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domingo, 18 de setembro de 2011

Surpreendentes histórias de Lampião

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião,  compositor, cantor, cangaceiro, lá de  Vila Bela, atual Serra Talhada, no Estado de Pernambuco.  
Segundo Luís da Câmara Cascudo, Lampião, além de compor, era dançador, criador e divulgador do xaxado, além de cantador de emboladas e sambas (de acordo com pesquisas realizadas por
Frederico Bezerra Maciel).
Antes de Lampião, não havia música no cangaço. Não havia nem mesmo cangaço no sentido social, somente um ou outro grupo de cangaceiros. Lampião criou um estilo, uma modalidade de música popular sertanejo-nordestina, uma linguagem que chegava a todos naturalmente. Era um lírico que se deslumbrava na contemplação dos cenários da natureza, de uma flor, de um regato, do cheiro da terra molhada, do gotejar de uma bica; as coisas mais simples e puras da natureza, do canto dolente do aboio. Compunha, era poeta. Criador do xaxado, traduzindo o ruído, rangente ou xaxante, peculiar da pisada das 'apragatas' no chão seco, pedregulhento e de poeira quente dos caminhos do sertão. Sua criação máxima foi o baião 'Mulher rendeira', que se tornou no hino de guerra do sertão.  Em 13 de junho de 1927 atacou a cidade de Mossoró, RN, com mais de 50 cangaceiros, em pleno dia, cantando 'Mulher rendeira',  inspirada no aniversário natalício de sua avó materna,



d. Maria Jacosa Vieira Lopes, 'Tia Jacosa', a 15 de setembro de 1921, com o objetivo de homenagear a aniversariante, de profissão 'rendeira'. O período de elaboração é de setembro de 1921 a fevereiro de 1922, tempo entre a deliberação e a apresentação, na fazenda Poço do Negro, município de Floresta, Pernambuco, em 22 de fevereiro de 1922. A natureza musical da obra, o ritmo, é toada-baião. Apresentada por grandes artistas, corais e conjuntos, dominou todas as classes sociais; incluída no filme 'O cangaceiro', e interpretada por 
 
Alfredo Ricardo do Nascimento, o Zé do Norte.
Teve como intérpretes renomados musicistas, destacando-se, entre eles,
Michel Legrand e Pierre Dorsey.
Lampião não conhecia teoria musical; não sabia escrever música. Disse Ventania, um dos cangaceiros do grupo de Lampião: 'Ele inventava a musga com as palavras e adespois ensinava a nóis até todo mundo aprender.' Diz o major Optato Queirós: 'No começo da vida revelou-se Virgulino Ferreira um gênio em tudo que pretendeu realizar. Foi ótimo seleiro, currieiro (organizador do curral), agricultor, comerciante, tocador de sanfona, domador de cavalo, afamado vaqueiro, domador de burros bravos de Vila Bela, poeta, almocreve (condutor de bestas de carga), músico, artista, bom tino político e, por último, bom parteiro e enfermeiro.' Lampião tocou raríssimas vezes instrumentos de sopro, como o 'pife' (pífano ou pífaro) e o 'vialejo' (realejo ou gaita de boca). Fez algumas tentativas com a rebeca. Seus instrumentos favoritos eram a harmônica (sanfona de oito baixos) e a viola. De vez em quando tocava violão, pandeiro, ganzá, maraca, triângulo e o reco-reco. Era grande festeiro e usava o recurso psicológico da alegria e da arte, da música e da dança para dominar seu grupo de cangaceiros. Nunca compôs nenhuma música para comercializá-la. Ensinou o xaxado e nos bailes dançava a valsa, marcha, polca, baião, samba-do-sertão, quadrilha (nas festas juninas), mas o que ele mais gostava era do coco-do-sertão, oportunidade em que se soltava no improviso dos repentes e em loas de todas a sorte. Além de 'Mulher rendeira' ('Mulé rendera' na linguagem local), compôs ainda as seguintes músicas: 'Teus lábios', 1915 (hoje perdida), 'Vaqueiro eu sou', 1916 (perdida), 'Escuta donzela', baião, agosto de 1922, 'Ia pra missa', xote, 1923, 'Sabino e Lampião', xaxado, 1924, 'Sangue e justiça', 1925 (perdida), 'É lamp, é Lampião' (chamado de 'O toque de Lampião', considerado o segundo hino de guerra do grupo), 1926, 'Eu não pensei tão criança', baião, 1927, 'Acorda Maria Bonita', toada, 1930, 'Se eu soubesse', toada, 'A laranjeira', baião, 1930.

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