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sábado, 26 de novembro de 2011

OS MONXORÓS

Por: Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Antes da chegada do colonizador, a terra já era ocupada. Mas na passagem devastadora dos povoadores dos sertões, os primitivos habitantes foram sendo escravizados, massacrados e expulsos de suas terras e nelas os povoadores fincaram os mourões das porteiras dos currais de gado. Já não havia mais lugar para os nativos. E quem eram esses nativos? Eram os Mouxorós, Monxorós ou Mossorós, da tribo carirí, que habitaram a região até quase metade do século XVIII, o século do povoamento mossoroense. 
 
 Segundo alguns historiadores, como é o caso de J.C.R. Milliet de Saint-Adolphe, autor do “Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil” , foi dessa tribo que veio o nome do rio. E do rio o nome da Cidade. Explica o mesmo, quando se refere ao rio Apodi: “Dá-se d’ordinário o nome de Mossoró a sua embocadura, por causa da vizinhança das salinas, e d’uma aldeia desse nome”. Existia, portanto, uma aldeia indígena denominada Mossoró, Mouxorós ou Monxorós, e habitada pelos indígenas deste nome. 
Sobre essa tribo, pouco sabemos. Nas histórias oficiais do Rio Grande do Norte, quase nada encontramos. Apenas Câmara Cascudo se ocupa do assunto. Segundo ele, “os Mouxorós ou Monxorós (Mossorós), cariris, vagavam pelas margens do atual Mossoró em seu derradeiro trecho e também Upanema. Com os Pégas se uniram e com eles mataram muito gado, provocando correria repressiva dos curraleiros de Campo Grande (Augusto Severo) contra eles. Habitaram depois a serra dos Dormentes (Portalegre), outrora de Manoel Nogueira Ferreira, situador valente”. 
Informa ainda Cascudo que “ Carlos Vital Borromeu e seu irmão Clemente Gomes d’Amorim, em 1740, ajudados pelos Paiacús, desalojaram os Pégas e Mossorós dos aldeamentos serranos. Passaram então a viver na serra da Cipilhada, posteriormente denominada Serra de João do Vale”. Nonato Mota, em “Notas Históricas”, Comércio de Mossoró, 12 de julho de 1914”, completa a história informando que “os Pégas e Mossorós foram transferidos para a aldeia de Mopibu ou Mipibu, onde se dissolveram etnicamente”, esparsos e fracos ante a tentação do álcool, levando uma vida totalmente diferente da que estavam acostumados, sendo obrigados a trabalhar, plantando e colhendo, tarefa que a tribo confiava às mulheres, descaracterizando as funções da tribo. 
Não se sabe de onde vieram os Mossorós. Se vieram do Ceará, pelo Jaguaribe ou pelo planalto para o Apodi. Sabe-se, no entanto, que eram fortes, ágeis, indômitos, atrevidos, incansáveis. Eram bons caçadores e achavam no gado trazido pelos colonizadores, alvos fáceis para as suas flechas. Da caça abatida tiravam a carne que era comida assada ou chamuscada. Dormiam no chão nu, ignorando e depois quase desprezando a rede de algodão dos tupis, tendo a esteira como requinte para os fracos, segundo informação de Cascudo. Corriam dias inteiros, lépidos, gritando, rindo, cantando.
As mulheres eram oleiras. Não tão hábeis como às cunhãs tupis, mas faziam os utensílios que necessitavam; plantavam e colhiam. Os homens iam à caça, com armas de arremesso, a pesca, a colheitas de frutos e mel de abelha. Não tinham reservas nem celeiros. Faziam vinho de raízes e frutos, fermentando-os, apressados pela salivação. Sob o efeito do vinho, dançavam, em rodas, erguendo os braços, festejando a Lua Nova num bailado que durava a noite toda. 
Não podiam ser civilizados. Só podiam existir como tinham sempre vivido, livres, vivendo da caça e da pesca, dançando, gritando aos ventos o sabor da liberdade. Quando foram pacificados, não se habituaram a paz da disciplina dos brancos. Sem liberdade, não resistiram; morreram todos. 
E assim passaram os Mossorós, deixando para a terra que um dia lhe pertenceu o legado do nome e do amor pela liberdade. Essa liberdade, que emana da terra, tem sido o brado forte e retumbante do povo mossoroense.
Geraldo Maia do Nascimento
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