Literatura de Cordel - Os folhetos que contam o Nordeste
Ademar Lopes Jr.
Neste artigo, o jornalista Ademar Lopes Jr. desvenda alguns segredos destes folhetos que retratam o Nordeste: suas origens, sua história e seus autores.
Inspirada na literatura francesa de colportage, nos romances e pliegos sueltos ibéricos e na própria literatura de cordel portuguesa, a nossa Literatura de Folhetos (ou de Cordel) nasceu e desenvolveu-se no nordeste brasileiro, contando as sagas e a sabedoria do povo sertanejo. Atualmente, esta manifestação popular pode ser encontrada em diversos pontos do país, sempre incentivada pelas comunidades nordestinas.
Os folhetos, confeccionados em sua maioria no tamanho 15 a 17cm x 11cm e, em geral, impressos em papel de baixa qualidade, tinham suas capas ilustradas com xilogravuras na década de 20, em substituição às vinhetas. Já nos anos 30 e 50, surgiam as capas com fotos de estrelas de cinema americano. Atualmente ainda mantêm o mesmo formato, embora possam ser encontrados outros maiores. Quanto à impressão, substituindo a tipografia do passado, hoje são usadas as fotocópias.
Os temas da Literatura de Cordel há muito são estudados por folcloristas, sociólogos e antropólogos, que chegam a apresentar conclusões polêmicas e algumas vezes contraditórias quanto à sua classificação. Detalhes à parte quanto às várias propostas, os folhetos se dividem entre os de assuntos descritivos e os narrativos. É no primeiro grupo que estão incluídos os folhetos de conselho, eras, corrupção, profecias e de discussão, que guardam um certo parentesco entre si por encerrarem uma mensagem moralista, freqüentemente ligada a uma ética e a uma sabedoria sertanejas.
Nessa área, multiplicam-se as histórias que trazem como pano de fundo a vida dura do campo, cheia de sofrimentos, mas alheia aos desmantelos do mundo moderno e urbano. Também se encaixam nos folhetos descritivos as pelejas entre cantadores e poetas, as personalidades da cidade e da política (muitas vezes encomendados pelos próprios políticos em época de eleições), os temas de louvação ou crítica, os religiosos cantando preceitos e virtudes católicos, as biografias ou milagres dos santos e de figuras como Padre Cícero e Frei Damião. Há ainda os de gracejos, de acontecimentos reais ou imaginários, de bravura e valentia como os feitos de Lampião, Antônio Silvino, Pedro Malazarte, entre outros.
As características gráficas e temáticas dos folhetos podem variar de acordo com o deslocamento da área de atuação do poeta que, muitas vezes, se depara com um público de concepções e comportamento diferentes aos do matuto nordestino. Exemplo disso é o cordelista Raimundo Santa Helena, tema de mestrado na UFRJ e um dos expoentes hoje da Literatura de Cordel. Paraibano radicado no Rio de Janeiro, Santa Helena mantém, em sua produção literária, o ideário e sensibilidade das composições poéticas dos folhetos nordestinos, e empenha-se, principalmente, em derrubar o mito de Virgulino Ferreira, o Lampião, que teria assassinado seu pai e violentado sua mãe em 1927.
Fonte: Dicionário Literário Paraibano.
Ademar Lopes Jr. é jornalista e poeta, autor de Espelho, 1986; Aisthêses, 1988 e Memórias de Nosso Cantinho, 1990.
LEIA MAIS EM:
www.blogdaaurorajc.blogspot.com
www.seculteaurora.blogspot.com
Extraído do blog do José Cícero
Nenhum comentário:
Postar um comentário