Autor: Archimedes Marques
Agradecendo ao comandante Manoel Severo Gurgel Barbosa por ter sido eu também um dos privilegiados a vivenciar este grandioso evento, desejo todo o sucesso possível para os próximos CARIRIS CANGAÇO que por certo ocorrerão por muitos anos.
Quando Manoel Severo, idealizador e curador do Cariri Cangaço me convidou para participar dessa edição do Seminário Cariri Cangaço "Da Insurreição a Sedição" de 20 a 25 de setembro/2011, até relutei de início em não aceitar o convite, primeiro porque eu não me achava preparado por não ser um estudioso do tema, como de fato ainda não sou, apesar de já ter lido mais de três dezenas de livros e ter realizado muitas pesquisas, além de ter publicado centenas de artigos de autores diversos no CANGAÇO EM FOCO, site que tanto me dá prazer e alegria, segundo porque me considero apenas um mero estudante desse tema que tanto me empolga quanto me intriga devido a sua diversidade, misteriosidade e controvérsias, principalmente entre as opiniões de alguns escritores, terceiro porque eu sabia perfeitamente que nesse evento eu encontraria o sumo, a nata, o néctar dos estudiosos, pesquisadores, escritores, historiadores, colecionadores. Assim, apesar de ser um estudante, um curioso e de certa forma um amante inicial do tema cangaço, vez que desde criança, quando ouvia as histórias pertinentes, em especial as histórias de Lampião, de tudo me empolgava e, quando da minha vida adulta, da minha vida profissional, da minha vida policial, da minha vida de delegado de polícia há mais de 25 anos de atuação no Estado de Sergipe, não me deixaram melhor me aprofundar no assunto, o que vem acontecendo agora, gradativamente, por conta principalmente do intercambio ocorrido por conta do meu blog e pelo fato de eu já estar próximo da minha aposentadoria e com mais tempo.
Na minha infância fui ouvinte assíduo e atento das tantas histórias lampiônicas, principalmente as contadas pelo meu querido amigo piranhense
Inácio de Loiola Damasceno Freitas, que desde aquele tempo já demonstrava ser um excelente orador e contador de casos e "causos", apesar dos seus 13 ou 14 anos de idade. Inácio e Washington foram e continuam sendo os meus amigos de fé, meus irmãos camaradas. Nas décadas 70 e 80, aqui em Aracaju, praticamos muitas estripulias juntos, fruto de um tempo que não volta jamais e próprias da juventude avançada para a época, uma época que só deixa saudades.
De volta ao Cariri Cangaço, mais de perto ao convite de Severo, ponderei e terminei por aceitar. Depois de romper quase 700 Km, cheguei ao Crato junto com a minha adorável e amada esposa Elane Marques e do amigo
Alcino Alves da Costa, o decano caipira de Poço Redondo, entretanto, o que vi daí para frente superou todas as minhas expectativas. Esperava eu por um evento de grandeza, mas não com tanta magnitude, com raras ressalvas. Desde o dia da abertura até o dia do encerramento as várias cidades do Cariri cearense que se somaram a ideia de Severo, mostraram grande eficiência e de certo modo até disputaram por melhores receptividades à grande família do Cariri Cangaço, provando assim a alegria e bondade do povo do Ceará para com os seus visitantes. Dias inesquecíveis foram esses que por certo ficarão para sempre na minha memória. Foram palestras e debates de grandeza, partindo de pessoas realmente entendidas no assunto cangaço e adjacências que me deixaram mais enriquecido nesse tema que a cada dia mais me apaixona. De tudo aprendi um pouco com cada um dos participantes, pois a vida é um eterno aprendizado e nada melhor do que aprender com bons professores.
Contudo, notei que no âmago das discussões há uma certa rivalidade, uma certa competição entre alguns membros, no meu ver desnecessária e descabida, vez que ninguém é o dono da verdade no assunto cangaço, o cangaço não é e jamais será uma "ciência" exata, ainda mais quando de tudo se mostram que a cada livro, a cada texto, a cada opinião, de uma maneira ou de outra, existem certas verdades ou pelo menos fatos descritos que se aproximam delas que se contradizem com outras do mesmo gênero, ademais, a história oral, os testemunhos pessoais são passíveis de erros, de exageros, de enaltecimentos próprios ou interesses diversos.
No âmbito judicial alguns juristas até consideram as provas testemunhais como sendo as "prostitutas das provas" devido a fatores diversos que distorcem as verdades. Com saber se os depoimentos prestados pelos sobreviventes da época do cangaço são depoimentos reais daquilo que realmente ocorreu?... As declarações prestadas por determinados cangaceiros, coiteiros, volantes e demais pessoas que vivenciaram o cangaço a certos escritores são mais importantes e verdadeiras do que as outras prestadas a outros escritores e historiadores?... Quem vive no mundo das investigações e em busca de auxiliar a Justiça, como é o meu caso é quem mais sabe que um cidadão hoje dá uma versão para determinado crime, sobre determinado fato e amanhã da outra narrativa, outra história é contada e quando o Inquérito policial chega à Justiça ele até muda o seu depoimento, por vezes dois ou três depoimentos diferentes.
Como saber qual o verdadeiro depoimento?... Como saber quais as declarações prestadas aos escritores e historiadores do cangaço são as verdadeiras?... É evidente que todas essas indagações podem ser buscadas e melhor pesquisadas pelos estudiosos do assunto, mas nunca sob a alegação de determinado escritor em querer a tudo sobrepor para ser o dono da verdade em detrimento da verdade do outro que então passa a ser uma verdade duvidosa, mascarada e até mesmo uma "verdade-mentirosa". É evidente que as aberrações e invencionices descabidas de certos autores que só visam o comercio devem ser veementemente combatidas para o próprio bem da história do cangaço, mas não discussões que a nada levam.
Quanto a questão da verdadeira "maratona" para os participantes existente na programação do Cariri Cangaço, fruto da minha única reclamação com o comandante Severo, tenho certeza que a partir do próximo evento, principalmente agora que foi criado o Conselho e todos os conselheiros já tomaram posse, assim espero que será revista para melhor. Tenho plena certeza que os nobres conselheiros em comum acordo com o curador Severo hão de encontrar um meio termo para tornar o evento menos cansativo, mais proveitoso e de todo elogiado como seminário de primeira grandeza, ultrapassando a magnitude que de fato foi o Cariri Cangaço 2011.
Entrando na seara das palestras e das falas dos membros, sem desmerecer os demais participantes que tiveram todos as suas reais importâncias no contexto geral do seminário, quero destacar as palavras técnicas do
Ivanildo Silveira na sua conferência O CANGAÇO EM IMAGENS, as excelentes e irreverentes interferências do
Paulo Gastão
e Antonio Villela, as serenidades de Alcino Alves da Costa
e João de Sousa Lima,
as boas explicações de Jose Cícero e Bosco André na conferência AURORA "A TRAMA DE IPUEIRAS E A INVASÃO DE MOSSORÓ, ao trabalho efetuado
Ângelo Osmiro e Luiz de Cazuza
por Ângelo Osmiro com o tema A LITERATURA NA ÉPOCA DO CANGAÇO, a conferência em palavras fáceis de Inácio de Loyola e em especial o trabalho cinematográfico ainda em construção, mas apresentado o seu primeiro capítulo da minisérie SEDIÇÃO DE JUAZEIRO,
Aderbal Nogueira e Jonas Luiz
de Jonasluis de Icapuí.
Agradecendo ao comandante Manoel Severo Gurgel Barbosa por ter sido eu também um dos privilegiados a vivenciar este grandioso evento, desejo todo o sucesso possível para os próximos CARIRIS CANGAÇO que por certo ocorrerão por muitos anos.
Aracaju, 26 de setembro de 2011
Archimedes Marques archimedes-marques@bol.com.br (Participante com muito orgulho do Cariri Cangaço 2011)
Autor: Archimedes Marques
Extraído do blog: " Cangaço em Foco"
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