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segunda-feira, 20 de junho de 2011

17 anos sem Dadá

Por: Ana Lucia

A cangaceira Dadá

            Neste ano de 2011, em que as mulheres ocupam uma posição de destaque na esfera política, econômica e social, como também mulheres ativamente envolvidas na arte, na música, na cultura, nas ciências e em vários outros setores, não podemos esquecer o centenário de nascimento da Rainha do Cangaço; Maria Gomes de Oliveira; a Maria Bonita. Mulher corajosa, a frente do seu tempo, determinou a enfrentar uma vida nômade, bandoleira, tornando-se a primeira mulher a entrar no mundo do cangaço.

Neném do Ouro, Luiz Pedro e Maria Bonita
            
             A entrada da mulher no cangaço foi uma necessidade de afeto, de carinho e principalmente apoio e companheirismo diante de tantos atos criminosos praticados por seus companheiros neste sertão nordestino em que a própria sociedade como também por motivos diversos, contribuíram para que esses indivíduos se transformassem em cangaceiros ávidos por mudanças.
             Diante desse exposto e recapitulando um pouco de sua história, destacamos a figura de uma outra mulher extraordinária, valente, guerreira... e amável: Sérgia Ribeiro da Silva, a Dadá, mulher de Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco.

O cangaceiro Corisco

            Dadá, a Princesa do Cangaço, também chamada por Suçuarana justamente por sua valentia, tinha habilidades tanto no bordado e na costura como no manuseio de armas que, com muita precisão no atirar, foi à única mulher no cangaço a participar de forma ativa nas lutas e combates.
             Dadá era diferente. Foi uma mulher forte, destemida, que seguiu seu companheiro quebrando também paradigmas sociais de sua época. Nascida em Belém do São Francisco, Pernambuco, casou-se oficialmente com Corisco tendo com ele sete filhos, dos quais apenas três sobreviveram. Sobre sua convivência com as outras mulheres e os cangaceiros dentro do bando, ela afirmou em depoimento ao médico Estácio de Lima:

“[...] Era uma convivência maravilhosa, 
todo mundo tinha seu marido, uma amor danado, 
uma costurava, outra ajeitava um vestidinho, uma coisa. 
Uma vida bacana. Com Lampião, ali,
ninguém dava um nome, ninguém se enxeria com coisa
nenhuma. Agora, se ela saísse linha, o chumbo comia,
matavam, como aconteceu com Cristina de Português e Lidia.
Os cangaceiros eram muitos amorosos, tinham tanto carinho, 
eram capazes até de se esquecer das armas.”
           
          Em 1938 o cangaço se extinguiu com a morte de Lampião e de forma definitiva em 1940 com a morte de Corisco, que teimava em continuar para vingar a morte dos seus companheiros.
            Nesse relato, Dadá nos revela que, mesmo possuindo características marcantes como crueldade e hostilidade, por exemplo, os cangaceiros ao mesmo tempo mostravam-se capazes de demonstrar atos de doçura e amor por suas mulheres. Dadá lembra-se ainda que “quando não tinha tiro, tinha alegria, era tudo bom”.

Lampião

            Entretanto, cabe aqui ressaltar a bravura de Dadá, esta mulher que após uma vida cheia de sofrimentos, alegrias, amor e lutas, morreu pobre na periferia de Salvador em Fevereiro de 1994 aos 78 anos, portanto, são exatos dezessete anos que Dadá não está mais entre nós. Aposentou-se como costureira, casando-se pela segunda vez com um pintor de paredes e uma vida dedicada a família com simplicidade e humildade acima de tudo e por tudo que ela significou para a história, foi uma guerreira notável e admirada por todos que a conheciam. Dadá ainda foi homenageada por sua luta e representatividade feminina em Salvador por sua personalidade forte e grandiosa como mulher, mãe e pessoa dotada de espírito solidário.


             Homenagem justa, mas não podemos esquecer a importância desta figura feminina para a história social do Brasil que, no século XX, naquela época, eram tratadas para serem submissas aos maridos, sem valor, sem direitos e muito menos eram proibidas de subverterem contra qualquer injustiça tendo que se comportar de acordo com os padrões que regiam as convenções sociais, mas em pleno sertão rural nordestino, determinadas mulheres corajosas como Dadá, por exemplo, teve o denodo de enfrentar situações diversas e adversas por amor, cumplicidade e companheirismo participando ativamente do cangaço enquanto movimento popular, tornando-se um símbolo feminino contra a resistência política e social vigente. 
              São dezessete anos sem a nossa querida Dadá. Querida sim, pelos seus feitos, pela pessoa humana que foi, pela sua história de amor e dedicação que sobrepujou diante de todos por suas qualidades.

Ana Lucia Granja de Souza
Historiadora e pesquisadora

 Adendo Lampião Aceso


             Sérgia da Silva Chagas, a Dadá Morreu de câncer intestinal, dia sete de fevereiro de 1994, na capital baiana, precisamente no bairro de Mussurunga, sobrevivendo com uma pensão deixada pelo seu segundo marido. 
             Viveu 12 anos de aventuras e perigos no bando de Lampião. Raptada por Corisco, aos 13 anos, na cidade baiana de Glória, Dadá acabou se apaixonando pelo "diabo louro". Em pouco tempo ela se transformou juntamente com Maria Bonita, a mulher de Lampião, numa das líderes do bando e, entre suas tarefas, no dia-a-dia do cangaço, era a costureira do grupo. 

 Deixou 3 filhos e 32 netos.

O corpo é sepultado no cemitério Jardim da Saudade.
  
Fonte: Jornal A Tarde, BA


Foto de Maria do Carmo: Pag. 283 do livro "O mundo estranho dos cangaceiros" de Estácio de Lima.

Número da época

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