Por José Cícero
Além do seu já conhecido papel desempenhado no contexto da historiografia do coronelismo caririense a partir da 1ª metade do século passado, Maria da Soledade Landim - Marica Macedo do Tipi - 'a brava sertaneja d'Aurora'(foto), também se destacou por protagonizar uma série de causos dignos de nota; muitos deles às vezes pitorescos e outros até mesmo considerados jocosos e hilariantes. A exemplo do que aconteceu por volta do ano de 1912.
Como já se sabe no tempo de Marica nada acontecia na Aurora, principalmente na região do Tipi que não fosse do seu inteiro conhecimento. Dado que ela exercia de fato e com mão de ferro, fatia importante do mandonismo local. Além de conselheira familiar, latifundiária e dona de engenho, Marica também era por assim dizer dada a função de delegada, juiz e até tinha força de prefeita.
Vamos aos fatos:
Sempre à tardinha dona Marica, como muitos a chamavam, gostava de sentar na sua cadeira de balanço(preguiçosa) no alpendre da sua casa-grande que ficava( ante de mudar-se para o sítio Mel) no alto do antigo sítio Sabonete no riacho do Tipi. Um local estratégico de visão privilegiada da sua fazenda. De onde inclusive era possível observar a lida dos trabalhadores no eito do engenho, como ainda, todos os que transitavam pela estrada.
Portanto, foi num desses finais de tarde que a mesma foi surpreendida pelos acenos de um dos seus conhecidos e antigo morador daquela ribeira.
- Dona Marica, dona Marica! Gritou o tal senhor. - Queria ter um dedim de prosa com a senhora, completou.
-O que aconteceu homi de Deus, que vexame é esse? Desembucha, ela replicou.
- O que sucede dona Marica é que o fio de fulano de tal mexeu com minha mocinha. E ainda mandou me dizer num desaforo, ou seja, com licença da palavra, que num casaria nem amarrado pelos ovos.
- Calma seu fulano, disse ela. Tudo tem jeito. Só num tem jeito nem conserto é pra morte. -Venha, se aprochegue e me conte essa história direito.
O homem, com calma, narrou-lhe com detalhe o acontecimento.
Agora me diga, cadê o bolinador da sua fia? perguntou a matriarca.
- Dona Marica, corre o boato de que ele capou o gato. Desabou pra bandas de Cajazeiras e de lá pra Sum Palo.
- Ele é fio de quem? - de Sicrano, respondeu o reclamante. Marica ponderou fitando o horizonte como quem pensativa cochilava . Em seguida falou: - pois bem, vá pra sua casa, cuidar dos seus afazeres porque já é noitinha e amanhã cedo eu resolvo a situação. Fique tranquilo, disse.
Um tanto desolado o pai da moça desceu os batentes e pegou o caminho de volta pela estrada velha do Tipi de cima.
No dia seguinte, antes do sol raiar Marica mandou seu 'ajudante de ordem' ir buscar o pai do rapaz namorador para uma conversa na casa-grande.
Estava ela no meio do desjejum matinal quando o portador apareceu no terreiro com o convocado na garupa do cavalo.
Marica pediu que entrasse até a sala do café.
- Bom dia seu fulano, como está dona Sicrana sua esposa? perguntou.
- Tá bem dona Marica e com as graças de Deus e do espírito santo, o homem a respondeu, ainda que desconfiado em face daquele convite estranho e repentino.
- Seu fulano eu sei que vosmice tem muito o que fazer essa hora na roça. Por isso vou logo direto ao assunto. Prosseguiu a conselheira: - imagino que o sr. sabe mais do que eu de que o seu filho mexeu com a mocinha de seu Sicrano, seu vizinho de terra. Mas, nada demais que a namorada não tenha apreciado. Namoro escondido dar sempre nessas coisas, nem o diabo segura a bolinação daquilo que tá quieto, mas nunca escondido. Fogo e querosene não se misturam sem queimação. enfatizou.
- Então quero saber do sr. quando a gente pode marcar logo o casório. E como gosto do que é direito, eu até me ofereço pra ser madrinha do seu netim quando vir ao mundo.
- Ao que o pai do namorado logo a respondeu: - dona Marica, o danado é que o rapaz foi se embora ternontonte, dizendo que num tinha gosto nem idade pra casar. Por isso nada posso fazer pra atender seu pedido. O homem pensava que a questão estava ali resolvida. Marica nao se dera por satisfeita...
Nem bem respirou Marica com seu olhar fulminante, cingiu o couro da testa e respondeu de supetão. - seu fulano, se coloque no lugar do outro. A menina pode até não ser tão inocente, mas era moça. Era virgem. E como o sr. muito sabe, não quero desfeita na minha terra. Nem nada que desagrade o bom cristão, nem a madre igreja.
- Mas...o que se a fazer dona Marica, se meu rapaz foi embora pro oco do mundo?
Marica então o perguntou: - se espírito num me engano você tem outro filho, quase da mesma idade do malino fujão né mesmo? O pai positivou com a cabeça. -Pois bem, completou ele. -Aproveite a viagem e desça já pra rua e acerte com o padre Vicente na casa paroquial, o casamento para esse sábado. O noivo será o seu filho que está em casa. Tudo que fica em família fica bem feito pois é do agrado de Deus.
E assim enfatizou. Diga ao padre Vicente que é por minha conta, os testemunhos eu tb já escolhi. Essa é a solução que encontrei. Por enquanto, o assunto está encerrado seu menino! Tenha um bom dia.
- Sim senhora, dona Marica.
O pai do rapaz desceu pela estrada da Boa Vista e foi marcar com o padre o que Marica propôs.
Na manhã do sábado casaram-se os rebentos, após a santa missa. Marica deu um bode para o almoço. E o casal de noivos como dizem, foi próspero e feliz para todo o sempre. Foi assim que se deu. Mais uma história que ouvi contar.
https://www.facebook.com/voltaseca.seca
http://blogdomendesemendes.blogpsot.com

Nenhum comentário:
Postar um comentário