝒆𝒊𝒙𝒐!
Aos poucos,
parava de respirar e gemer; o coração, que mostrava-se agitado, já começava a
pulsar bem devagar; apertando com força o braço de Moreno, pendeu a cabeça prum
lado e expirou. Amigos sentiam, choravam e tentavam acalentar a sofrida
Aristéia. João, contrariado, acabou de assistir a morte de seu mano. Moreno e
os demais cavam uma cova rasa e enterram-no lá.
Seu jazigo e
sua cruz eram as macambiras e os xique-xiques cortados e colocados em cima do
túmulo para proteger o que há por dentro.
Traçam um
caminho inverso ao que vinham seguindo, para fugirem de mais outra
"aventura" ou desagradável surpresa como essa. Após quatro dias,
Moreno retornaria ao local, encontrando só a carcaça de Pontaria, já sem a
cabeça. A volante que travaram combate era uma parcela da de João Bezerra,
comandada naquele momento pelo então cabo Aniceto Rodrigues que, com o membro
decapitado de Pontaria, viria a subir de patente para sargento, talvez levando
o "prêmio" para Piranhas/AL ou Pão de Açúcar/AL.
Neste dia,
Aristéia perdera o segundo amor de sua vida, Catingueira, pai de seu futuro
filho, o Catinguerinha, também morto por "motivo besta".
𝐅𝐎𝐍𝐓𝐄:
𝐌𝐨𝐫𝐞𝐧𝐨
𝐞
𝐃𝐮𝐫𝐯𝐢𝐧𝐡𝐚
- 𝐉𝐨𝐚̃𝐨
𝐝𝐞
𝐒𝐨𝐮𝐳𝐚
𝐋𝐢𝐦𝐚.
https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/?multi_permalinks=2614921265383468¬if_id=1734701679676198¬if_t=group_activity&ref=notif
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário