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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Lampião e o faroeste Brasileiro

Por: Claudio Pucci
Site da revista O Grito

Não vi no UOL, nem no Terra, nem na Época, mas hoje é o aniversário de 70 anos da morte de Virgulino Ferreira, o Lampião. Figura controversa e mítica, Lampião mistura todas as qualidades e defeitos do bandido heróico, do considerado Robin Hood brasileiro pela revista Time de 1931, com uma pitada de lenda de faroeste americano. Muitos o acham um herói, outros um socialista, mas parece que a realidade não é bem assim. Lampião era bandido mesmo. Ganhava dinheiro, armas e abrigo dos "coronéis", justamente para realizar serviços contra os inimigos políticos destes. E, nessas andanças, massacrava o povão. Matava e saqueava a plebe que passou a lhe louvar.
Apesar de oficialmente afirmar que entrou para o cangaço para vingar a morte do pai, Lampião e seus irmãos já praticavam pequenos crimes antes do ocorrido. Integrou o bando de Sebastião Pereira (o Sinhô) e em pouco tempo já liderava a gangue.

Lampião era vaidoso e orgulhoso do que fazia. Usava perfume francês, tinha cartão de visita (com sua foto, inclusive) e em uma entrevista dada em Juazeiro do Norte mostrou sua verve mais, digamos, hipócrita:

- Não pretende abandonar a profissão?
(A esta pergunta Lampião respondeu com outra)
- Se o senhor estiver em um negócio, e for se dando bem com ele, pensará porventura em abandoná-lo? Pois é exatamente o meu caso. Porque vou me dando bem com este "negócio", ainda não pensei em abandoná-lo.

- Em todo o caso, espera passar a vida toda neste "negócio"?- Não sei... talvez... preciso porém "trabalhar" ainda uns três anos. Tenho alguns "amigos" que quero visitá-los, o que ainda não fiz, esperando uma oportunidade.

- Não se comove a extorquir dinheiro e a "variar" propriedades alheias?- Oh! mas eu nunca fiz isto. Quando preciso de algum dinheiro, mando pedir "amigavelmente" a alguns camaradas.
(Fonte: site de Vera Fereira, neta de Lampião:
http://iaracaju.infonet.com.br/LAMPIAO/index.htm)

Segundo site Brasil, Mitos e Lendas de Rosane Volpato (http://www.rosanevolpatto.trd.br/LENDALAMPIAO.html),
o líder e seu bando vagaram por 7 estados nordestinos. Lampião era cruel o bastante para, pessoalmente, arrancar olhos ou cortar línguas e orelhas. E mais, se encontrasse moçoilas com cabelos ou vestidos muito curtos, mandava que lhe marcassem o rosto a ferro quente. Em Bonito de Santa Fé, em 1923, ele deu início ao estupro coletivo da mulher do delegado. Vinte e cinco homens participaram da violação.
O Nordeste brasileiro daquela época não era muito diferente do que é hoje, com famílias mandando em regiões inteiras, guerras territoriais, assassinos de aluguel sendo contratados, desprezo do governo federal (Getúlio só se mexeu para acabar com o cangaço depois de MUITA pressão dos políticos nordestinos) e o povo, além de viver em uma carestia tremenda, era o recheio de um sanduíche indigesto: de um lado os apertavam a polícia (os volantes) e do outro os bandidos do cangaço. Se não apanhavam de um, eram espancados pelo outro.

Não quero entrar em julgamento de valor. Acho que a figura de Lampião é importantíssima para nossa história. Ele é uma espécie de Jesse James ou Billy the Kid, versão tupiniquim. Isso porque os outros dois também eram assassinos cruéis, procurados e também considerados anti-establishment. Billy the Kid, nas palavras de seu amigo e assassino, Pat Garret, era um rapaz que "comia e sorria, transava e sorria, matava e sorria". E, mesmo assim, é louvado até hoje. É preciso porém que seja feita uma análise menos romanceada do importante nordestino. O fato de estar aliado aos coronéis já depõe contra ele. O próprio Padim Cícero era, e isso é sabido, um político matreiro e carismático. E nem por isso deixou de virar lenda, beatificado e tudo mais.

Voltando à vaca fria, há 70 anos, numa emboscada em Angico (em Sergipe), graças a uma delação, Lampião, Maria Bonita e mais 11 cangaceiros foram massacrados pelas tropas do "macacos" do Tenente João Bezerra. O líder dos bandidos foi o primeiro a tombar. Suas cabeças foram cortadas e mostradas nas escadarias da prefeitura da cidade de Piranhas em Alagoas, sendo sepultadas somente em 1969. Uma versão do ocorrido explora que, na realidade, o delator os envenenou primeiro (urubus mortos em volta dos corpos corroborariam a hipótese). Daí a facilidade da captura. Nunca ninguém vai saber da verdade.

Acontece que, se a lenda é maior que a realidade, publica-se a lenda. E se é assim, longa vida a Lampião, o rei do cangaço. Longa vida a Maria Bonita e a Corisco. Longa vida ao legítimo faroeste brasileiro.

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